Brasil é segundo mercado da EDP, e empresa vai investir 5 bilhões de euros até 2029

Empresa portuguesa vê o mercado brasileiro de energia como estratégico para seu crescimento. No Brasil, atende mais de 4 milhões de pessoas, quase a metade da população de Portugal.

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Empresa portuguesa tem no Brasil o seu segundo mercado e vai ampliar investimentos no país Rui Gaudêncio/Arquivo

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A EDP, uma das maiores empresas de energia do mundo, atende cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil, quase a metade da população de Portugal. A empresa tem desempenhado papel crucial no setor elétrico, com investimentos em energias renováveis, redes de distribuição e iniciativas de inovação que somam R$ 44,7 bilhões (7,4 bilhões de euros, no Brasil ou 7400 milhões de euros, em Portugal) desde 2005.

João Marques da Cruz, CEO da EDP South America, compartilhou com o PÚBLICO Brasil a trajetória da companhia no país, as iniciativas voltadas para a transição energética e os desafios que o futuro reserva. Nesta entrevista, ele fala sobre a experiência da empresa portuguesa para levar desenvolvimento para o Brasil, o resultou na geração de 12 mil empregos (diretos e indiretos).

Cruz antecipa que o plano de investimentos da empresa para o Brasil será da ordem de R$ 30 bilhões (5 bilhões de euros ou 5000 milhões de euros) até 2029. Além disso, ele aborda a mudança estratégica, que culminou no fechamento de capital da operação no Brasil, e os planos futuros para continuar liderando o setor de energia limpa no país.

Quais os investimentos da EDP desde que chegou ao Brasil?
São 28 anos no Brasil. Um período longo e com diferentes fases em termos de atuação e estratégia, portanto, seria difícil dimensionar investimentos e resultados para um período tão extenso. Mas, desde 2005, quando abrimos capital, foram R$ 44,7 bilhões de investimentos da EDP no país. Neste período, fomos reconhecidos diversas vezes por rankings, índices e prêmios como uma empresa referência no setor elétrico, em inovação e em sustentabilidade, o que reforça que nos consolidamos no Brasil como uma empresa que atua, com excelência, em todos os segmentos do setor elétrico.

Dentro do grupo EDP, também nos consolidamos como um mercado-chave, sendo o segundo maior mercado do grupo. E, desde o ano passado, começamos a escrever um novo capítulo da nossa história no país com o fechamento de capital para uma empresa mais eficiente, sinérgica e simplificada. Seguiremos investindo no Brasil, e estão previstos cerca de R$ 30 bilhões (5 bilhões de euros ou 5000 milhões de euros) para os próximos cinco anos em investimentos no país. Desta forma, reforçaremos nossas redes de distribuição e transmissão, expandindo o nosso portfólio de renováveis, prestando serviço de qualidade e oferecendo soluções competitivas aos nossos clientes. Por exemplo, como parte da estratégia de liderar a transição energética no Brasil, a EDP vem realizando investimentos em geração solar distribuída no mercado livre, em que é líder no modelo varejista.

Como a EDP Brasil contribui para a criação de empregos e o desenvolvimento econômico nas regiões onde opera no Brasil?
Importante começar essa resposta com uma correção. Em 2023, o Grupo EDP optou por realizar uma OPA, para fechar o capital da empresa no Brasil. A consequência disto é que, hoje, temos uma operação mais sinérgica e eficiente com foco na integração das atividades do Grupo na América do Sul, um dos nossos hubs de atuação, e que inclui também as atividades da EDP Renováveis. Por isso, somos agora EDP South America — um termo em inglês para entendimento de todos os mercados onde atuamos — e não mais EDP Brasil. Mas, respondendo à pergunta, temos cerca de 12 mil colaboradores, diretos e terceirizados no país.

Além da geração de empregos, por meio da nossa atuação em todos os segmentos do setor elétrico brasileiro, temos investido para oferecer serviços e produtos de qualidade e proporcionar uma infraestrutura robusta e confiável, que contribui não só para o desenvolvimento econômico, mas, também, para a transição energética com a expansão das fontes renováveis e das redes de transmissão e distribuição. São investimentos que conectam as regiões do Brasil, além de contribuírem para o crescimento e a modernização do setor elétrico no país e que trazem ganhos para a sociedade como um todo, visto que mais confiabilidade e capacidade de suprimento de energia elétrica suportam atividades produtivas e impulsionam o desenvolvimento econômico.

Quais iniciativas sociais a EDP Brasil apoia ou desenvolve que beneficiam diretamente as comunidades locais?
Há 16 anos, realizamos investimentos sociais no Brasil, com foco nas regiões em que temos operações, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento das comunidades por meio de ações relacionadas à educação, à valorização da cultura e do patrimônio histórico, à segurança e eficiência energética, à geração de renda e à inclusão social a partir do esporte e bem-estar. Em 15 anos, ou seja, entre 2008, quando o Instituto EDP iniciou suas atividades no Brasil, e 2023, foram R$ 225 milhões (37,5 milhões de euros) em investimento social no Brasil, por meio de 734 projetos que impactaram positivamente 4,3 milhões de pessoas em 15 estados onde a empresa atuou durante esse período. Apenas em 2023, a EDP destinou R$ 28,8 milhões (4,8 milhões de euros) a iniciativas socioambientais. As ações estão alinhadas aos pilares da estratégia ESG da EDP: educação inclusiva, transição energética justa, cultura transformadora e sociedade saudável.

A EDP Brasil tem algum programa específico voltado para a capacitação profissional e inclusão de mulheres e minorias no setor de energia?
Sim, temos a Escola de Eletricista, uma iniciativa gratuita, com turmas afirmativas dedicadas às mulheres, que tem como foco a formação profissional e a possibilidade de contratação ao final do curso. O curso é oferecido em São Paulo e no Espírito Santo, áreas onde a EDP atua como distribuidora. Os alunos recebem o material didático, uniforme e equipamentos de proteção individual (EPIs), além de bolsa-auxílio. Para concorrer, é necessário ter acima de 18 anos e ensino médio completo.

O curso conta com aulas teóricas e práticas a respeito dos princípios e leis que regem o funcionamento de sistemas elétricos. O intuito é promover aprendizado sobre os procedimentos e técnicas necessárias para planejamento, execução, avaliação e inspeção das redes, bem como sobre manutenções preventivas e corretivas, dentro das normas técnicas e de segurança. Ao final do curso, os estudantes recebem um certificado chancelado pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e passam a fazer parte do banco de talentos da EDP e de empresas parceiras, podendo participar de processos seletivos para vagas efetivas.

Quais são as principais iniciativas da EDP Brasil no âmbito da energia renovável? Que resultados já foram alcançados?
A estratégia da EDP para a sua operação no Brasil tem como foco redes distribuição e transmissão e fontes renováveis. A empresa tem atuado para liderar a transição energética e está comprometida em se tornar 100% verde até 2030. No Brasil, a EDP tem investido continuamente em distribuição – para modernização e resiliência das nossas redes , e nos lotes de transmissão que temos ganhado nos leilões. Como um player que atua em toda a cadeia energética, não poderíamos deixar de atuar também em geração renovável solar e eólica.

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João Marques da Cruz, CEO da EDP South America, diz que empresa está investindo em energias renováveis no Brasil Arquivo pessoal

Até 2026, a companhia prevê atingir uma capacidade instalada de cerca de 500 MWp, com aportes anuais de aproximadamente R$ 600 milhões (100 milhões de euros). Atualmente, a EDP possui 90 usinas solares de geração distribuída no Brasil, com capacidade instalada total de 258 MWp. Desse total, 76 usinas (209 MWp) estão em operação, sendo 89 MWp dedicados para a geração distribuída compartilhada. Outras 14 usinas (49 MWp) estão em construção ou aguardando energização. A energia eólica também faz parte do portfólio de produtos da EDP no Brasil e, atualmente, temos 1.2 GW com projetos em quatro estados do Brasil, sendo que, no Nordeste estão 75% dos ativos. Outros dois parques eólicos estão em construção e a empresa vai investir R$ 1,6 milhão (266 mil euros) nos próximos dois anos.

De que forma a EDP Brasil está trabalhando para aumentar a eficiência energética nas suas operações e nos serviços oferecidos aos consumidores?
Temos alguns projetos nesse sentido, que visam o uso consciente da energia, por exemplo. No Espírito Santo, a empresa investiu nos últimos 18 meses mais de R$ 16 milhões (2,6 milhões de euros) voltados a projetos que contribuem para a conservação e o uso racional da energia em unidades consumidoras públicas e privadas. Mais de 126 mil pessoas já foram beneficiadas com as iniciativas, que integram o Programa de Eficiência Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No âmbito da iluminação pública, a EDP ES investiu, nesse período, cerca de R$ 3 milhões (500 mil euros) em vários municípios, incluindo Alegre, Serra, Muqui, Rio Novo do Sul, Linhares, Ponto Belo, Vargem Alta, Santa Maria de Jetibá e Muniz Freire.

Os recursos permitiram a substituição de mais de 5200 luminárias antigas por tecnologia LED. Em São Paulo, por meio da chamada pública de seu Programa de Eficiência Energética, a EDP SP investiu R$ 2,1 milhões (350 mil euros) em quatro projetos, nos municípios de Poá e São Sebastião, que envolvem a instalação de um sistema de captação de energia solar para o abastecimento do Hospital Municipal de Poá, além da modernização do sistema público de iluminação de São Sebastião. A companhia também fará a substituição de 3346 luminárias de maior consumo por LED na Universidade Federal de São Paulo, em Guarulhos.

Como a EDP Brasil enxerga o papel das energias renováveis no futuro da matriz energética brasileira?
Estamos em uma década decisiva para o futuro do planeta, pois precisamos acelerar os esforços a fim de reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Um dos grandes desafios é ampliar a participação de fontes renováveis em todo o mundo, mas, nesse sentido, o Brasil se mostra como uma referência, já que as fontes renováveis sempre foram massivas na matriz no país. Mesmo assim, ainda há espaço para avanços. Temos investido nas fontes renováveis, principalmente eólica e solar, com foco na geração solar distribuída.

Mas como a matriz do país já é majoritariamente limpa, vale falarmos sobre outros desafios para a transição energética no Brasil. Para suportar o crescimento das fontes renováveis e garantir o transporte da energia gerada, é fundamental ampliar e reforçar a infraestrutura de transmissão, um dos pilares prioritários na estratégia de crescimento da EDP no Brasil. Em março, arrematamos os lotes 2, 7 e 13 no Leilão de Transmissão 01/2024, que compreendem a construção de 1.388 quilômetros de linhas de transmissão e duas subestações em quatro estados: Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins. Por fim, destaco a importância democratizar o acesso à energia renovável. Por isso, é importante que a abertura do mercado livre de energia continue evoluindo.

A EDP tem uma atuação forte e consolidada no mercado livre de energia e vem ampliando seu portfólio e se preparando para atender a todos os tipos de clientes a cada vez que essa abertura avançar. Enquanto isso, uma das soluções que temos oferecido para tornar a energia renovável mais acessível é o Solar Digital, um serviço de assinatura de energia solar. Pode ser assinado de forma totalmente online e não requer investimento na instalação de placas solares nem alterações na rede elétrica. A energia gerada pelas usinas solares de geração distribuída da EDP é injetada na rede elétrica da distribuidora local e se transforma em créditos que são compensados na fatura do cliente.

A EDP Brasil tem investido em novas tecnologias, como a digitalização e a automação, para melhorar a eficiência e a sustentabilidade de suas operações? Quais são as principais inovações em andamento?
Sim, a estratégia de inovação da EDP está focada nas áreas de energia renováveis, redes do futuro, geração distribuída, armazenamento e flexibilidade, mobilidade elétrica, descarbonização, digitalização e inteligência artificial. Essas iniciativas são realizadas por meio de parcerias com o ecossistema de inovação e startups, programas globais de inovação aberta, investimentos em startups e projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Alguns exemplos de projetos que expusemos no Web Summit Rio 2024 são: o “IoT4 Solar”, uma solução tecnológica baseada em IoT (Internet das Coisas), da Microsoft, que permite a conectividade com usinas solares e a captura de dados para o monitoramento destes ativos.

A partir do histórico desses dados, é possível implementar modelos para análise preditiva e prescritiva; e o de “sensores vestíveis”, que é voltado à segurança das equipes que atuam em campo e que se trata de um sensor para o capacete dos eletricistas, permitindo identificar, durantes as atividades, aspectos relacionados ao risco da operação. Outra novidade que será muito discutida nos próximos meses pelo setor é a questão das baterias. É fundamental para o bom funcionamento e evolução do setor elétrico que os leilões previstos para esse novo segmento sejam bem estruturados e possibilitem um arranque positivo.

Como a empresa está se preparando para os desafios e oportunidades trazidos pela transição energética, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de novas tecnologias?
Como falei as baterias serão um grande e disruptivo avanço para a evolução do setor elétrico. Em paralelo a isso, acreditamos que a inovação tem um papel fundamental na transição energética. Temos um programa global, o Energy Starter, que tem como objetivo conectar startups e empresas tecnológicas em rápido crescimento (scaleups) à EDP em todo o mundo. Entendemos que o programa deve acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras, que contribuam para a transição energética por meio da descarbonização, mobilidade elétrica e geração solar distribuída, nos aproximando do ecossistema de startups e auxiliando no desenvolvimento de novos projetos, aplicação de tecnologias de ponta e compartilhamento de conhecimento. O programa é formado por três módulos, cada um focado em uma área de negócio: redes de energia, soluções para clientes e energias renováveis.

A EDP Brasil colabora com startups ou outras empresas de tecnologia no Brasil para fomentar a inovação no setor de energia?
Sim, nas últimas sete edições do Energy Starter, que acabei de citar, por exemplo, a EDP selecionou 192 startups finalistas, de 27 países, sendo 46 brasileiras e duas chilenas. De um ponto de vista mais amplo, em 2023, foi registrado um recorde de investimento em startups na América Latina, incluindo o Brasil: foram mais de R$ 20 milhões (3,3 milhões de euros) em quatro startups. Um outro exemplo é o compromisso que assumimos em 2022 para fomentar a inovação no Espírito Santo, com representantes do Governo do Estado, instituições e academia por meio da Mobilização Capixaba pela Inovação (MCI).

O compromisso tem como base três pilares: a contratação de startups capixabas, a busca por oportunidades de investimento em startups locais e a geração de talentos. Como parte das ações, a EDP tem avançado e vem fechando projetos inovadores com startups locais. A empresa já investiu cerca de R$ 450 mil (75 mil euros) em oito contratos com seis startups para o desenvolvimento de Provas de Conceito (POCs — de Proofs of Concept, em inglês) e iniciativas que contribuem para soluções inovadoras relacionadas a desafios do negócio.

Como a EDP Brasil está se preparando para enfrentar os efeitos da crise climática, que tem castigado as grandes cidades e afetado o abastecimento de energia elétrica?
A EDP atua com reforço do quadro de equipes técnicas para os atendimentos que exigem trabalho em campo e no Centro de Operações Integrado (COI), garantindo a máxima segurança à população e a continuidade do fornecimento de energia em suas áreas de atuação. As ferramentas de meteorologia contribuem para a estratégia de atuação. Em 2023, a EDP avançou em seu Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas. A tecnologia é aliada fundamental para garantir a redução do impacto aos clientes, a partir do uso da automatização, que permite o gerenciamento e manobras no sistema de forma remota.

Existem equipamentos de religação automática do sistema, que beneficiam cerca de 80% dos clientes, que identificam o local do defeito e promovem manobras na rede de forma automatizada. Cerca de 89% dos atendimentos da companhia são realizados pelos canais virtuais, site e aplicativo. Em momentos de grande volume de ocorrências, os clientes buscam também o call center. Durante o Plano Verão, a EDP reforça o efetivo de atendentes. A EDP atua com trabalho preventivo, ao longo do ano, com poda de árvores sobre as redes elétricas. O trabalho é realizado por equipes especializadas e seguem critérios de meio ambiente. Além disso, a parceria entre EDP e prefeituras.

Quais são os principais benefícios de fazer parte de um grupo internacional como a EDP, especialmente no que tange à transferência de conhecimento e tecnologia entre as operações no Brasil e em Portugal?
Somos uma empresa global que atua em cinco continentes, América do Norte, Ásia-Pacífico, Europa, América do Sul e Oceania. No decorrer das últimas décadas, temos procurado trabalhar de forma cada vez mais integrada, entre nossos mercados de atuação, com iniciativas que estão muito alinhadas, pois partem de uma estratégia que é global e tem foco nas energias renováveis e no segmento de redes. Falo sempre da importância da partilha entre as equipes. Partilha-se tudo, mas entendemos que as decisões devem levar em conta a realidade do mercado local, e por isso, as decisões operacionais são tomadas no âmbito da EDP South America, pois são as gerências locais que sabem, acompanham e entendem o mercado. Essas decisões estão obviamente alinhadas com a estratégia global definida. É assim que atuam as empresas que respeitam a realidade local: um misto de estratégia global com atuação local, respeitando os clientes que servimos num mercado.

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