Montenegro não responde a Ventura e avisa que “questões menores” irão prejudicar quem as cria
O primeiro-ministro não respondeu às novas acusações do líder do Chega e não confirma nem desmente as alegadas reuniões que terá tido com André Ventura.
Dias depois de ter trocado acusações com André Ventura e de negar que convidou o Chega a integrar o Governo, o primeiro-ministro avisou que as "as questões menores" que têm sido levantadas nos últimos dias para "distrair a opinião pública" só irão prejudicar e descredibilizar os próprios autores. Numa segunda-feira dedicada a inaugurações e visitas na região de Peniche, Luís Montenegro não respondeu a nenhuma pergunta dos jornalistas, mas quis, à sua maneira, deixar recados ao líder do Chega nas entrelinhas.
Para o primeiro-ministro, "tantos tentam distrair a opinião pública e publicada com questões menores, que não interessam a ninguém a não ser aos próprios". E avisa: "o tempo dirá que é no seu próprio prejuízo e na sua própria descredibilização". Embora não tenha referido o nome do líder do Chega, Montenegro lamentou que líderes partidários tentem desviar as atenções com o que "é completamento lateral e menor".
A história começou no dia em que o Orçamento do Estado para 2025 foi entregue na Assembleia da República. No final do dia, em entrevista à TVI/CNN, Ventura alegou ter tido várias reuniões com o primeiro-ministro que não foram divulgadas à comunicação social com vista a um acordo sobre o OE2025, que incluía a possibilidade de o partido vir integrar o Governo, em data incerta e num "contexto político diferente". Nessa entrevista, o líder do Chega afirmou-se desagradado por Montenegro ter afastado "qualquer negociação entre o Governo e o Chega".
Na sua primeira versão da história, Ventura afirmou que a proposta de Luís Montenegro surgiu a 23 de Setembro, depois de uma reunião entre ambos. Horas depois, o primeiro-ministro assegurou, através da rede social X, que "nunca o Governo propôs um acordo ao Chega", e acusou André Ventura de mentir por "desespero".
No dia seguinte, o líder do Chega voltou ao tema e apresentou uma nova versão da história, afirmando que a primeira vez em que o acordo foi falado foi a 15 de Julho, num encontro "não divulgado à imprensa com o primeiro-ministro na sua residência oficial, a pedido do próprio". "Foi aqui que pela primeira vez um acordo específico esteve em cima da mesa", disse.
Ora, no fim-de-semana, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, partilhou que também os liberais se reuniram com o primeiro-ministro no mesmo dia do alegado encontro entre o Governo e o Chega, desvalorizando a revelação de Ventura.
As declarações de Rui Rocha também não agradaram ao líder do Chega que no domingo voltou às redes sociais para acrescentar que no encontro de 23 de Setembro o primeiro-ministro só reuniu com a IL "para cobrir e dar um ar de normalidade" aos encontros com o Chega e que lhe pediu "para sair pelas traseiras" da residência oficial de São Bento.
Depois de, no fim-de-semana, o líder do PS, Pedro Nuno Santos, ter afirmado que a direita em Portugal "não é de confiança", classificando como "uma vergonha" que os líderes do PSD e do Chega se acusem mutuamente de mentir, ontem foi a vez de Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, deixar duras críticas a esta troca de acusações.
Para a coordenadora bloquista, os últimos dias mostraram um "espectáculo miserável e degradante", protagonizado por toda a direita e do qual Pedro Nuno Santos, pela sua "ambiguidade", não se conseguiu descolar.
"Perante este Orçamento que nós já conhecemos, e que já podemos ler, e perante o miserável espectáculo, degradante espectáculo, que os responsáveis da direita nos estão a oferecer acerca deste Orçamento, todos eles, da IL, do Chega, do PSD, um miserável e degradante espectáculo, a única coisa que falta compreender é por que é que o secretário-geral do PS continua a manter ambiguidades relativamente ao Orçamento", afirmou Mariana Mortágua.