A Kering avisou nesta quarta-feira que o lucro operacional em 2024 iria cair quase para metade, tratando-se do valor mais baixo dos últimos anos. A culpa é da fraca procura na China, que aprofundou as dificuldades da principal marca do conglomerado francês, a Gucci, cujas vendas caíram 25%, declaram.
O grupo de François-Henri Pinault, que também detém a Saint Laurent, Balenciaga ou a Bottega Veneta, registou uma queda de 16% nas receitas do terceiro trimestre do ano, para 3,79 mil milhões de euros.
A Kering afirmou que o seu resultado operacional recorrente em 2024 poderá ser de cerca de 2,5 mil milhões de euros, em comparação com 4,75 mil milhões de euros no ano anterior, na sequência do abrandamento no trimestre e das “grandes incertezas” que poderão pesar sobre a procura nos próximos meses.
No primeiro semestre, a empresa tinha previsto uma descida de 30% na facturação no segundo semestre, o que teria resultado num rendimento anual de 2,97 mil milhões de euros, de acordo com os cálculos da Reuters.
O aviso da Kering surge num momento em que o sector do luxo sofre um abrandamento. A LVMH, líder do luxo, não cumpriu as expectativas, segundo anunciou na semana passada, e assinalou uma queda na confiança dos consumidores chineses para mínimos.
Os resultados, dizem os analistas da consultora financeira RBC, “levantam questões sobre a capacidade de recuperação dos lucros no próximo ano, onde é provável que vejamos mais reduções”.
A Kering justificou que a procura enfraqueceu a partir do segundo trimestre, particularmente na Ásia-Pacífico, onde as vendas caíram 30%, e no Japão, que sofreu um “abrandamento significativo”.
Os investidores têm estado nervosos em relação à indústria desde que a onda de gastos pós-pandemia perdeu força no ano passado, com o apetite chinês pela moda de luxo a ser a principal fonte de preocupação, fazendo com que as acções das empresas do sector entrassem numa montanha-russa.
A crise imobiliária do país reduziu o entusiasmo dos compradores, enquanto as medidas de estímulo governamentais anunciadas recentemente não conseguiram, até à data, reacender a procura.
O que será feito da Gucci?
As vendas da Gucci, que representam metade da facturação anual do grupo e dois terços dos lucros, continuaram a cair e registaram uma descida de 25% no terceiro trimestre, em comparação com as expectativas consensuais dos analistas de uma descida de 21%.
“Estamos a executar uma transformação de grande alcance no grupo, e na Gucci em particular, numa altura em que todo o sector do luxo enfrenta condições de mercado desfavoráveis”, afirmou o presidente da Kering, François-Henri Pinault, em comunicado.
A Kering tem vindo a gerir uma ampla remodelação da centenária casa de moda italiana, reconstruindo as equipas executivas de topo e introduzindo um novo estilo de design simplificado sob a direcção artística de Sabato de Sarno, ao mesmo tempo que impulsiona os produtos para o mercado de gama superior.
No início deste mês, a Kering nomeou Stefano Cantino como novo CEO da Gucci, com efeitos a partir de Janeiro de 2025, substituindo Jean-François Palus, que ocupa o cargo de forma interina desde o ano passado.
A reformulação da categoria de artigos de couro da Gucci, com a introdução de uma série de novos produtos (recuperados a partir de ícones como a mala Jackie) no final do trimestre, estava bem encaminhada, acrescentou o comunicado.
Como resultado, a categoria já representou um terço das vendas no trimestre, mas não foi suficiente para compensar o desempenho dos produtos mais antigos, disse a directora financeira da Kering, Armelle Poulou, aos jornalistas em conferência de imprensa.
As acções da Kering caíram 42% desde o início do ano, em comparação com uma queda de 16% da maior rival LVMH. A Burberry, outra marca de luxo que está a passar por uma reformulação de design, caiu quase 50%.