Luís Montenegro diz que já foi vítima de cibercrime

Primeiro-ministro manteve tabu sobre recondução do director da Polícia Judiciária no cargo.

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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, foi alvo de um ciberataque o o mostrava a promover produtos financeiros Nelson Garrido (arquivo)
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O primeiro-ministro Luís Montenegro revelou esta segunda-feira, na cerimónia do 79.º aniversário da Polícia Judiciária, que já foi vítima de cibercrime mais de uma vez, tendo apresentado queixa nas autoridades.

"Da última vez eu aparecia a promover um produto financeiro", contou, explicando que o recurso à inteligência artificial quase nos faz duvidar de nós próprios e do que fizemos. "De repente começaram a aparecer intervenções minhas com a minha cara e a minha voz. É de uma gravidade brutal. Só se percebe facilmente que não se trata de algo verdadeiro pela utilização de Português do Brasil", descreveu, adiantando já ter apresentado três ou quatro queixas-crime depois do sucedido.

Dependendo das circunstâncias, pode estar em causa o crime de usurpação de identidade, tendo Montenegro afirmado desconhecer o desenlace destas suas queixas.

Questionados pelos jornalistas, nem o primeiro-ministro nem a ministra da Justiça, Rita Júdice, também presente na cerimónia, quiseram quebrar o tabu da recondução do actual director da Judiciária, Luís Neves. À frente desta força policial desde 2018, Luís Neves terminou o mandato vai para quatro meses, sem que sejam conhecidas as intenções do Governo quanto ao seu futuro. Já o próprio manifestou-se uma vez mais disponível para continuar a liderar a Judiciária.

"Estou motivado e o Governo, ao qual manifestei o meu interesse em devido tempo, sabe disso", declarou aos jornalistas. Se não tencionasse reconduzi-lo, para que teria o chefe do Governo vindo ao aniversário da Judiciária? - questionou Luís Neves, que tem dito e repetido ao longo destes quatro meses que o facto de continuar em gestão não lhe diminui os poderes. No seu discurso, o director da Judiciária fez questão de aludir à "desmotivação" que grassava nesta polícia quando foi escolhido para a liderar, por causa da falta de recursos materiais e humanos. "Partiu-se do desânimo, da desorçamentação, do envelhecimento", recordou. "Quando assumimos funções encontrámos um mapa de inspectores que dos seus 2000 elementos só tinha 968, com uma média de idades próxima dos 50 anos, e cujos equipamentos informáticos vinham dos tribunais e tinham oito anos de utilização".

Hoje o número de inspectores cresceu substancialmente e a dotação orçamental também. A Judiciária mantém um sistema de intercepções telefónicas ao qual afectou cerca de três milhões de euros, tendo o seu novo laboratório digital forense inaugurado esta segunda-feira custado sete milhões.

Garantindo estar "muito atento à necessidade de dar meios técnicos, humanos e legislativos às autoridades investigatórias e ao Ministério Público", Montenegro disse que disso depende também o prestígio público destas instituições. Afinal, sublinhou, a celeridade "é um ponto crucial para a confiança dos cidadãos no sistema de justiça", e sem eles ninguém pode exigir às autoridades que actuem com rapidez.

O chefe do Governo tentou ainda desmistificar os discursos que associam os imigrantes à criminalidade. "Os imigrantes são como os nacionais: todos cometem crimes", declarou, explicando que o número de estrangeiros nas cadeias, cerca de 15% a 17% da população reclusa, está dentro da média expectável.

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