Norte de Gaza: “Esperamos morrer a qualquer momento”

Ataque israelita ao Hospital Kamal Adwan termina, ficaram apenas dois médicos no local, com 145 doentes.

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Homem na zona perto do Hospital Kamal Adwan, no Norte da Faixa de Gaza Stringer / REUTERS
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As Nações Unidas fizeram mais uma série de avisos sobre a situação no Norte da Faixa de Gaza, onde o Exército israelita está a levar a cabo uma operação militar que incluiu deslocações, detenções e um cerco, seguindo de uma intervenção militar no único hospital que estava a funcionar a norte da Cidade de Gaza.

“Ninguém saiu daqui nos últimos dois dias”, disse o jornalista Yehya el Madhoun, do canal Al-Kofiya, que está em Beit Lahiya, uma das três localidades cercadas em que, segundo autoridades palestinianas, estão 100 mil pessoas encurraladas. “A situação é muito assustadora. Esperamos morrer a qualquer momento. Há explosões constantes e estamos sob uma pressão terrível”, descreveu, num telefonema com o diário francês Le Monde.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, Stéphane Dujarric, disse que Israel continua a “negar” vários “esforços repetidos para entregar ajuda humanitária essencial à sobrevivência”.

A guerra continua, acrescentou, a ser “levada a cabo com pouca consideração pelos requisitos do direito internacional humanitário”, disse Dujarric numa declaração esta segunda-feira.

Segundo os mais recentes dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, morreram cerca de mil pessoas durante esta fase da operação militar israelita, que começou no início do mês de Outubro, no Norte do território.

Antes, estavam a viver na zona cerca de 400 mil pessoas, que não saíram na primeira parte da ofensiva terrestre de Israel por terem familiares com mobilidade reduzida, por acharem que nenhum outro local do território era seguro, ou ainda por temerem não poder voltar nunca mais a casa, se deixassem o local.

Fontes palestinianas citadas pelas agências de notícias alemã DPA disseram que em Beit Hanoun, Beit Lahiya e Jabalia as forças israelitas estão a dividir famílias, detendo os homens e pressionando mulheres e crianças a sair da área.

“Quem está ferido sangra até à morte”

“Toda a população do Norte de Gaza está em risco de morrer”, declarou Joyce Msuya, a subsecretária geral para questões humanitárias da ONU, no fim-de-semana. “Abrigos foram esvaziados e queimados. Socorristas foram impedidos de salvar pessoas sob escombros. Famílias foram separadas e homens e rapazes foram levados em camiões cheios”, descreveu.

“No Norte de Gaza, quem está ferido sangra até à morte”, escreveu durante o fim-de-semana o jornalista da Al-Jazeera Hossam Shabat na sua conta no X.

As ambulâncias estavam paradas desde a semana passada, recebendo ordens do Exército de Israel para não se moverem.

O Exército israelita anunciou entretanto que terminou uma operação militar no Hospital Kamal Adwan, alegando que havia combatentes do Hamas no último hospital funcional do Norte.

A operação deixou staff do hospital com ferimentos, e alguns elementos foram detidos, e provocou ainda mortes de doentes, segundo responsáveis de saúde citados pelo diário norte-americano The Washington Post.

No hospital ficaram apenas dois médicos, um deles o director, Hussam Abu Safiyah, contou o próprio, num vídeo. Ainda há 145 pessoas feridas, com várias a precisarem de cirurgias, que não há condições de serem feitas no hospital, relatou. O filho de Safiyah foi entretanto morto por um tiro israelita, o pai conta que o enterrou junto a uma das paredes do hospital.

Enquanto isso, o Egipto fez uma proposta de uma pausa inicial de dois dias nos combates em troca da libertação de quatro reféns israelitas na Faixa de Gaza, segundo o diário egípcio Al-Ahram, a que se seguiriam conversações para um cessar-fogo permanente.

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