Cuba recupera parte da energia depois de um “apagão” nacional

O governo fechou escolas e indústrias não essenciais. A escassez de combustível e a deterioração das infra-estruturas são as causas da crise, com governo a apontar o dedo também ao embargo dos EUA.

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Semáforos desligados em Cuba devido à falta de electricidade, esta sexta-feira Ernesto Mastrascusa / EPA
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Uma livraria sem electricidade em Havana Ernesto Mastrascusa / EPA
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Uma loja fecha devido à falta de energia Ernesto Mastrascusa / EPA
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Cuba restabeleceu parte do fornecimento de energia eléctrica da rede a meio da noite de sexta-feira, informaram as autoridades, horas depois de a ilha ter mergulhado num apagão a nível nacional, na sequência do colapso de uma das suas principais centrais eléctricas.

A grande maioria dos 10 milhões de habitantes do país ainda estava às escuras na noite de sexta-feira, mas algumas zonas dispersas da capital Havana, incluindo alguns dos principais hospitais da cidade, viram as luzes voltarem a piscar pouco depois do anoitecer.

O operador da rede UNE disse que esperava reiniciar pelo menos cinco das suas centrais de produção alimentadas a petróleo durante a noite, fornecendo electricidade suficiente, disse, para começar a devolver a energia a áreas mais vastas do país.

O governo de Cuba já tinha encerrado escolas e indústrias não essenciais e enviado para casa a maior parte dos trabalhadores do Estado, num esforço de última hora para manter as luzes acesas.

No entanto, pouco antes do meio-dia, a central eléctrica de Antonio Guiteras, a maior e mais eficiente do país, foi desligada, provocando uma falha total da rede e deixando cerca de 10 milhões de pessoas sem energia.

As autoridades não avançaram as causas da avaria. As autoridades disseram no final do dia da sexta-feira que estavam a trabalhar para resolver o problema que tinha levado à falha da central a petróleo.

"Não haverá descanso enquanto não for restabelecida a electricidade", declarou o Presidente cubano Miguel Diaz-Canel, na rede social X.

O apagão é um novo problema numa ilha onde a vida se está a tornar cada vez mais insuportável, com os habitantes a sofrerem já com a escassez de alimentos, combustível, água e medicamentos.

A falta de electricidade já tinha levado as autoridades a suspender todos os serviços públicos não vitais na sexta-feira. As escolas, incluindo as universidades, foram encerradas até domingo e as actividades recreativas e culturais, incluindo os clubes nocturnos, foram igualmente encerradas.

Prime Minister Manuel Marrero this week blamed worsening blackouts during the past several weeks on a perfect storm well-known to most Cubans - deteriorating infrastructure, fuel shortages and rising demand.

Praticamente todo o comércio da capital Havana parou na sexta-feira. Muitos residentes sentavam-se a suar nas soleiras das portas. Os turistas agacharam-se, frustrados. Ao cair da noite, a cidade estava quase completamente envolta em escuridão.

"Fomos a um restaurante e não tinham comida porque não havia energia, agora também estamos sem internet", conta o turista brasileiro Carlos Roberto Julio, recém-chegado a Havana. "Em dois dias, já tivemos vários problemas".

O primeiro-ministro Manuel Marrero atribuiu o agravamento dos cortes de electricidade nas últimas semanas a problemas bem conhecidos da maioria dos cubanos: a deterioração das infra-estruturas, a escassez de combustível e o aumento da procura. "A escassez de combustível é o factor mais importante", afirmou Marrero numa mensagem televisiva à nação.

Os fortes ventos que começaram com o furacão Milton, na semana passada, prejudicaram o abastecimento das centrais eléctricas, segundo as autoridades.

O governo de Cuba culpa também o embargo comercial dos EUA, bem como as novas sanções do ex-presidente Donald Trump, pelas dificuldades em adquirir combustível e peças sobressalentes para operar as centrais.

"O cenário complexo é causado principalmente pela intensificação da guerra económica e pela perseguição financeira e energética dos Estados Unidos", declarou Diaz-Canel no X, na quinta-feira.

"Os Estados Unidos não são responsáveis pelo apagão de hoje na ilha, nem pela situação energética geral em Cuba", declarou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Um funcionário do Departamento de Estado disse no final da sexta-feira que Washington estava a acompanhar de perto o potencial impacto humanitário do apagão, mas que o governo cubano não tinha pedido ajuda.

Para muitos cubanos, afastados da política e habituados a cortes regulares de electricidade, o apagão nacional não foi mais do que uma noite normal de sexta-feira.

Carlos Manuel Pedre disse que, para passar o tempo, tem recorrido a prazeres simples.

“Nos tempos que estamos a viver, com tudo o que está a acontecer no nosso país, o entretenimento mais lógico é o dominó”, disse ele enquanto jogava o jogo com amigos. “Estamos numa crise total”.

Venezuela envia menos petróleo

O maior fornecedor de petróleo de Cuba, a Venezuela, reduziu as remessas para a ilha para uma média de 32.600 barris por dia nos primeiros nove meses do ano, cerca de metade dos 60.000 bpd enviados no mesmo período de 2023, de acordo com dados da empresa estatal venezuelana PDVSA.

A PDVSA, cuja infra-estrutura de refinação também está em dificuldades, tentou este ano evitar uma nova onda de escassez de combustível no país, deixando volumes menores disponíveis para exportação para países aliados como Cuba.

A Rússia e o México, que no passado enviaram combustível para Cuba, também reduziram consideravelmente as remessas para a ilha.

As carências deixaram Cuba a defender-se sozinha nos mercados, muito mais caro, numa altura em que o seu governo está quase falido.

Actualizado às 08:44 com o recuperar da energia durante a noite