Kiev acredita que Coreia do Norte vai envolver-se directamente na invasão russa

Foram identificados engenheiros militares entre mortos num bombardeamento ucraniano nos territórios ocupados pela Rússia. Moscovo e Pyongyang assinaram recentemente um acordo de cooperação militar.

Foto
Putin foi recebido por Kim Jong-un em Pyongyang em Junho Vladimir Smirnov / VIA REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:38

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acredita que a Coreia do Norte está prestes a envolver-se directamente na invasão ao país ao lado da Rússia. O alerta surge dias depois de terem vindo a público alegações de que engenheiros norte-coreanos estão entre as baixas de bombardeamentos ucranianos aos territórios ocupados pela Rússia no Donbass.

Os receios de que o envolvimento de Pyongyang no conflito suba de nível têm por base relatórios dos serviços de informação. Na semana passada, o Ministério da Defesa sul-coreano revelou ter identificado engenheiros militares norte-coreanos entre os mortos num ataque ucraniano na província de Donetsk, parcialmente ocupada pela Rússia.

Segundo as autoridades sul-coreanas e ucranianas, os engenheiros terão sido enviados pelo regime de Kim Jong-un para dar apoio técnico aos militares russos que operam os sistemas de mísseis de curto alcance KN-23, de fabrico norte-coreano.

“Já não se trata apenas da transferência de armas”, afirmou Zelensky no seu discurso nocturno de domingo, referindo-se à parceria entre a Coreia do Norte e a Rússia. “Trata-se, na verdade, da transferência de pessoas da Coreia do Norte para as forças militares de ocupação”, acrescentou.

O tema voltou a ser abordado pelo Presidente ucraniano na segunda-feira à noite, desta vez para dar conta da previsão dos serviços secretos de que Moscovo está a contar com “o envolvimento real da Coreia do Norte na guerra” a partir dos próximos meses.

A aliança entre a Rússia e a Coreia do Norte tem sido consolidada nos últimos tempos, sobretudo desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia, iniciada em Fevereiro de 2022. Em Junho, o Presidente russo, Vladimir Putin, visitou Pyongyang, onde foi recebido por Kim, naquela que foi a primeira visita de Estado do líder russo à Coreia do Norte em duas décadas.

No encontro entre os dois líderes, foi assinado um acordo de segurança mútuo, que representa uma ampliação significativa da aliança entre os dois países. Alguns analistas interpretam-no como uma garantia de apoio militar em caso de agressão externa idêntica à cláusula de segurança colectiva prevista pelo Tratado do Atlântico Norte que vincula os membros da NATO.

Além do apoio diplomático — a Coreia do Norte tem sido um dos poucos membros da ONU que sistematicamente têm votado ao lado da Rússia as resoluções que condenam a invasão russa —, o regime de Kim tem sido um importante parceiro comercial da Rússia nos últimos dois anos e meio. De Pyongyang também têm sido enviadas munições, drones e sistemas de mísseis para apoiar o esforço de guerra russo, algo que assume especial importância num conflito marcado pelo esgotamento veloz dos recursos de ambos os lados.

Para a Coreia do Norte, um regime fortemente isolado a nível internacional e alvo de um regime muito amplo de sanções económicas, a reaproximação à Rússia permite garantir um apoio diplomático de que até agora não dispunha. Mas, acima de tudo, poderá ajudar a desenvolver mais rapidamente o seu próprio programa de armamento e, eventualmente, nuclear com apoio russo.

O envio de engenheiros militares para dar formação e ajudar a resolver questões técnicas com o armamento fornecido pela Coreia do Norte seria um passo lógico no quadro da cooperação entre os dois países. Mas “é altamente provável” que o Norte possa enviar soldados para a linha da frente na Ucrânia, segundo afirmou o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Yong-hyun, numa audição parlamentar no início do mês.

Estas suspeitas coincidem com a avaliação de membros dos serviços secretos ucranianos que acreditam que o envio de militares de infantaria para a linha da frente iria permitir ao Kremlin evitar novas rondas de recrutamento entre a população russa.

Tanto Moscovo como Pyongyang têm negado as alegações de que sejam enviadas armas ou militares norte-coreanos para a Ucrânia. No entanto, nesta terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sublinhou que o acordo de cooperação assinado em Junho é “bastante inequívoco” e “prevê uma verdadeira cooperação estratégica e profunda em todas as áreas, incluindo segurança”.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários