A Hermès, fabricante de carteiras Birkin, anunciou, nesta quinta-feira, um forte aumento nas vendas do terceiro trimestre, continuando a ofuscar os rivais duramente atingidos por uma recessão na China, uma vez que as suas carteiras de luxo atraem compradores ricos.
A empresa francesa de luxo gerou 3,7 mil milhões de euros em receitas entre Julho e Setembro, um aumento de 11,3% a taxas de câmbio constantes, em linha com a estimativa dos analistas citados pelo banco de investimento Jefferies.
O grupo afirmou que mantém a orientação a médio prazo de crescimento das receitas a uma taxa de câmbio constante, apesar das incertezas económicas, geopolíticas e monetárias globais, acrescentando que vai continuar a recrutar.
“Vemos a Hermès como a melhor oportunidade actual para proteger a carteira de produtos de um período difícil (segundo semestre de 2024) — sofrendo de um abrandamento cíclico global exacerbado por questões estruturais na China”, afirmou Luca Solca, analista da empresa de corretagem e casa de análise Bernstein, observando que todas as divisões, excepto a dos relógios, registaram um crescimento superior ao esperado.
O abrandamento de todo o sector afectou as marcas de todo o espectro da gama alta, mas os famosos designs clássicos da Hermès e a gestão rigorosa da produção e do stock ajudaram a reforçar a aura de exclusividade da marca e fizeram da empresa um dos desempenhos mais consistentes da indústria.
Carteiras como o cobiçado modelo Birkin, cujos preços começam nos 8600 euros, são acessíveis apenas para os compradores mais ricos — que são normalmente os mais imunes às condições económicas instáveis —, além de que o processo moroso de compra lhe garante uma aura de exclusividade. (Embora também tivesse dado origem a uma acção no estado norte-americano da Califórnia, com a empresa a ser acusada de obrigar os clientes a comprar sapatos, lenços, jóias e outros artigos para terem a oportunidade de adquirir uma Birkin.)
Investir na China
O crescimento mais lento veio da região Ásia-Pacífico, excluindo o Japão, onde as vendas subiram 1%. O desempenho foi bastante homogéneo em toda a região, disse Eric du Halgouet, vice-presidente executivo financeiro da Hermès, aos jornalistas durante uma conferência à distância.
“Na China, não houve uma interrupção nas tendências, ainda estamos a enfrentar as quebras que começaram após o Ano Novo Chinês, mas não houve um declínio adicional”, disse Du Halgouet. Acrescentou ainda que a Hermès está a compensar a diminuição do tráfego com cabazes médios mais elevados, vendendo produtos de joalharia, artigos de couro e pronto-a-vestir para homem e senhora.
Du Halgouet disse que o grupo vai continuar a investir na China, depois de inaugurar uma loja no centro comercial Mixc de Shenzhen, nesta quarta-feira, com planos para uma nova loja estrela em Pequim no próximo ano.
As acções da Hermès subiram quase 9% desde o início do ano, ultrapassando os rivais, com a LVMH a cair quase 15%, a Moncler a cair 3,3% e a Kering, que está a trabalhar para dar a volta à Gucci, a cair 40%.
Na semana passada, a LVMH não cumpriu as expectativas e assinalou uma queda da confiança dos consumidores chineses para os níveis mais baixos da era pós-covid, com uma deterioração da procura de moda durante o terceiro trimestre.
Já nesta quarta-feira, a Kering avisou que os seus resultados operacionais em 2024 iriam cair para quase metade, atingindo o valor mais baixo dos últimos anos, uma vez que a fraca procura na China agravou as dificuldades da principal marca do grupo francês de bens de luxo, a Gucci.
Mostrando os limites da sua resiliência, os executivos disseram, no início deste ano, que a Hermès estava a registar um tráfego ligeiramente menor de clientes aspiracionais, com impacte em produtos de maior volume, como acessórios de moda, tais como lenços de seda.