PFAS: substâncias químicas “eternas” detectadas em água potável de vários países

Diferentes substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) foram encontradas na água da torneira e engarrafada para consumo no Reino Unido e na China. Estudo mostra que filtrar ou fever água reduz exposição.

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O estudo incluiu 87 marcas que comercializam água proveniente de países da Ásia, Europa, América do Norte e Oceânia Getty Images

Cientistas encontraram dez tipos de substâncias perfluoroalquiladas​ (PFAS, na sigla em inglês) na água da torneira e engarrafada disponível para consumo nas principais cidades do Reino Unido e da China. Dois tipos desses compostos potencialmente tóxicos (os ácidos PFOA e PFOS) foram detectados em mais de 99% das amostras de água engarrafada oriunda de 15 países diferentes, refere um estudo, publicado esta quinta-feira na revista científica ACS ES&T Water.

“Os nossos resultados sublinham não só a presença generalizada de PFAS na água potável, mas também a eficácia de métodos de tratamento simples para reduzir os seus níveis. A utilização de um simples jarro com filtro ou a fervura da água elimina uma proporção substancial destas substâncias”, afirma o co-autor Stuart Harrad, professor da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

As PFAS são conhecidas como produtos “químicos eternos” porque não se degradam facilmente na natureza, acumulando-se nos solos, reservatórios de água e nos próprios corpos dos seres vivos. Estudos publicados em revistas científicas sugerem uma relação entre estes compostos e determinados riscos para a saúde humana – e daí a importância de estudos que quantifiquem a presença de PFAS na água para consumo humano, seja ela engarrafada ou oriunda da torneira.

Os cientistas identificaram uma vasta contaminação por PFAS nas amostras testadas para diferentes tipos dessa classe de substâncias. “O ácido perfluorooctanóico (PFOA) e o perfluorooctanossulfonato (PFOS) foram os mais frequentemente detectados (>99%) e dominaram na água engarrafada global, com outros PFAS também altamente detectados (67% - 93%)”, lê-se no estudo.

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A fervura ou filtragem da água em jarros com filtros de carvão activado pode reduzir as concentrações de PFAS JACKY NAEGELEN / REUTERS

Os resultados encontrados não constituem um risco global de saúde pública. A água embalada proveniente dos diferentes países “apresentou níveis variáveis de PFAS, com a água mineral natural a conter concentrações mais elevadas do que a água purificada”, segundo a nota de imprensa, mas as concentrações identificadas estavam na maior parte das vezes aquém dos limites definidos por agências reguladoras internacionais.

“Com excepção da água da torneira de Shenzhen, na China, cujas concentrações médias de PFOS excedem o limite máximo de concentração da Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (4 microgramas por litro), as concentrações de PFAS em todas as amostras de água (da torneira e engarrafada) disponíveis no Reino Unido e na China estão dentro dos limites regulamentares”, assegura ao PÚBLICO Stuart Harrad.

Os investigadores compraram 112 amostras de água engarrafada em lojas físicas e supermercados online no Reino Unido e na China, incluindo 89 embalagens de água sem gás e outras 23 com gás em garrafas de plástico ou vidro. Ao todo, o estudo incluiu 87 marcas que comercializam água proveniente de países da Ásia, Europa, América do Norte e Oceânia. Stuart Harrad garantiu ao PÚBLICO que nenhum produto tinha origem portuguesa.

“As concentrações de PFAS eram mais baixas na água engarrafada do que na água da torneira da mesma localidade”, acrescenta o professor da Universidade de Birmingham. O estudo não registou diferenças significativas nas concentrações das PFAS testadas entre a água engarrafada com e sem gás ou entre a embalada em vidro e plástico.

Soluções: ferver ou filtrar a água

As conclusões do estudo sino-britânico indicam diferenças consideráveis nas concentrações de PFAS entre amostras de água da torneira de Birmingham, no Reino Unido, e de Shenzhen, na China, tendo-se verificado que a água da torneira chinesa apresentava concentrações mais elevadas desses compostos “eternos”.

Por outro lado, a investigação também demonstra que há estratégias eficazes para reduzir a exposição a estas substâncias potencialmente tóxicas. A fervura e/ou filtragem com carvão activado (presente nos jarros que têm filtro incorporado) podem reduzir substancialmente as concentrações de PFAS na água potável. As taxas de remoção de contaminantes podem variar entre 50% e 90%, dependendo do tipo de PFAS e de tratamento.

“Uma descoberta agradável deste estudo é o facto de os filtros de água domésticos disponíveis hoje, e amplamente utilizados, serem muito eficazes na remoção de PFAS da água potável”, afirma o professor da Universidade de Birmingham.

“Uma maior consciencialização sobre a presença de PFAS tanto na água da torneira como na água engarrafada pode levar a escolhas mais informadas por parte dos consumidores, incentivando a utilização de métodos de purificação da água”, acrescenta o co-autor Yi Zheng, professor da Southern University of Science and Technology, citado no comunicado.

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Estes compostos persistentes são utilizados, há várias décadas, em bens de consumo e processos industriais devido às suas propriedades repelentes e impermeabilizantes. Ajudam a repelir a água e a gordura, por exemplo, e por isso são usadas em embalagens de comida take-away ou de milho para pipocas feitas no microondas. Das palhinhas de bebidas aos tecidos infantis, passando pelo papel higiénico e pelas frigideiras antiaderentes, são várias as aplicações destes compostos fluorados.

Estas substâncias químicas podem entrar no corpo humano através da ingestão de alimentos ou água potável, da inalação ou até do contacto com a pele. O efeito cumulativo da exposição às PFAS está associado a uma resposta imunitária reduzida à vacinação, uma função hepática prejudicada, uma diminuição do peso do bebé à nascença e um aumento do risco de alguns cancros, refere a nota de imprensa.

Embora alguns tipos de PFAS tenham sido proibidos na Europa, outros continuam a ser amplamente utilizados. A União Europeia quer banir toda a classe dessas substâncias em 2026 ou, o mais tardar, no ano seguinte.

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