À sétima será de vez? Búlgaros voltam às urnas sem esperança

Desde 2021 que a Bulgária teve seis eleições legislativas, nenhuma das quais conseguiu criar as condições para que um governo conseguisse um nível mínimo de estabilidade.

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A abstenção deve voltar a subir nas sétimas eleições búlgaras em três anos VASSIL DONEV / EPA
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Pela sétima vez em três anos, os búlgaros vão voltar a eleger um Parlamento com vista à formação de um Governo que retire o país de uma crise política sem precedentes.

A situação não tem paralelo na história recente da União Europeia. Desde Novembro de 2021, a Bulgária teve seis eleições legislativas – no mesmo período, houve ainda presidenciais, municipais e europeias – sem que nenhum dos executivos daí formados conseguisse governar com um patamar mínimo de estabilidade.

Foram tentadas várias fórmulas, mas nenhuma com sucesso. No ano passado, foi formado um governo de coligação entre os dois partidos mais votados: o Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB, na sigla original) e o “Vamos Continuar a Mudança”-Bulgária Democrática (PP-DB). O acordo previa rotatividade na chefia do Governo, mas ao fim de poucos meses a coligação caiu por desentendimentos entre os dois partidos.

A instabilidade que tem caracterizado a política búlgara explica-se por um misto entre desconfiança entre os principais líderes partidários, descrédito dos partidos, apatia do eleitorado e um sistema pouco ágil para oferecer soluções. Num artigo de Setembro no Financial Times o colunista Ivan Krastev resumia o panorama: “As linhas divisórias entre os partidos políticos são demasiado numerosas e o medo de compromissos demasiado forte, portanto os políticos calculam que os eleitores irão recompensá-los mais pelo que não fazem do que pelo que fazem.”

Ironicamente, o sistema político parece estar a adaptar-se ao bloqueio. No final do ano passado, os principais partidos uniram-se para aprovar uma reforma constitucional com o objectivo de limitar os poderes presidenciais, que ganharam novo relevo com a sucessão de governos interinos e de iniciativa presidencial.

“Emendar a Constituição – que em muitos países é visto como um objectivo ambicioso e prova da capacidade da classe política em conseguir alcançar compromissos de longo prazo – não forneceu, no entanto, um entendimento suficiente para que a maioria parlamentar pudesse sobreviver às condições búlgaras”, escrevia em Junho o investigador do Centro para Estudos do Leste (OSW), um think tank polaco, Lukasz Kobeszko.

Os sinais de cansaço e frustração com um cenário político totalmente paralisado são evidentes. Segundo as sondagens, pouco mais de 30% dos eleitores búlgaros pretendem votar este domingo – nas últimas legislativas, organizadas em simultâneo com as eleições europeias em Junho, a participação ficou pelos 34%.

Borissov e o GERB

A estabilidade búlgara vigorou entre 2009 e 2021, período em que o GERB, do então primeiro-ministro Boiko Borissov, governou o país de forma ininterrupta. Em 2020, o partido foi abalado por fortes protestos que denunciavam o controlo de Borissov e dos seus aliados sobre todo o aparelho de Estado.

Apesar de terem surgido vários partidos que se apresentavam como alternativas ao GERB, promovendo uma mensagem anticorrupção, nenhum se conseguiu impor. A indefinição permitiu uma revitalização do partido de Borissov, que voltou a ser o mais votado nas últimas eleições.

Na verdade, as sondagens mostram que é altamente provável uma repetição quase perfeita do quadro das eleições de Junho, ou seja, o cenário de ingovernabilidade deverá manter-se. O GERB deverá voltar a ser o partido mais votado, com cerca de 25% dos votos (teve 23% há quatro meses), seguido de um grupo de dois partidos com perto de 15% cada (o PP-DB e o Renascimento, da extrema-direita pró-russa).

A ausência de um governo estável na Bulgária está a adiar várias decisões consideradas estratégicas para o país do Leste europeu, incluindo o processo de entrada na zona euro. “Esta crise está associada a um recuo democrático iminente, ao bloqueio de reformas e à paralisação dos esforços no combate à influência russa”, avisava o investigador do Fundo Marshall da Alemanha, Dimitar Keranov, num artigo de Junho.

Para os búlgaros, nunca foi tão difícil acreditar nos méritos da democracia parlamentar. Uma sondagem divulgada no final de Agosto concluía que um terço dos cidadãos tem preferência por um governo autoritário, incluindo um regime comunista ou uma ditadura militar.

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