Autocarros queimados, um detido no Zambujal e distúrbios em Lisboa, Loures e Odivelas

Dois autocarros arderam nas últimas horas — um na Amadora, outro em Oeiras —, em novos actos de revolta pela morte de Odair Moniz, baleado pela PSP. Fogo posto também em Lisboa, Loures e Odivelas.

NFS- 22 outubro 2024 - BAIRRO DO ZAMBUJAL
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Um autocarro ardeu esta tarde no bairro do Zambujal, em mais um acto de protesto e revolta dos moradores Nuno Ferreira Santos
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Autocarro consumido pelas chamas na Portela de Carnaxide, Oeiras Nuno Ferreira Santos
Nuno Ferreira Santos - 22 Outubro 2024 -desacatos no bairro do zambujal , com autocarro incendiado
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Um autocarro ardeu esta tarde no bairro do Zambujal, em mais um acto de protesto e revolta dos moradores Nuno Ferreira Santos
Nuno Ferreira Santos - 22 Outubro 2024 -desacatos no bairro do zambujal , com autocarro incendiado
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Nuno Ferreira Santos - 22 Outubro 2024 -desacatos no bairro do zambujal , com autocarro incendiado? Nuno Ferreira Santos
Forças policiais acompanham os protestos dos moradores do bairro do Zambujal terem protestado em reação à morte de um homem por um agente da polícia na segunda-feira, na Amadora, 22 de outubro de 2024. MIGUEL A. LOPES/LUSA
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Segunda noite de revolta pela morte de Odair Moniz, morador do bairro do Zambujal baleado pela PSP LUSA/MIGUEL A.LOPES
Forças policiais acompanham os protestos dos moradores do bairro do Zambujal terem protestado em reação à morte de um homem por um agente da polícia na segunda-feira, na Amadora, 22 de outubro de 2024. MIGUEL A. LOPES/LUSA
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Forte dispositivo policial no bairro do Zambujal, esta noite LUSA/MIGUEL A.LOPES
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Segunda noite de revolta pela morte de Odair Moniz, morador do bairro do Zambujal baleado pela PSP Nuno Ferreira Santos
Forças policiais acompanham os protestos dos moradores do bairro do Zambujal após um homem ter sido morto por um agente da polícia na segunda-feira, na Amadora, 22 de outubro de 2024. JOÃO RELVAS/LUSA
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Forças policiais junto a homenagem dos moradores do bairro do Zambujal a Odair Moniz, na tarde desta terça-feira LUSA/JOÃO RELVAS
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Foram incendiados dois autocarros da Carris Metropolitana na noite desta terça-feira, 22 de Outubro, um na Portela de Carnaxide, concelho de Oeiras, outro no bairro do Zambujal, Amadora, onde já na noite passada dezenas de moradores tinham incendiado contentores, bloqueado estradas e arremessado objectos, em actos de protesto e revolta pela morte de Odair Moniz. O cidadão cabo-verdiano de 43 anos, residente no bairro do Zambujal, foi morto por um agente da PSP que o alvejou duas vezes, após uma perseguição policial na Cova da Moura.

Apesar de as forças de segurança terem permanecido, nesta terça-feira, no bairro do Zambujal para prevenir novos desacatos, voltaram a ser ateados fogos nas ruas. Foram também ouvidos disparos e lançados petardos, segundo jornalistas no local. A PSP confirmou uma detenção por posse de material combustível, a primeira ligada aos protestos neste bairro.

O autocarro que foi totalmente consumido pelas chamas no Zambujal estava vazio e não há registo de feridos. De acordo com o motorista, citado por fonte da PSP, e com uma moradora do bairro ouvida pela Lusa, o veículo terá sido mandado parar por um grupo de jovens, responsável pelo "furto" (como classifica a PSP) e por atear o incêndio.

Um segundo autocarro da Carris Metropolitana ardeu horas mais tarde na Portela de Carnaxide, concelho de Oeiras. Pelas 22h20, o chefe da área operacional do Comando de Lisboa da PSP (Cometlis), Manuel Gonçalves, admitiu que "tudo indica" que os acontecimentos estejam relacionados. Não há registo de feridos ou detenções.

Foi depois reforçada a presença policial naquela zona de Oeiras, de onde foram chegando relatos de vários novos focos de incêndio ao longo da noite, incluindo de pneus queimados na estrada e de um veículo ligeiro incendiado. Terão também sido feitos vários disparos, alguns por parte da PSP, indica a agência Lusa.

Autocarro incendiado na Portela de Carnaxide, Oeiras, na noite desta terça-feira. Nuno Ferreira Santos
Moradores da Portela de Carnaxide, Oeiras, na noite desta terça-feira. Nuno Ferreira Santos
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Autocarro incendiado na Portela de Carnaxide, Oeiras, na noite desta terça-feira. Nuno Ferreira Santos

O bairro do Zambujal está cercado por um forte contingente policial, que inclui dezenas de elementos do Corpo de Intervenção da Unidade Especial de Polícia. No local estiveram também os Bombeiros Voluntários da Amadora para combater as chamas que consumiram o veículo da Carris Metropolitana. Foram entretanto ateados novos fogos, apagados pela polícia com recurso a extintores.

Nesta noite foram registados pequenos focos de incêndio ateados em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa (AML), alguns ainda activos ao início da madrugada: em várias ruas da Damaia e no bairro do Casal da Mira, na Amadora; em Campo de Ourique e em Carnide, Lisboa; na Quinta da Fonte, em Loures; e em Odivelas.

Na Amadora, já perto das 2h, houve uma tentativa de atear fogo a um posto de abastecimento de combustível, que não chegou a provocar nenhuma explosão. A essa hora mantinham-se fechados no interior da loja do posto funcionários dessa bomba de gasolina, situada perto do bairro da Cova da Moura.

Pelas 2h30, um grupo do Corpo de Intervenção da PSP terá entrado na Cova da Moura, enquanto chegavam mais reforços policiais. Os jornalistas que permaneciam nos arredores do bairro relatavam sons de disparos, sem detalhes sobre o que motivou a polícia a entrar.

Em Sintra foi arremessado um objecto contra a esquadra da PSP de Casal de Cambra, sem causar danos, adiantou fonte da PSP à Lusa. Em Lisboa há esta noite um reforço da presença policial em diversos pontos por precaução.

Num ponto de situação feito à CNN perto da 1h da madrugada, o porta-voz da PSP Sérgio Soares informou que foi destacado um efectivo de investigação criminal para "tentar identificar os autores das desordens, nomeadamente de fogo posto e arremesso de objectos", e que está em curso uma operação de "recolha de informação" para tentar evitar novos desacatos na AML.

"Apesar de vários esforços, não foi possível, até ao momento, detectar e interceptar os suspeitos deste crime violento [autocarro incendiado no bairro do Zambujal]​, tendo, todavia, sido já efectuada uma detenção por posse de material combustível, que indiciava a sua utilização para deflagração de incêndio", lê-se num comunicado enviado pela Polícia de Segurança Pública às redacções, pelas 22h.

A PSP avisa ainda que "não tolerará os actos de desordem e de destruição praticados por grupos criminosos, apostados em afrontar a autoridade do Estado e em perturbar a segurança da comunidade".

No mesmo comunicado, a PSP diz "lamentar a morte" de Odair Moniz e deixa "uma palavra de solidariedade aos dois polícias envolvidos no incidente, bem como a todos os polícias envolvidos na reposição e manutenção da ordem pública no concelho da Amadora".

Pronunciando-se também sobre a operação policial que terminou com disparos de um dos agentes contra Odair Moniz, o superintendente da PSP Manuel Gonçalves quis salientar, em declarações aos jornalistas, que a morte aconteceu por "uma intervenção policial não provocada" pela PSP.

"Nós tentámos intervir em algo que nos pareceu suspeito e depois há um conjunto de situações a ser apuradas", disse, recorrendo a palavras vagas. "Os polícias também têm de ser acompanhados, não estou a dizer que são as vítimas, mas são pessoas intervenientes. Por um lado, apurar a sua responsabilidade, por outro, dar o devido acompanhamento."

Odair Moniz morreu na madrugada desta segunda-feira, 21 de Outubro, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, depois de ter sido baleado pela PSP. O agente, entretanto constituído arguido e indiciado por um crime de homicídio consumado, disparou ao todo quatro tiros, dois para o ar e dois em direcção ao corpo da vítima.

De acordo com o comunicado emitido pelas forças de segurança, Odair Moniz fugiu da PSP, mas esta força policial não explicou por que razão. Também não detalhou o que levou a pará-lo, explicando apenas que, antes de ser interceptado pela polícia, às 5h43 da madrugada, na Avenida da República, na Amadora, tinha fugido da polícia para o interior do Bairro Alto da Cova da Moura.

Segundo a família da vítima, Odair Moniz seguia no seu carro, um BMW, quando foi abordado pela polícia. O cidadão cabo-verdiano vivia em Portugal há mais de duas décadas e era cozinheiro num restaurante em Lisboa. Deixa três filhos, de 19, 18 e dois anos.

Câmara da Amadora apela à "manifestação pacífica". Isaltino desvaloriza desacatos

A Câmara Municipal da Amadora assegurou nesta terça-feira estar "a acompanhar de perto" os desacatos ocorridos no bairro do Zambujal, na sequência da morte de um morador baleado pela PSP na Cova da Moura, apelando à "manifestação pacífica".

"No âmbito das estreitas relações institucionais com a PSP, a Câmara Municipal da Amadora está a acompanhar de perto os eventos ocorridos recentemente no bairro do Zambujal e na Cova da Moura, relembrando que estão a decorrer as devidas diligências por parte dos órgãos de investigação criminal", indica a câmara presidida por Vítor Ferreira (PS), numa nota enviada à Lusa.

Lamentando todas as situações que ponham em causa "a ordem pública e a segurança de todos, bem como todos os actos de vandalismo no espaço público", o município do distrito de Lisboa apela "à manifestação pacífica, serena, sem violência de qualquer ordem".

Na nota, a Câmara Municipal da Amadora assegura ainda que continuará a intervir para garantir "a devolução do espaço público e equipamentos aos moradores".

Já pela 1h30 da madrugada, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, também reagiu aos desacatos desta noite, depois de se deslocar ao bairro da Portela de Carnaxide, onde foi incendiado um autocarro e ateados vários fogos.

Em declarações transmitidas em directo pelas televisões, o autarca insistiu em que o bairro está tranquilo e acusou os jornalistas de "alarmismo", de "lançarem achas para a fogueira" e de não ouvirem "os responsáveis políticos e policiais". "Neste momento, está tudo tranquilo", assegurou. "O papel do presidente da câmara é apelar à calma e à tranquilidade."

"O que se pretende é que as minorias que provocaram todos estes distúrbios se acalmem. Se aqueles que queimaram o autocarro ouvirem as palavras que estou a dizer e chegarem à conclusão que aqui não há lugar para essas situações, fazem muito bem", acrescentou, numa mensagem para os moradores responsáveis pelos desacatos em Oeiras.

Sobre o diálogo entre a autarquia e o Governo português, Isaltino Morais disse ainda não ter falado com nenhum representante do executivo porque "não houve oportunidade". "Neste momento, o mais importante é a polícia actuar e o presidente da câmara estar aqui. Acho que podia dar um contributo importante para isto se acalmar, por mim estava já dentro do bairro, mas a polícia recomendou-me que não entrasse."

Questionado pelos jornalistas sobre a contradição entre a tranquilidade a que se refere e os acontecimentos das últimas horas, o autarca reiterou que está "tudo calmo" e perguntou: "Mas há algum problema?" Com Lusa

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