Audição e vocalização: um caminho do útero à opera

Cantar aumenta o trabalho vascular e a atividade física, provavelmente através do circuito neural que inerva os músculos da laringe, melhora a respiração e estimula o sistema vagal.

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A música é uma mais-valia na socialização humana: inspira e estimula prazer, amortece a ansiedade, aumenta o desenvolvimento cerebral e cognitivo, otimiza a qualidade de vida. As intervenções musicais compreendem uma simples audição, execução, educação e treino musical, e também cooperação em tratamentos de doenças corporais e mentais.

Medicina, humanidades e arte musical compartilham espaços comuns na construção de objetivos e indicadores de vida.

O interesse entre ciência e música não é surpreendente. A investigação cobre a ciência básica da capacidade musical, genética ou adquirida, e o processamento cerebral da música.

O desenvolvimento pré-natal permite a construção de memórias baseadas em sons intrauterinos, em áreas cerebrais responsáveis pelas emoções. A semelhança entre os sons intrauterinos e a construção musical permite afirmar que o ambiente acústico fetal pode ser a origem da construção musical em todas as culturas do mundo. Os sons ouvidos pelo feto, aproximadamente quatro semanas antes do nascimento, podem ser gravados em permanência nas estruturas cerebrais habitualmente conhecidas como o sistema límbico. Estas estruturas são as responsáveis pela construção de emoções, estando praticamente formadas ao nascer, e são responsáveis, ao longo da vida, pelas emoções geradas pela música. Um bom exemplo poderá ser a construção musical parecida com o andar humano, sendo razoável pensar que existe uma conceção das sensações tácteis e sónicas dos passos maternos e paternos e a respetiva informação no cérebro fetal em desenvolvimento.

As palavras na construção materna são, também, exemplos de ritmos apreendidos pelo feto, mais tarde identificados na sequência rítmica melódica de motivos musicais.

Um outro exemplo curioso diz respeito à frequência encontrada nos instrumentos melódicos, inventados e modificados ao longo dos anos, criando ressonâncias que lembram a voz humana escutada durante a vida fetal.

Cantar aumenta o trabalho vascular e a atividade física, provavelmente através do circuito neural que inerva os músculos da laringe, melhora a respiração e estimula o sistema vagal. Na ópera, cantar promove uma melhor qualidade da fala, aumenta a interação com os outros atores, sendo ainda excelente para a melhoria da audição e vocalização. Acresce ser a ópera a mais completa forma de representação teatral, caracterizada por acompanhamento musical, instrumental e vocal. Na medicina tem sido usada como benéfica na diminuição da dor crónica e na diminuição do estigma da doença mental.

O prazer da música resulta de transformações emotivas que incluem a libertação de moléculas químicas em certos pontos do sistema nervoso central, também, em determinadas glândulas endócrinas.

Viajar do feto ao prazer da ópera foi o exemplo que demos da importância da música no ensino e na prática da medicina. Como complemento no tratamento de determinadas doenças, físicas e mentais, como ajuda no alívio da dor crónica, como fonte de prazer na profissão e nos tempos lúdicos, a música é hoje parceiro indispensável dos profissionais da saúde.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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