O conglomerado de luxo LVMH divulgou uma queda de 3% nas vendas do terceiro trimestre nesta terça-feira. Trata-se do primeiro declínio nas vendas trimestrais desde a pandemia, à medida que a procura na China e no Japão tem enfraquecido, antecipando uma possível crise no sector do luxo.
O maior grupo de luxo do mundo gerou 19 mil milhões de euros em receitas nos três meses entre Julho e Setembro, uma queda de 3% numa base orgânica. Este valor não corresponde à estimativa de um crescimento orgânico de 2% que a Barclays antecipava no início da semana, antes de serem conhecidos os resultados oficias.
O grupo ficou “muito” aquém das expectativas, com “falhas em todos os sectores”, afirmou Luca Solca, analista da Bernstein.
O relatório de vendas surge depois de uma montanha-russa para as acções ligadas ao luxo nas últimas semanas, uma vez que as medidas de estímulo económico na China tinham alimentado esperanças de recuperação.
A confiança dos consumidores chineses caiu para os mínimos históricos desde a pandemia, reconheceu o director financeiro da LVMH, Jean-Jacques Guiony, embora tenha acrescentado que a empresa ainda acreditava no futuro deste mercado.
“Sendo o LVMH sinónimo de luxo para muitos, estes resultados causarão inevitavelmente mais volatilidade a curto prazo”, defendeu Flavio Cereda, gestor da estratégia de investimento da GAM, um fundo que detém acções do conglomerado.
Moda menos rentável
A divisão de moda e artigos de couro, que abriga marcas como Louis Vuitton, Dior, Fendi ou Loewe, relatou um declínio nas vendas de 5%, bem abaixo das expectativas de consenso de crescimento de 4%, e a primeira queda para o segmento desde 2020.
“A divisão de moda registou uma ligeira melhoria junto dos europeus e americanos, mas um pior desempenho junto dos chineses e japoneses”, detalhou Jean-Jacques Guiony. A categoria de moda representa quase metade das receitas da LVMH e quase três quartos do lucro recorrente.
Na Ásia — excluindo o Japão — onde o mercado chinês tem uma quota dominante, o declínio das vendas agravou-se para 16%, em comparação com uma queda de 14% no trimestre anterior.
A onda de consumo pós-pandemia perdeu ímpeto no ano passado e a crise imobiliária da China pesou sobre a confiança dos compradores. As esperanças de que as medidas de estímulo do governo pudessem reacender rapidamente o entusiasmo pelos produtos de luxo ainda não se concretizaram.
No Japão, a LVMH afirmou que o crescimento abrandou drasticamente para 20%, em comparação com o aumento de 57% registado no trimestre anterior, devido à valorização da moeda, o iene.
Os resultados serão provavelmente vistos de forma negativa pelo mercado, termina Piral Dadhania, analista da RBC, observando que os resultados são um “abrandamento mais pronunciado do que o esperado”.