Milhões de cubanos continuam sem electricidade à medida que a crise se agrava

Passagem do furacão Oscar pela ilha complicou ainda mais os esforços do Governo para restaurar a distribuição de electricidade.

Foto
Milhões de cubanos continuavam sem electricidade este domingo Norlys Perez / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:54

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Milhões de cubanos acordaram no domingo com as suas casas ainda sem electricidade, depois de uma nova falha parcial da rede durante a noite, aprofundando uma crise que tem levantado questões sobre a viabilidade dos esforços do Governo para restabelecer o serviço eléctrico.

O mais alto responsável pelo sector da electricidade, Lázaro Guerra, confirmou no sábado, ao fim da tarde, um colapso parcial da rede eléctrica nas províncias ocidentais de Cuba, onde se inclui Havana.

Os técnicos estavam a trabalhar para resolver o problema, disse Guerra, mas não deu um prazo para o restabelecimento da energia na região.

A capital, com cerca de dois milhões de habitantes, parecia estar totalmente sem electricidade no domingo de manhã, enquanto muitos cubanos formavam filas para comprar rações subsidiadas e reflectiam sobre a situação fora das suas casas.

O jornal digital estatal CubaDebate informou que a maior central de energia do país, Antonio Guiteras, voltou a funcionar no domingo e começaria a contribuir para o recomeço do serviço ao longo do dia.

Uma terceira falha na rede eléctrica, no final do dia de sábado, marcou um grande retrocesso nos esforços do Governo para restabelecer rapidamente a electricidade aos residentes exaustos que sofrem já de uma grave escassez de alimentos, medicamentos e combustível.

O furacão Oscar atingiu o nordeste de Cuba na madrugada de domingo, ameaçando complicar ainda mais os planos do Governo para restaurar a energia.

O Instituto Meteorológico de Cuba alertou para “uma situação extremamente perigosa”​ no Leste do país. Toda a região ficou praticamente sem electricidade e sem comunicações antes da tempestade, que no meio da manhã de domingo teve ventos de até 161 quilómetros por hora.

A rede eléctrica nacional de Cuba sofreu um primeiro colapso por volta do meio-dia de sexta-feira, depois de a maior central eléctrica da ilha ter deixado de funcionar, provocando o caos. No sábado de manhã, a rede eléctrica voltou a entrar em colapso, segundo a imprensa estatal.

No início da noite de sábado, as autoridades relataram alguns progressos no restabelecimento da energia eléctrica, antes de anunciarem um novo colapso parcial da rede.

“O processo de restabelecimento do sistema eléctrico continua a ser complexo”, declarou o Ministério da Energia cubano na rede social X (antigo Twitter).

Tensões crescentes

Repórteres da Reuters testemunharam dois pequenos protestos durante a noite depois da falha que deixou Havana às escuras no final de sábado, um em Marianao, nos arredores da capital, e outro no centro de Cuatro Caminos. Vários vídeos de protestos em outros lugares da capital começaram a surgir nas redes sociais no final do sábado, mas a Reuters não conseguiu verificar a sua autenticidade.

O tráfego da Internet caiu drasticamente em Cuba no sábado, de acordo com dados do grupo de monitorização da Internet NetBlocks, uma vez que os vastos cortes de energia tornaram praticamente impossível para a maioria dos residentes da ilha carregar os telemóveis e ligar-se à Internet.

“Os dados da rede mostram que Cuba continua em grande parte offline enquanto a ilha sofre um segundo corte de energia a nível nacional”, disse a Netblocks no sábado.

Mesmo antes das falhas na rede, uma grave falta de electricidade na sexta-feira tinha forçado o Governo a mandar para casa os trabalhadores não essenciais do Estado e a cancelar as aulas, numa tentativa de economizar combustível.

O Governo atribuiu as semanas de agravamento dos apagões – que duraram 10 a 20 horas por dia em grande parte da ilha – à deterioração das infra-estruturas, à escassez de combustível e ao aumento da procura.

Cuba também culpa o embargo comercial dos EUA, bem como as sanções instituídas pelo ex-presidente Donald Trump, pelas dificuldades contínuas na aquisição de combustível e peças sobressalentes para operar e manter suas centrais.

Os EUA negaram qualquer papel nas falhas da rede.

Cuba produz pouco do seu próprio crude. O fornecimento de combustível à ilha diminuiu significativamente este ano, uma vez que a Venezuela, a Rússia e o México, antes importantes fornecedores, reduziram as suas exportações para Cuba.

A Venezuela reduziu para metade as suas entregas de combustível subsidiado a Cuba este ano, forçando a ilha a procurar petróleo mais caro no mercado à vista. Reuters

Sugerir correcção
Ler 4 comentários