Brasileiro tatua mamilos em mulheres que perderam os seios para o câncer

Tatuador trouxe para Portugal a técnica que usava no Brasil e que ajudou muitas mulheres a recuperarem a autoestima. A dica de especialistas é para que mulheres façam, sistematicamente, o autoexame.

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Wagner Bento, que está há mais de cinco anos em Portugal, diz que mulheres se sentem melhor quando tatuam os mamilos depois do câncer Arquivo pessoal
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O carioca Wagner Bento, 46 anos, perdeu as contas de quantas vezes se emocionou no seu ateliê de tatuagem. Ainda no Brasil, ele absorveu a técnica de desenhar mamilos em mulheres que enfrentaram o duro golpe de tirar parte dos seios, ou mesmo os dois, por causa do câncer de mama. “Sempre foi uma alegria imensa poder ajudar essas mulheres a recuperarem a autoestima”, diz.

Em Portugal, onde chegou em 2019, Bento descobriu que o trabalho realizado por ele era quase inexistente. Foi então estimulado pela esposa, Nathalya, 33, que também é tatuadora, a retomar o trabalho que deu tanta alegria a muitas mulheres. Para que as tatuagens pudessem ser realizadas de forma gratuita, ele fechou parceria com um patrocinador, que durou até a pandemia do coronavírus.

“Nesse período, atendemos mulheres de várias partes de Portugal e da Europa, que se informavam sobre a nossa técnica e nos procuravam”, relata o brasileiro, que vive em Leiria. “O patrocinador bancava todo o material, que não é barato”, relata. Passado o período mais agudo da pandemia, já com o estúdio reaberto, Bento tentou retomar a parceira, mas não conseguiu. O jeito foi cobrar apenas pelo material usado, o correspondente a 100 euros (R$ 600), e não o valor total, incluindo a mão de obra dele, de 300 euros (R$ 1,8 mil).

Importância do autoexame

Para Bento, não havia como ele abandonar um trabalho que tem um caráter social e emocional muito grande. “É muito duro para qualquer mulher perder parte ou mesmo todo seio. É uma questão estética, muitas não conseguem sequer se olhar no espelho e se afastam de seus maridos”, relata. Ele explica que, nos casos em que há reconstrução dos seios por parte dos médicos, os mamilos ficam de fora. É aí que entra a tatuagem. “Procuramos fazer tudo conforme era o seio antes da retirada. Pesquisamos a cor original dos mamilos e tatuamos, para que tudo fique mais próximo do que era”, acrescenta.

O tatuador conta que, incluindo os mais de cinco anos que está em Portugal, atendeu mais de 300 mulheres. “É muito recompensador ver como as tatuagens funcionam psicologicamente, dando mais confiança às mulheres”, assinala. “Infelizmente, os casos de câncer de mama têm sido frequentes. Isso é muito preocupante”, frisa. Pelas projeções do Ministério da Saúde de Portugal, por ano, são entre 7 mil e 9 mil diagnósticos. No Brasil, calcula o Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas neste ano, devem ser computados 73.610 casos.

Por isso, a recomendação dos especialistas, reforçada nesta Outubro Rosa, é de que, frequentemente, as mulheres façam autoexames como prevenção, sem abrir mão de consultas periódicas ao médico. Como diz a jornalista Ana Cristina Fiedler, 48, que, recentemente, encerrou um tratamento quimioterápico para debelar a doença, prevenção é tudo. “O câncer, quando diagnosticado no início, na maioria das vezes, tem cura”, afirma.

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