"Durante muitos anos até fui acusado de ser o centro que secava tudo à volta. Nunca quis isso, as pessoas é que vinham ter comigo porque eu tinha alguma capacidade para promover. Neste momento sinto-me muito melhor do que no passado: sei que o cinema em Portugal pode existir independentemente de eu existir. Posso consagrar-me só aos projectos em que acredito mesmo."

São palavras de Paulo Branco na (longa) entrevista que deu a Vasco Câmara e que faz a capa desta edição do Ípsilon.

Já produziu mais de 300 filmes e trabalhou com realizadores consagrados, como David Cronenberg, Wim Wenders, Chantal Akerman, Philippe Garrel, Pedro Costa... Nos últimos anos, o produtor de "cinema de autor" transformou-se num autor de "cinema de produtor". É assim em Os Papéis do Inglês, que encomendou ao realizador Sérgio Graciano.

"Um filme que produzo só existe naquela forma porque fui o produtor, para o bem e para o mal. Isso aprendi com os velhos produtores, quando comecei: o espaço para um produtor ser criativo. Isso sempre existiu. Mas agora... não me adapto a todas as regras europeias, com as burocracias, os comités. O meu espaço de risco e de liberdade tem de continuar a existir. O risco é muito mais controlado. As coisas não são as mesmas. Mas têm de ser filmes em que acredito e que quero que existam", diz. Mais: "Era pelo risco que éramos louvados antigamente; somos hoje vistos quase como criminosos se nos lançamos em projectos insensatos."

Neste dossier, temos ainda a crítica a Os Papéis do Inglês e um olhar de Isabel Lucas para o legado literário de Ruy Duarte de Carvalho, o autor de um dos livros que inspira o filme de Sérgio Graciano.

É uma "anomalia", é um "oásis", é um "milagre", dizem-nos artistas e programadores. A celebrar 30 anos, a Galeria Zé dos Bois é "um espaço institucional independente", incontornável na vida cultural de Lisboa. Além de apresentar concertos ou exposições, soube criar redes e activar outros agitadores.

Início dos anos 90, Amadora. Com uma bateria comprada "a prestações numa papelaria", um baixo adquirido "numa loja de chineses" e uma guitarra "antiga", nasciam os Morbid God. Davam-se os primeiros passos do metal extremo em Portugal. O grupo mudaria de nome para Moonspell, que tornar-se-ia, com os anos, disco após disco, a mais internacional banda rock portuguesa. Passaram 35 anos desde a génese dos Moonspell, mas Fernando Ribeiro, único membro desde o início, ainda tem sonhos. Tocam sábado na Meo Arena, com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa. 

No novo Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa, "a arquitectura fez prevalecer a sua actual retórica de agregação social e consciência climática. Mas há um preço", escreve a crítica de arquitectura Ana Vaz Milheiro, numa análise detalhada ao projecto de Kengo Kuma.

Também neste Ípsilon:

— Cinema: Nora Ephron, a fada-madrinha da comédia romântica moderna; críticas aos filmes Disco Boy, O Jogo da Rainha e O Banho do Diabo; e uma reflexão sobre o flop Joker: Loucura a Dois;

Desejo: um livro organizado pela actriz Gillian Anderson sobre fantasias sexuais e sentimentos profundos;

— Música: a digressão Still 25 de David Fonseca; o regresso dos The Rite of Trio (ainda só disponível na edição impressa); e o novo disco dos Godspeed You! Black Emperor;

— Fotografia: Larry Towell mergulha na história da Ucrânia para olhar a guerra;

— Críticas a Origami, o novo romance de José Gardeazabal, e a Panorama, a exposição de Jorge Queiroz patente na galeria Bruno Múrias, em Lisboa.

E não só. Boas leituras!


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