Frederico Varandas ataca Pinto da Costa e Vieira: “O jogo estava viciado à partida”

Em entrevista à RTP, o presidente do Sporting garante que as fases de transição no plantel e na estrutura estão acauteladas. E considera “muito difícil” que Gyokeres saia em Janeiro.

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O momento cintilante que o Sporting atravessa, o futuro de Ruben Amorim, o assédio a Gyökeres e as alterações na orgânica interna fruto da anunciada saída do director desportivo, Hugo Viana. Frederico Varandas, presidente dos “leões” desde Setembro de 2018, abordou todos estes temas numa entrevista à RTP, denunciando também as manchas que caíram sobre a reputação do futebol português nos últimos anos, sob a batuta de Pinto da Costa e de Luís Filipe Vieira.

Confirmada que está a contratação de Viana pelo Manchester City, uma das perguntas frequentes tem girado em torno do impacto desta movimentação. Que reflexos terá no futuro de Ruben Amorim ou de Viktor Gyökeres, dois dos grandes activos do Sporting nesta altura? Varandas admite o peso que esta fórmula teve para alavancar o clube, mas prefere focar-se no modelo em vigor.

“Foi um triângulo fundamental para o crescimento do Sporting. Hugo Viana merece tudo, vai para um dos clubes mais poderosos do mundo, algo que nunca aconteceu em Portugal, mas isso é muito mérito da forma como o Sporting é visto lá fora”, sustentou, lembrando que o actual treinador tem contrato até 2026. “Para mim isso não é assunto, vivo do que controlo e do presente. Quando é que vou perder Ruben Amorim? O que é fantástico é que um dos melhores treinadores do mundo está há cinco anos no Sporting”.

O dirigente colocou o enfoque no planeamento a prazo e desvalorizou o cenário da perda de jogadores influentes, a começar pelo goleador Viktor Gyökeres, que tem despertado a cobiça de emblemas mais poderosos no continente. “Estou há vários anos preparado para pensar, quando aquela peça sair, que peça é que vai entrar. Com uma garantia para mim: a qualidade do trabalho interno tem de se manter”, enfatizou, considerando que não é impossível, mas que é “muito, muito difícil” que o avançado sueco saia já em Janeiro, no mercado de Inverno.

A respeito do organograma interno, admitiu, há uma mudança na calha, quando se fechar o ciclo de Hugo Viana. “Ficou muito claro que vamos ter um director geral e um director de scouting/director técnico. O director geral será sempre mais o director operacional de toda a máquina, e o director de scouting continuará a fazer o que fazia e será o braço direito do treinador na elaboração do plantel, juntamente com o presidente”.

As dificuldades iniciais

Para Frederico Varandas, o que é inegociável é o modelo de sustentabilidade que conduziu o Sporting ao sucesso desportivo recente, mas também à solidez financeira traduzida por cinco épocas de exercícios positivos.

“Hoje vivemos uma fase que eu, em 45 anos, nunca vivi. Recuperámos o clube financeiramente, garantimos e reforçámos a maioria do capital da SAD, investimos no estádio e na academia, temos o maior número de sócios de sempre com as quotas em dia e uma lista de espera de 8000 pessoas”, enunciou.

Para aqui chegar, foi preciso ir derrubando barreiras e eliminando a desconfiança gerada por um passado de maior incerteza e dificuldade. Um exemplo? “Lembro-me que para fechar o Nuno Santos, 3,5 milhões de euros à data, foram quase cinco dias para fechar o negócio, com o Rio Ave a exigir garantias do pagamento do IVA. Isto é para se perceber a credibilidade que o Sporting não tinha à data”, adiantou.

O próprio processo da contratação de Ruben Amorim, a quem elogiou a coragem de ter assumido um desafio exigente em tempos de maior incerteza, mostra que o capital de que os “leões” gozavam no exterior (e não só) estava distante do reconhecimento que vivem actualmente. Prova disso são as abordagens feitas a treinadores como Rui Jorge, Quique Setien ou Unai Emery, que rejeitaram a hipótese de se mudarem para Alvalade.

A “portização do Benfica”

Menos confortável mostrou-se Frederico Varandas quando foi questionado sobre se a dupla que forma com Ruben Amorim poderia, em tese, ser comparada à dupla Pinto da Costa/José Maria Pedroto, pelo impacto no crescimento do clube.

“Já fui insultado de tudo, durmo bem com isso, mas essa comparação com o senhor Pinto da Costa está a um nível difícil de superar. Não por falta de inteligência, competência, astúcia, mas por uma razão muito simples: para mim, toda a inteligência que uma pessoa possa ter vale zero, é uma fraude, se não foi alicerçada em valores como a ética. Para mim, seria horrível se fosse comparado com esse presidente”.

E por falar em Pinto da Costa, o presidente do Sporting aproveitou o mote para juntar os antigos presidentes de FC Porto e Benfica no mesmo saco, em matéria de danos que entende que causaram à modalidade, no que descreve como “o segundo período negro do futebol português”.

“Estes dois períodos têm dois rostos: Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Está claro. Estes casos são reflexo de todas as más práticas, falta de ética ao longo de anos e anos. Isto é a prova de que o jogo estava viciado à partida. Algum português ao ouvir as escutas do Apito Dourado tem dúvidas de quem é Pinto da Costa? E o caso de César Boaventura é um caso de amor, em que um empresário decide gastar dezenas de milhares de euros para corromper um jogador para favorecer o Benfica... E agora apareceu um segundo. Para mim é claro que há um período do Apito Dourado, em que Pinto da Costa tinha montada a sua teia, e mais tarde surge Luís Filipe Vieira, que faz uma portização do Benfica, que vai buscar pessoas que toda a gente conhece, como Paulo Gonçalves. É preciso pôr os nomes aos bois”.

Em matéria de finanças, Frederico Varandas fez um breve comentário sobre a eventual entrada do grupo que comanda o Manchester City no capital da SAD do Sporting, fruto da boa relação entre os dois clubes: “Nunca foi tema entre o City e o Sporting. Já fomos claros sobre o plano estratégico e o que pretendemos, mas não está identificado qualquer parceiro”.

E ainda mais sintético foi quando instado a comentar o perdão bancário de quase 100 milhões de euros que permitiu ao Sporting aliviar boa parte do fardo financeiro do passado recente. “Só foi feito porque foi um bom negócio para todos, para o Sporting e para a banca. A banca fez o melhor que podia, os administradores fizeram o melhor que podiam para defenderem a sua instituição”.

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