Trump escolhe falar do pénis de um golfista num comício na Pensilvânia

O candidato do Partido Republicano voltou a desviar-se do guião e acabou a elogiar a virilidade do seu amigo Arnold Palmer quando havia afirmado que iria apresentar o seu argumento final da campanha.

Foto
Donald Trump no palco do comício de Latrobe, Pensilvânia JUSTIN MERRIMAN / EPA
Ouça este artigo
00:00
03:49

No comício de sábado à noite na Pensilvânia, Donald Trump baixou a fasquia do discurso a um nível que levou o New York Times (NYT) a noticiar que o ex-Presidente “desceu a novos níveis de vulgaridade”, que incluíram classificar a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e sua adversária na corrida como “merdosa”.

“Kamala, estás despedida”, disse Trump, usando a bengala habitual do programa de televisão que o celebrizou nos Estados Unidos, The Apprentice, que é também o nome do filme sobre a construção da figura, realizado por Ali Abbasi, que esta semana se estreou nos cinemas em Portugal.

Em Latrobe, Pensilvânia, voltando a desviar-se do guião estabelecido pelos seus assessores de campanha, temerosos que os ataques verbais mais coloridos possam afastar os eleitores indecisos que o candidato republicano precisa de convencer para ganhar as eleições de 5 de Novembro, Trump acabou a falar do impressionante pénis de um golfista morto, neste caso o herói da cidade, Arnold Palmer, falecido em 2016.

“Ele tomava banho com os outros profissionais e eles saíam de lá a dizer ‘oh, meu Deus, é inacreditável”, disse.

Para Michael Gold, o jornalista do NYT que assistiu ao comício, a 17 dias do fim da campanha, num estado crucial para as contas finais da eleição, como é a Pensilvânia, Donald Trump pareceu demonstrar que está “cada vez mais sem filtros e indisciplinado”. Porque se o discurso até cai bem entre os seus apoiantes, que repetem as suas palavras e aplaudem a sua brejeirice, mesmo quando ela roça a obscenidade, há uma camada de eleitores indecisos que a campanha republicana teme ver afugentada com este tipo de linguagem.

Podem ser uma pequena percentagem da população, entre 2% e 5%, de acordo com as sondagens, mas podem ser eles a decidir a eleição votando em Trump ou em Kamala Harris nos estados em que a diferença nas intenções de voto entre os candidatos é ínfima.

São estes eleitores “que estão menos ligados ao sistema político bipartidário”, dizia ao USA Today o investigador David Paleologos, do Centro de Investigação Política da Universidade de Suffolk, a quem nenhum dos candidatos agrada propriamente, que “podem ter o maior impacto nestas eleições se forem para um ou para o outro [candidato]”.

Como escreve a Reuters, Trump tinha anunciado que no comício de Latrobe iria começar a apresentar o seu “argumento final” para convencer os eleitores a votarem nele, mas rapidamente se deixou levar pela improvisação, puxando o cordel de um discurso que o levou para um lugar que permitiu à campanha democrata reagir: “O argumento final de Trump na Pensilvânia é literalmente lixo (…) centrando-se na questão mais importante para os eleitores nestas eleições: a anatomia de um falecido golfista.”

A própria Kamala Harris, que este domingo festeja o seu 60.º aniversário no estado da Georgia, não deixou de aproveitar as deambulações retóricas de Trump para o atacar num comício em Atlanta: “Quando responde a uma pergunta ou discursa num comício, já repararam que tem tendência a sair do guião e a divagar, geralmente para a sua vida, e não consegue terminar um raciocínio? Ele chama-lhe a trama, mas penso que nós aqui lhe podemos chamar disparates.”

Para Gold, o que não se percebeu do comportamento de Trump em Latrobe, no aeroporto que tem o nome de Palmer, é se “as explosões e os insultos são uma expressão da frustração por a campanha se estar a arrastar ou um reflexo do seu desejo de entreter multidões”.

O certo é que, como escreve o Washington Post, os dez minutos que Donald Trump gastou falando de Arnold Palmer, desse “homem forte e duro” que tanto admirava pela sua virilidade, foi mais ou menos a duração do discurso que Kamala Harris fez no sábado em Detroit instando as pessoas a irem votar no dia 5 de Novembro.

No entanto, visto pelo lado da Fox News, nas duas horas de comício do ex-Presidente em Latrobe, perante uma plateia de milhares, incluindo famílias com crianças, não houve referência a genitais, mas à sua grande amizade com o golfista: “Não havia ninguém que tivesse a sua magia. Ele era um espectáculo. Sabia como ganhar e sabia o que fazer para electrizar uma multidão. Se estivesse agora aqui comigo, esta multidão estaria enlouquecida, diriam ‘Trump, sai do palco, queremos ouvir o Arnold Palmer’.”

Sugerir correcção
Ler 32 comentários