Brasileiro gere frota de 300 carros de transporte de passageiros

Além de gerir empresas próprias, o carioca Renato Mizrahy administra oito empresas de investidores brasileiros. São mais de 300 veículos, a maioria elétricos, ao serviço de plataformas de transporte.

Foto
Renato Mizrahy afirma que tem o compromisso de pagar em dia aos motoristas Arquivo pessoal
Ouça este artigo
00:00
06:22

Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Há seis anos em Portugal, o carioca Renato Mizrahy, 53, adquiriu sua primeira empresa em 2019. Escolheu investir no serviço de aluguel de carros para motoristas de aplicativo. “Quando cheguei não sabia o que ia fazer e me deparei com essa atividade que tinha acabado de ser regulamentada pelo governo português. Queria estabilidade e tranquilidade para investir”, relembra.

Inicialmente, adquiriu uma empresa com dois carros. Ao final do primeiro ano de funcionamento, já eram 20,40% elétricos. Durante um curto período, o empresário se aventurou em dirigir, ele próprio um dos carros, para entender a dinâmica da atividade. Essa experiência o ajudou a entender o dia a dia e as necessidades dos motoristas, um aprendizado que foi fundamental para consolidar o seu negócio.

Desde o início, o empresário tinha em vista ganhar escala. Decidiu montar várias empresas que trabalham com motoristas de plataformas e vendê-las para investidores brasileiros, sendo que permanece como administrador. Como tem a estrutura montada, divide custos.

O seu portfólio conta com oito companhias, sendo três de sua propriedade, com mais de 100 carros. Cinco empresas são de terceiros, que variam de tamanho, algumas com dez e outras com 15 ou 25 carros. No total, administra 300 veículos, majoritariamente elétricos. “Para os investidores, o processo é muito tranquilo, porque quem responde pelas empresas sou eu. Qualquer erro, quem responde sou eu, o gerente”, esclarece.

A vinda para Portugal foi decidida por causa da instabilidade econômica do Brasil. “Cheguei aqui com a minha vida estabilizada. Quando decidimos sair do Brasil, pensamos em ir para os Estados Unidos. Acabamos escolhendo Portugal, porque minha esposa é cidadã portuguesa” recorda Mizrahy.

O empreendimento inicial foi logo expandido. Criou uma oficina de manutenção e uma revenda de veículos elétricos. "Trabalhei durante 30 anos com oficinas mecânicas. Já entendia muito do assunto. Juntei o útil ao agradável e fui trabalhar com a administração de veículos para plataformas de mobilidade”, relata.

Em Portugal, o desafio inicial foi aprender como funciona o sistema tributário do país e a legislação relativa às empresas, além de saber como comprar os carros e conseguir financiamento bancário. “Em Portugal é mais simples que no Brasil pedir dinheiro emprestado ao banco. Como já administrava empresas e entendia de carros, foi fácil, para mim, me estabelecer. Acredito que a maioria das companhias portuguesas desse setor sejam familiares. No nosso caso, temos espaço físico e 12 funcionários no total. Duas oficinas, uma no Montijo e outra em Rio de Mouro, e um reboque. É uma visão diferente da dos empresários portugueses. Por isso o nosso crescimento”, explica.

Com o reboque e a oficina, o empresário garante um atendimento rápido para qualquer problema que os motoristas tenham. Os carros que possui a mais, alguns da loja de compra e revenda de automóveis, permitem fazer a substituição dos veículos que estejam em manutenção. Dessa forma, os motoristas não ficam sem trabalhar. A frota elétrica garante uma grande da economia em relação aos veículos movidos a combustão e a manutenção é muito mais simples.

Relação com os motoristas

A maioria dos motoristas que trabalham com Mizrahi é formada por brasileiros, mas também conta com portugueses e alguns de outras nacionalidades. Sobre o funcionamento da empresa, diz que o aluguel dos veículos é semanal. As plataformas Uber e Bolt repassam para a empresa os valores do que foi apurado nas viagens. Mizrahy faz os descontos devidos e fornece uma planilha para cada motorista, detalhando todo o movimento e os descontos relativos ao aluguel e outros gastos. O que sobra é o rendimento do motorista.

Ele conta que tem a preocupação de tratar bem os motoristas. “Trabalhamos para que o condutor tenha uma vida equilibrada. Há cinco anos pagamos a eles sempre às quartas-feiras. Não existe atraso. Trabalhou, recebeu, mesmo se a plataforma, por algum problema, atrasar o repasse. Eles têm prioridade. Isso nos dá credibilidade”, garante o empresário.

Toda a documentação e a gestão da frota é realizada pela companhia. “Trabalhar conduzindo não é fácil. Para quem passa horas dirigindo, é importante, psicologicamente, ter tudo resolvido. Eu não trabalho por comissionamento, como algumas empresas. Se o motorista paga o aluguel, o carro é dele. Se quiser passear no final de semana, é um direito dele. O que faz com o carro não me diz respeito. Temos oficina própria, e se precisar fazer a manutenção, nós fazemos. Assim, ele não tem dor de cabeça. O trabalho dele é só dirigir, mais nada. Uma vez por semana, ele recebe uma planilha com todas as contas e, se tiver alguma dúvida, é só perguntar. É tudo transparente, não tem nada obscuro”, detalha.

Mizrahy afirma que está contente com o ambiente de negócios que encontrou em Portugal. “Trazer o dinheiro para cá e empreender dá certo. Se agir corretamente, dá para prosperar. A estabilidade do país ajuda no crescimento. A margem de lucro pode não ser tão grande como em alguns negócios no Brasil, mas o crescimento é sustentável e acredito nisso", avalia.

Uma das diferenças que vê em relação aos negócios no Brasil está na fiscalização por parte da administração tributária. “Pelo tamanho da empresa, toda hora temos fiscalização. Ninguém vem para chantagear ou pedir dinheiro. Pelo contrário, eles vêm para pedir esclarecimentos. Pedem as informações e o gerente e a contabilista respondem. O funcionário público vem nos ajudar”, acrescenta.

A escolha por veículos elétricos foi uma escolha desde o início do negócio, em 2019, quando adquiriu cinco carros elétricos. “Quando ninguém acreditava, eu acreditei. E quis me especializar. Tenho uma oficina especializada em manutenção de carros elétricos. No carro, só preciso consertar pneu furado e trocar lâmpadas. É uma virada de chave. Um carro a gasolina, que roda 2.500 quilômetros por semana, tem manutenção todos os meses. O elétrico é perfeito para circular na cidade", conclui.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários