EUA confirmam envio de militares norte-coreanos para a Rússia para combater na Ucrânia

A Ucrânia e a Coreia do Sul vinham a alertar há várias semanas para a potencial participação de militares norte-coreanos ao lado da Rússia. Lloyd Austin diz que revelação é “muito grave”.

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Lloyd Austin confirmou o envio de militares norte-coreanos para a Rússia Valentyn Ogirenko / REUTERS
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Os EUA confirmaram pela primeira vez que a Coreia do Norte terá enviado militares para a Rússia com o intuito de se juntarem às forças russas na invasão da Ucrânia. Washington considera este desenvolvimento “muito grave”, mas permanece por saber até que ponto irá o envolvimento de Pyongyang no conflito.

A revelação foi feita esta quarta-feira pelo secretário da Defesa, Lloyd Austin, durante uma visita a uma base militar em Itália. “Há provas de que há tropa da RPDC [sigla da República Popular Democrática da Coreia] na Rússia”, afirmou. “O que estão a fazer exactamente? Está por saber. Este é o tipo de coisas que precisamos apurar”, acrescentou o chefe do Pentágono.

Esta é a primeira vez que a Administração de Joe Biden reconhece publicamente o potencial envolvimento da Coreia do Norte na guerra na Ucrânia, ao lado da Rússia, com o envio de militares. Nas últimas semanas, dirigentes governamentais ucranianos e sul-coreanos deixaram alertas que iam no mesmo sentido: o regime de Kim Jong-un está a enviar militares norte-coreanos para combaterem ao lado das forças russas na Ucrânia.

Austin considerou que estas informações comprovam um desenvolvimento “muito grave” no conflito que poderá ter implicações geopolíticas em vários continentes. "Se eles são co-beligerantes, e a sua intenção é participar nesta guerra ao lado da Rússia, então é uma questão muito, muito grave", declarou. No entanto, o secretário da Defesa disse não dispor de informações para apurar o grau de participação dos militares norte-coreanos.

Os serviços secretos dos EUA vão divulgar vários documentos que indicam a presença de forças norte-coreanas na Rússia, incluindo imagens obtidas por satélite que mostram navios militares norte-coreanos a dirigirem-se para bases de treino na região de Vladivostok no Extremo Oriente russo. Segundo as mesmas informações, nenhum militar norte-coreano está ainda na Ucrânia nem é possível aferir a quantidade de soldados enviados.

Algumas fontes dos serviços de informação norte-americanas calculam que 2500 militares norte-coreanos possam estar na Rússia, enquanto a Coreia do Sul refere três mil. Esta semana, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que havia dez mil soldados norte-coreanos nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia.

Já era conhecido o apoio à Rússia pela Coreia do Norte com armas e munições, mas o envio de militares para combaterem na Ucrânia representa uma subida de nível considerável na aliança entre os dois países.

Um porta-voz da NATO, citado pela Reuters, disse esta quarta-feira que os aliados estão a discutir entre si o assunto para perceber que medidas adicionais terão de ser tomadas à luz das novas informações.

Os laços entre Moscovo e Pyongyang têm-se aprofundado desde o início da invasão da Ucrânia. Em Junho, o Presidente russo, Vladimir Putin, visitou a Coreia do Norte pela primeira vez em duas décadas e assinou um tratado de cooperação militar que incluía o que muitos analistas interpretaram como uma cláusula de defesa mútua.

No entanto, os dois governos têm negado não só o fornecimento de armas – está em vigor um embargo da ONU ao comércio de armas com a Coreia do Norte – como o envio de militares norte-coreanos para combater na Ucrânia.

Nos últimos meses, as forças russas têm conseguido alcançar alguma progressão territorial no Donbass, no Leste ucraniano, que continua a ser o principal objectivo estratégico da invasão lançada há mais de dois anos e meio. Porém, esses avanços vão sendo conseguidos à custa de um enorme custo humano as estimativas ocidentais apontam para baixas diárias superiores a mil militares russos –, que pode forçar o Kremlin a lançar novas rondas de recrutamento. Putin queria evitar fazê-lo para não suscitar uma nova onda de descontentamento popular, tal como aconteceu no Outono de 2022, quando milhares de russos fugiram do país para escapar à convocatória.

O reforço das fileiras russas com milhares de soldados norte-coreanos seria, neste contexto, uma ajuda preciosa para manter a viabilidade da estratégia russa no Donbass. Na avaliação que fez, Austin disse que o envio de militares da Coreia do Norte pode indicar que a Rússia "está com mais problemas do que aquilo que as pessoas pensam".

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