Presidente pró-europeia da Moldova denuncia “ataque sem precedentes à democracia”

“Sim” no referendo que consagra a adesão na Constituição moldova lidera com curta vantagem. Presidenciais vão decidir-se na segunda volta.

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Maia Sandu falou aos apoiantes para comentar resultados provisórios Vladislav Culiomza / REUTERS
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Vitoriosa, mas por uma margem menor do que o esperado e a ter de disputar uma segunda volta, a Presidente da Moldova, Maia Sandu, acusou “grupos criminosos” e “forças estrangeiras hostis” de tentarem “minar um processo democrático” através da compra de 300 mil votos. “O seu objectivo era semear o medo e o pânico na sociedade”, afirmou em declarações aos apoiantes, enquanto os votos do referendo que propôs para incorporar na Constituição o princípio da futura adesão à União Europeia, continuavam a ser contados.

Depois de o “não” na consulta ter estado à frente durante grande parte da contagem, os resultados conhecidos já nesta segunda-feira de manhã, com 98,5% dos boletins escrutinados, colocam o “sim” em ligeira vantagem, com 50,17%, depois de incluídos os votos da diáspora.

Tanto na eleição presidencial como no referendo, as sondagens antecipavam resultados muito mais favoráveis a Sandu, com pelo menos 60% de apoio à consulta que decidiu convocar depois de um processo iniciado com a entrega da candidatura oficial, a 3 de Março de 2022, acelerado pelos receios provocados pela invasão russa da Ucrânia.

“A Moldova enfrentou um ataque sem precedentes à liberdade e à democracia do nosso país, tanto hoje como nos últimos meses”, afirmou ainda a líder do partido pró-europeu Acção e Solidariedade anunciou a abertura de uma investigação sobre fraude eleitoral.

Numa assembleia de voto para os residentes da região separatista da Transnístria, apoiada pela Rússia, um produtor da BBC ouviu uma mulher que tinha acabado de votar perguntar a um observador eleitoral onde é que seria paga. Já no exterior, questionada sobre se lhe tinha sido “oferecido dinheiro para votar, ela admitiu-o sem hesitações”. “Estava zangada porque o homem que a tinha enviado para a assembleia de voto já não respondia às suas chamadas. ‘Ele enganou-me!’”, cita a emissora britânica num texto no seu site.

Sabe-se que a Rússia investiu recursos para tentar impedir que o “sim” à introdução da adesão à UE na Constituição vencesse o referendo e que Sandu não fosse reeleita. Os serviços de informação moldavos estimaram que o Kremlin tenha canalizado mais de cem milhões de euros para financiar a campanha contra a adesão e a polícia deteve centenas de suspeitos de tentar perturbar o processo eleitoral a mando de Moscovo, acusações que o Kremlin rejeita “categoricamente”.

Em causa estaria um esquema de compra de votos “sem precedentes” para envolver até um quarto dos eleitores no país de 2,6 milhões de habitantes.

Mesmo que o “sim” acabe por ganhar por uma margem estreita, este resultado, embora não ponha em causa as negociações de adesão com a UE, “enfraquece de certa forma a imagem pró-europeia da população e da liderança de Maia Sandu”, comentou o politólogo francês Florent Parmentier, especialista em Europa de Leste, em declarações à AFP.

Sandu, ex-conselheira do Banco Mundial eleita em Novembro de 2020 com uma agenda pró-europeia e um perfil reformista anticorrupção, obteve quase 42% dos votos. Na segunda volta, a 3 de Novembro, vai enfrentar Alexandr Stoianoglo, apoiado pelos socialistas pró-russos, que, segundo os resultados parciais, obteve mais de 26% dos votos.

Mas o principal rosto da oposição pró-russa é Ilan Shor, o oligarca alvo de sanções dos Estados Unidos e da UE que fugiu do país em 2019 depois de ser condenado por fraude bancária. Shor ofereceu-se abertamente nas redes sociais para pagar aos moldavos para convencerem outros a votar de determinada maneira, defendendo que era uma utilização legítima do dinheiro que ganhou.

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