“Eu sou médica e comediante. Eu curo com o riso”, diz Cacau Protásio

A mulher que faz o Brasil rir tem quatro espetáculos em Portugal. Lisboa, Almada, Porto e Braga vão saber por que o Brasil se rendeu ao humor dessa carioca do Grajaú.

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No Carnaval, Cacau Protásio costuma desfilar pela União da Ilha Arquivo pessoal
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A atriz e comediante Cacau Protásio, 49, vai atravessar o Atlântico com grandes expectativas: “Eu quero casa lotada”, diz. Serão quatro espetáculos em Portugal: dia 30 de outubro, no Teatro Villaret, em Lisboa; dia 31, no Teatro Osvaldo Azinheira, em Almada; dia 1.º de novembro, no Auditório Francisco de Assis, no Porto; e, no dia 2, no Teatro Afonso Fonseca, em Braga.

Foi a inesquecível Zezé, da novela Avenida Brasil, que lançou Cacau Protásio para o estrelato. Ficou conhecida pelo humor, com que desfilou em Zorra Total, Vai que Cola e Sai de Baixo. Mas, desde que começou sua carreira como atriz, em 2000, já participou de 19 programas de televisão, 14 filmes e 13 peças de teatro.

Seu humor cru, que escancara as incongruências sociais, já conta com reconhecimento no Brasil. Foi indicada três vezes para prêmios de melhor atriz nacional, em dez filmes que estrelou, tendo vencido o prêmio de Melhor Atriz Revelação em 2012 e Destaque Nacional em 2013.

O que você espera dos espetáculos aqui em Portugal?
Eu espero ter uma casa cheia. Casa lotada! Que as pessoas se divirtam muito, que as pessoas riam bastante. Eu estou muito ansiosa para esse momento.

É a primeira vez que vem para Portugal?
Em Portugal é a segunda vez. Eu fui muito bem acolhida. Fui antes da pandemia, mas não lembro muito bem. Lembro que um dia eu estava numa padaria e aí o dono do da padaria ficou parado, me olhando muito. Aí, na época eu estava casada, e eu falei com meu ex-marido que ele estava me olhando muito e eu me senti incomodada com aquilo. Meu marido falou: “Cacau, a gente não deve nada, a gente vai comprar, vai pagar, está tudo certo”. E o dono me olhando, me olhando, me olhando. Eu falei que não queria comer ali, queria ir embora. Ele falou: “A gente vai comer aqui. A gente vai comer aqui e você não deve nada a ninguém, tá!” Eu peguei, escolhi, e quando eu fui pagar, ele falou: “Não precisa, eu sou seu fã, eu vi Avenida Brasil”. Ele me reconheceu e eu fiquei feliz da vida. Se eu soubesse, eu tinha pego muito mais coisas porque não ia pagar. Foi a primeira vez e eu fui muito bem acolhida. Foi maravilhoso. Agora, a minha ansiedade é muito maior.

O que você conhece de Portugal?
Eu fui nos pontos turísticos de Portugal. Eu fui num lugar que tem um bolinho de bacalhau que tem um queijo dentro, que eu queria trazer para o Brasil. Fui no lugar que vende pastel de Belém. Em todo lugar que eu vou, eu pego um ônibus, um bonde ou um trem e vou até ao ponto final e depois eu volto, porque é assim que a gente consegue conhecer o lugar.

Você acha que vai ter mais brasileiros ou portugueses nos shows em Portugal?
Eu acho que os dois. Acho que vai ser meio a meio. Brasileiros eu sei que vai ter bastante, mas acho que portugueses também.

Como está o seu calendário em Portugal?
Deixa eu ver aqui porque eu não sei para onde eu vou agora. Deixa agora eu botar os óculos para eu enxergar aqui. Eu não guardo nada. Graças a Deus, eu sou guardo texto. O resto, eu não guardo nada. Eu vou fazer no dia 30 Lisboa, 31 Almada, 1.º Porto e 2 Braga.

Vai fazer esses espetáculos e depois volta para direto para o Brasil ou vai para outros lugares?
Vou voltar. Vou para o Brasil para gravar um longa-metragem.

Que filme?
Infelizmente, eu não posso contar nada desse filme. É segredo. Não posso falar. Fui convidada agora em cima da hora porque nem era para ser eu. Ia ser outra atriz. E, aí, esse filme ainda está escondido. Não posso falar, mas vai ser em São Paulo.

Pensando em outros países, onde é que você gostaria de se apresentar além de Portugal e Brasil?
Meu sonho é me apresentar no mundo inteiro. Eu queria que o mundo me conhecesse. Eu queria que todas as pessoas me conhecessem. Os brasileiros veem a gente pela Internet, pelo YouTube, pela televisão, mas eu queria estar perto deles em todos os lugares do mundo, perto de todas as pessoas que pudessem ver e entender a minha história. Eu sei que, por exemplo, nos Estados Unidos, eu não poderia me apresentar para gringo, porque eu não falo inglês, as piadas da gente são muito diferentes e eu acho que as pessoas não entenderiam. Mas eu queria que as pessoas todas soubessem quem eu sou.

Mas nos Estados Unidos tem 2,5 milhões de brasileiros.
Tem, mas eu queria me apresentar para brasileiros e para os americanos também, e eu acho que isso é um pouco impossível. Mas eu sonho. Eu jogo para o universo, vai que Deus me atende.

Na televisão, você começou em 2012 com a novela Avenida Brasil, não é?
Não. Antes eu fiz uma novela chamada Tititi, que foi um remake. Aí, eu não tive tanta projeção. As pessoas que me conheciam, minha família, me viam na TV, mas eu não tive muita projeção. Foi Avenida Brasil que me levou para o mundo, quando tive oportunidade de ser conhecida, de ser vista e as pessoas puderam conhecer meu trabalho.

O que mudou desde então?
Nossa! Muita coisa. Eu fui dormir Anna Cláudia e acordei Cacau Protásio. Dormi pessoa física, acordei pessoa jurídica. Isso é muito doido. A gente, quando fica famoso, não sabe o que que vai acontecer, não sabe o que pode esperar. Até hoje eu não sei o que me espera, o que é que vai acontecer. Eu vivo um dia de cada vez. Eu sou muito grata por isso. Eu sou muito devota de Deus. Tem gente que pergunta: você esperava ser famosa? Não. Você esperava ser reconhecida? Não! Você esperava tudo isso que acontece na sua vida? Não! As coisas acontecem, eu vivo e aproveito esse momento, mas esperar, a gente não espera, a gente sonha. É muito doido. Antes da Avenida Brasil, eu andava de ônibus, saía na rua, e era tudo bem. Agora, é diferente, o Brasil me conhece e é muito gratificante. Eu sou muito feliz por isso, pelo reconhecimento do meu trabalho.

E o que acontece quando você sai à rua?
As pessoas pedem foto, pedem para conversar, pedem abraço, as pessoas choram. No começo, eu ficava assustada porque não sabia como lidar. Hoje, eu abraço. E as pessoas choram e falam: você me tirou da depressão, você me tirou de um momento difícil da minha vida. Quando me perguntam qual é a minha profissão, eu falo que sou médica e sou atriz. Porque às vezes muita gente fala para nós, comediantes, que a gente curou uma pessoa. Então, eu sou médica do riso. Eu falo que eu sou médica do riso, mas quem cura mesmo, na minha opinião, é Deus, que me emprestou esse dom para usar aqui na Terra.

Voltando ainda mais para trás, você largou o curso de pedagogia para ser atriz.
Um dia, eu estava na aula, e ficava me perguntando o que é que eu estava fazendo ali. No começo, eu gostava, eu fiz o curso normal. Eu dava aula para crianças do jardim até a quarta série. Aí, um dia, me perguntei o que é que eu estava fazendo ali e, do nada, fui fazer curso de teatro. Eu vi no jornal uma escola de teatro, fui lá no outro dia e me inscrevi. Larguei pedagogia e fui fazer teatro. Na minha primeira apresentação, fui embora, saí chorando. Falei que nunca mais eu voltaria, que não era aquilo que eu queria. Passei uma semana em casa, depois voltei, me apaixonei, estou aí até hoje.

Ser mulher e negra no Brasil, hoje, é complicado?
É desafiador. Não é fácil para a gente que é preta, para mulher que é preta. Eu vivo de teimosa, eu vivo porque Deus quer que eu viva, mas eu estou no meu lugar. Eu estou aonde eu tenho que estar, eu faço o que eu tenho que fazer e eu tenho direito como todo mundo tem. Não é fácil, mas eu vou, meto o pé na porta. Eu peço licença com toda educação. Porque, quando alguém me olha torto e fala alguma coisa, eu falo que estou no lugar que tenho que estar. Eu tenho o direito de estar aqui. Esse lugar é meu também. Eu pago conta, pago impostos. Eu estou onde eu tenho que estar.

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