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Videocast: "Os imigrantes são fundamentais para Portugal", diz Andréa Zamorano
Empresária, que atua na gastronomia e na cultura, fala das dificuldades de conciliar o trabalho com a vida doméstica
A trajetória da empresária e mulher de cultura Andréa Zamorano em Portugal começou há 16 anos, quando abriu o Café do Rio, na Baixa de Lisboa. “Foi a primeira hamburgueria gourmet de Portugal. Naquela altura, os hambúrgueres ainda estavam conotados como uma coisa fast food, trash, menos boa, que não eram saudáveis. E nós viemos com uma nova proposta, que era um hambúrguer sem pão”, conta.
Carioca, mas que viveu quase metade de sua vida em Lisboa, Andrea até trouxe um termo para o português de Portugal: hamburgueria. “Na época, chamavam de casas de hambúrgueres. Nós cravamos esse nome. Depois, vieram centenas de hamburguerias”, diz.Autora de livros publicados em Portugal e no Brasil, entre eles, A Casa das Rosas, Andréa tem uma coluna mensal na Revista Blimunda, da Fundação José Saramago. Mas essa veia artística não se restringe à literatura. Ela manteve, por anos, o Samambaia, refúgio da música de qualidade, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus.
Foi um bar que teve muito sucesso e que marcou uma nova era, tornando-se um lugar de referência para a cultura brasileira em Lisboa. Muita gente legal passou por lá, artistas novos, que estão despontando no Brasil, como Felipe Cato e Letrux, e artistas consagrados, como Danilo Caymmi, Ben Gil, Moreno Veloso”, detalha a empresária. O Samambaia foi vendido e ganhou um novo conceito.
Dificuldades
Nesse período em Portugal, Andréa enfrentou todas as dificuldades que a maioria das empresárias encara: administrar os negócios e ser mulher. “Acho que ser mulher e empresária é difícil em qualquer lugar do mundo, não é uma particularidade de Portugal. Continuamos a ser mulher, continuamos a ter casa para gerir, continuamos a ter filhos para educar e a contar com as estruturas que a sociedade, que os países nos oferecem”, diz.
Sobre o desejo de empresários brasileiros se instalarem em Portugal, ela afirma que, antes de atravessarem o Atlântico, se inteirem de tudo, das leis, do perfil dos consumidores, da estrutura de mercado. “Creio que o que tem de mais diferente em relação ao Brasil talvez sejam as leis trabalhistas. São extremamente protecionistas, o que é bom por um lado e ruim de outro, porque, ao mesmo tempo em que protege o funcionário, o que é muito importante nessa economia de hoje, em que há uma precariedade cada vez maior, dificulta a competitividade das empresas”, observa.
Andréa ressalta, ainda, a dificuldade em contratar mão de obra, apesar das taxas de desemprego acima de 6%. Isso tanto para pessoal qualificado quanto para aqueles menos preparados. Por isso, destaca ela, é fundamental a presença de imigrantes em Portugal, que vêm agregando valor, sobretudo, os brasileiros, que são 80% dos trabalhadores estrangeiros que atuam no turismo.
“Vemos, hoje, um movimento, sobretudo da extrema-direita, contra a presença de imigrantes em Portugal. Pelos dados divulgados recentemente, os imigrantes contribuíram com quase 2,7 bilhões de euros(2,7 mil milhões de euros ou R$ 16,2 bilhões) para a Segurança Social de Portugal em 2023, e os brasileiros, sozinhos, mais de 1 bilhão de euros (1 mil milhões de euros ou R$ 6 bilhões). É muito dinheiro. Acredito que esse discurso anti-imigração é uma construção da extrema-direita que, infelizmente, tem contaminado a sociedade no seu geral”, conclui.