Vive e Deixa Andar é tão pobre, tão canhestro, que dá pena

Sai-se desta comédia portuguesa, com Eduardo Madeira, de coração apertado, como nos maiores melodramas.

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O filme Vive e Deixa Andar, de Miguel Cadilhe, estreia-se esta quinta-feira nas salas de cinema
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O filme Vive e Deixa Andar, de Miguel Cadilhe, estreia-se esta quinta-feira nas salas de cinema
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A tragédia da comédia portuguesa começa a ter foros de melodrama, daqueles realmente comoventes.

Eis um filme que, ao contrário das incontáveis tentativas dos últimos anos, denota vontade de elevar a fasquia: tem um mínimo de sentido de estrutura, e tem vontade de ir ao encontro das melhores referências (“uma homenagem a Peter Sellers”, lê-se no genérico, mistura de dedicatória com subtítulo), de ir além do tradicional humor da graçola e do aparte para pisar os terrenos da comédia física, ter uma memória do slapstick, ter uma memória do burlesco. Mas a execução é tão pobre, tão canhestra, que dá pena, e dizemo-lo sinceramente, dá mesmo pena, saímos da projecção tão tristes como se o verdadeiro filme de Vive e Deixa Andar fosse um melodrama escondido, o melodrama da sua inabilidade.

Não é de agora, apesar da torrente de mediocridades em que tem entrado (de que é, obviamente, cúmplice), que dizemos que há algo de interessante na figura de Eduardo Madeira (algo que começa no físico, passa por uma espécie de lentidão e de permanente desajuste face ao timing, e acaba na “aura” que mistura o fanfarrão e o desajeitado), à espera de quem saiba pegar nisso.

Aqui, emprestam-lhe um modelo, Peter Sellers, e a melhor ideia do filme é mesmo o modo como copia despudoradamente um punhado de gags vindos das Panteras Cor-de-Rosa ou da Festa (no coração do filme, Madeira numa vivenda moderna cheia de gadgets, pressente-se uma versão desértica desse filme, a mais genial comédia americana pós-clássica).

Aleluia!, a gente até exclama, finalmente começaram a copiar os melhores, a olhar para as estrelas, como diria Oscar Wilde. Mas é balão que esvazia cedo: a questão não é se Eduardo Madeira pode ser um mini-Peter Sellers à escala lusitana, a questão é que não tem, em Miguel Cadilhe, nenhum Blake Edwards, nem mesmo um mini-Blake Edwards. E depois de 15 minutos até as cópias ficam esquecidas, entra-se na modorra do gracejo, do trocadilho, do humor de innuendo, num deserto, de facto, onde não há Festa nem festa nenhuma (nem sequer a paródia ao 007 que o título anuncia e que depois se resume a dois ou três momentos incipientes), e em que, para além da autodestruição central, se vão acumulando os danos colaterais (Joana Pais de Brito, outra potencialmente óptima actriz cómica portuguesa, sempre desaproveitada). Sai-se de coração apertado, como nos maiores melodramas.

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