Ataque de Israel faz mais de 90 mortes no norte de Gaza

Desde a nova investida de Israel no Norte de Gaza, já morreram mais de mil pessoas. Médicos Sem Fronteiras denunciam ataques de Israel contra elementos da ONG.

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Palestinianos em Beit Lahiya Stringer / REUTERS
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Um ataque israelita a um edifício residencial na cidade de Beit Lahiya, no Norte de Gaza, fez ontem mais de 90 mortos, informou a Defesa Civil de Gaza. Há ainda a registar, segundo a Reuters, pelo menos 150 feridos e 17 desaparecidos. De acordo com as autoridades de saúde, há pelo menos 20 crianças entre as vítimas mortais.

O Hospital Al-Awda, uma instalação na parte norte da Faixa de Gaza, ainda de alguma forma operacional depois de sucessivos ataques por parte das Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em Inglês), ainda oferecia cuidados médicos, mas agora não tem capacidade para acolher o elevado número de feridos, explica a Al-Jazeera. O jornal britânico The Guardian detalha mesmo que, neste momento, o hospital tem apenas dois pediatras e nenhum cirurgião.

Hussam Abu Safia, director do hospital vizinho de Kamal Adwan, onde vários médicos foram detidos durante uma rusga de militares israelitas na semana passada, disse que dezenas de feridos tinham chegado às instalações sobrecarregadas. O médico pediu mesmo, segundo escreve o jornal The Guardian, para que os médicos que deixaram as instalações do hospital depois dos alertas de Israel para que as instalações fossem evacuadas regressassem. “Não resta nada no Hospital Kamal Adwan, excepto materiais de primeiros socorros”, disse Safia numa mensagem de voz enviada aos jornalistas na terça-feira. “O sistema de saúde entrou em colapso total. As pessoas que chegam feridas estão a morrer porque não há cuidados para elas", descreve.

"Monte de escombros"

“Há dezenas de mártires (mortos) – dezenas de pessoas deslocadas que viviam nesta casa. A casa foi bombardeada sem aviso prévio. Como podem ver, há mártires aqui e ali, com pedaços de corpos pendurados nas paredes”, disse Ismail Ouaida, uma testemunha ocular que estava a ajudar a recuperar corpos, no vídeo. Segundo as autoridades de saúde locais, o edifício atingido nesta terça-feira pelas IDF abrigava 150 pessoas. Tratava-se, segundo escreve Hani Mahmoud, correspondente da Al-Jazeera na Faixa de Gaza, de um edifício de cinco andares que foi "simplesmente pulverizado" pela intensidade da explosão e que se "transformou num monte de escombros". Imagens de vídeo obtidas pela Reuters mostram vários corpos embrulhados em cobertores no chão, no exterior de um edifício de cinco andares bombardeado. Mais corpos e sobreviventes estavam a ser retirados dos escombros, enquanto os vizinhos se apressavam a ajudar no resgate.

A zona norte de Gaza tem sido um alvo frequente das IDF desde início de Outubro, com violentos ataques que, segundo as autoridades israelitas, visam operacionais do Hamas que se reagruparam na região. De acordo com dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, as novas operações militares já fizeram mais de mil mortos. Ainda não é conhecida qualquer reacção por parte das IDF ao ataque desta terça-feira.

Na segunda-feira, o Serviço Civil de Emergência da Palestina disse que cerca de 100 mil pessoas continuavam retidas no Norte de Gaza sem acesso a alimentos. As próprias Nações Unidas já tinham alertado para a situação alarmante que se vive no enclave palestiniano. “Toda a população do Norte de Gaza está em risco de morrer”, declarou Joyce Msuya, a subsecretária-geral para questões humanitárias da ONU, no fim-de-semana. “Abrigos foram esvaziados e queimados. Socorristas foram impedidos de salvar pessoas que estavam nos escombros. Famílias foram separadas e homens e rapazes foram levados em camiões cheios”, descreveu.

Médicos sem Fronteiras denunciam mortes em Gaza

Num comunicado enviado às redacções também nesta terça-feira, a Médicos sem Fronteiras (MSF) acusam Israel de ser responsável pela morte de um dos seus funcionários, Hasan Suboh, durante um ataque na semana passada, na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. De acordo com a MSF, o homem de 41 anos, que trabalhava para a organização desde Abril de 2019, estava na casa de familiares no momento em que as IDF atingiram várias habitações, tendo matado 38 pessoas, incluindo 14 crianças.

O ataque, ainda segundo a MSF, acontece apenas duas semanas depois da morte de um outro funcionário da ONG, Nasser Hamdi Abdelatif Al Shalfouh, ferido pelas IDF em Jabalia no norte da Faixa de Gaza. Desde o início da guerra em Gaza, a MSF já perdeu oito trabalhadores.

"Denunciamos estes assassinatos com a maior veemência possível e estamos revoltados com o facto de, em mais de um ano de guerra, Israel ter agido com total impunidade. Os repetidos ataques directos de Israel, que não distinguem entre objectivos militares e civis, devem ser investigados de forma independente", pode ler-se em comunicado. "Israel, o Governo dos EUA e os restantes aliados de Israel ignoraram a protecção dos trabalhadores do sector da saúde e rasgaram as regras da guerra", refere ainda a MSF.

* Texto actualizado com número de mortos citando a Defesa Civil de Gaza

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