O mundo a falar de trends de Outono. O que e como comprar?

Funciona assim uma indústria que contribui mais para dar cabo de nós do que para nos fazer sentir bem, mesmo quando pensamos que ficamos muito bem naquele vestido. Ou cardigan. Ou casaco. Ou…

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"As tendências são quase sempre as mesmas, muda a cor principal" Mikhail Nilov/pexels
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É assim há décadas, com cardigans e lãs a aparecerem nas lojas em agosto, enquanto circulamos para procurar a roupa de praia que deveríamos ter comprado durante a primavera, antevendo as férias. A moda e o ritmo da vida de todos os dias num desencontro criado para nos fazer sonhar, desejar a próxima estação e comprar sem pensar.

Se pensamos, não compramos, aguardamos e, enquanto esperamos, depois não encontramos. Nesta ambiguidade, o medo de perder a oportunidade — porque depois já não há ou muda a oferta da estação — faz-nos encher sacos, passar o cartão e guardar peças de roupa nos armários e gavetas para usar quando o tempo chegar.

O tempo não chega. No entretanto, chegam coisas novas às lojas, a roupa que ficou guardada, muitas vezes ainda com a etiqueta — porque… quem quer vestir roupa de lã com 24ºC e sol aberto… —, é esquecida, e acabamos a comprar a última novidade porque agora, sim, as noites estão frias e já apetece o conforto que as fibras mais quentes nos dão.

Funciona assim uma indústria que contribui mais para dar cabo de nós do que para nos fazer sentir bem, mesmo quando pensamos que ficamos muito bem naquele vestido. Ou cardigan. Ou casaco. Ou…

As tendências são quase sempre as mesmas, muda a cor principal, ajustando o Pantone à cor dos dias, desajustando-o do anterior para nos fazer sentir que estamos fora de contexto. O contexto somos nós, a assinatura é nossa, por isso a importância de um guarda-roupa que se sustenta numa trend intemporal, pontuada com detalhes que não mudam, apenas acrescentam o contexto do momento àquilo que vestimos.

Uma pesquisa pelas tendências de outono deste ano produz tantos resultados quantos os que possamos imaginar, resultando numa condensação de ideias que se agrupam em torno do que vestimos todos os dias e todos os anos. Há, contudo, uma tendência clara em torno da ideia de luxo e riqueza, recuperando o estilo Gossip Girl e os looks betinhos milionários que marcas como a Burberry tão bem representam.

No TikTok não se fala de outra coisa, num processo que copia os irmãos Menendez. E se ver homens que compreendem o verbo conjugar pode ser um bálsamo, a inspiração que lhes está na origem é, no mínimo, duvidosa. Esperemos que o fascínio se fique pelo estilo. Da roupa.

Voltando às tendências, sem esquecer que o mais importante é usar o que nos faz sentir bem e que, se só nos sentimos bem a usar roupa nova, o problema não é a roupa, somos nós, o estilo sofisticado dos dias de festa invadiu as lojas, com casacos Jackie Kennedy, pérolas e vestidos inspirados nos anos 40 a 60, a par com acessórios cor de vinho que desvirtuam o preto habitual.

Os casaquinhos — os famosos cardigans justos e curtos — combinam-se com as calças formato barril que invadiram as ruas antes da pandemia. Se ainda as tivermos, é tempo de as voltar a usar, num estilo que combina o volume com a ausência dele, um jogo de equilíbrios difícil de sustentar.

As capas são sensação. Serão um investimento? Vão e voltam, voltando sempre diferentes. No jogo do mercado de valores, é arriscado.

As transparências, depois do que vimos as celebridades usar, são de apostar. Ou não, depende do nosso estilo e estilo de vida. Vamos andar assim no casa-trabalho, trabalho-casa? Não sei.

O xadrez e os sapatos pontiagudos regressam e isso só é bom para a primeira parte da frase. Investir no xadrez é garantido que regressará um dia. Já as pontas, só no ballet e, mesmo assim, com proteção nos dedos. Curiosamente, nisto de tendências, há de tudo, para todos e também imperam os sneakers de todas as cores e carregados de acessórios, os mesmos que passámos a usar pendurados nas malas de mão.

As peças de roupa em pele estão de volta e a pergunta impõe-se: quando foi que saíram? Se responderem verão, não conta. Há anos que são um must de inverno, aqueles dias invernosos nos quais conseguimos usar calças de polipele, que nos faz transpirar nos dias de sol e 20ºC. Gola alta é usar e abusar. Quando? Não sei. Mas novamente, como não?

A seda, a ganga e os padrões, desta vez o leopardo. Quoi de neuf?, caso para perguntar. Os cintos assumem um papel principal e, para mim, nunca saíram de cena porque nisto de tendências e de roupa de vestir, nada como um cinto bem escolhido para fazer a diferença na forma como nos apresentamos.

Voltamos ao início da conversa: a moda somos nós que a fazemos, com o que temos para nós e os detalhes que podem acentuar ou garantir que fazemos parte do contexto. Mais estilo, menos compras.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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