Governo conservador britânico quis impor sanções a ministros israelitas “extremistas”

David Cameron revela que o plano do Reino Unido para sancionar os ministros das Finanças e da Segurança Nacional de Israel teve de ser cancelado por causa da convocação das eleições legislativas.

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David Cameron foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016 e ministro dos Negócios Estrangeiros entre 2023 e 2024 ANDY RAIN / EPA
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O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Cameron, revelou nesta terça-feira que o Governo anterior, liderado por Rishi Sunak, estava a planear impor sanções a dois ministros “extremistas” do executivo israelita e que só não avançou com a medida, em Maio, devido à forte possibilidade de convocação de eleições legislativas antecipadas, que acabaram por se realizar em Julho – o Partido Conservador foi derrotado pelo Partido Trabalhista e afastado do poder ao fim de 14 anos.

Numa entrevista à rádio BBC4, Cameron diz que o Governo conservador britânico pretendia congelar bens e impor proibições de viagens ao ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e ao ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, representantes de partidos de extrema-direita no Governo de Benjamin Netanyahu.

“Smotrich e Gvir disseram coisas como: encorajar as pessoas a impedirem a entrada de colunas de ajuda humanitária em Gaza ou apoiar os colonos extremistas da Cisjordânia pelas coisas terríveis que têm feito”, elencou o antigo primeiro-ministro (2010-2016) tory, que, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros (2023-2024) de Sunak, autorizou a adopção de sanções para colonos responsáveis por “níveis inéditos” de violência contra palestinianos na Cisjordânia ocupada.

Criticando a decisão do actual Governo britânico, liderado pelo trabalhista Keir Starmer, de suspender parcialmente a exportação de armas para Israel, Cameron argumenta que a imposição de sanções para membros específicos do executivo israelita é uma estratégia bastante mais eficaz para tentar pressionar Israel por causa dos abusos da guerra em curso na Faixa de Gaza.

“Há outras coisas que podemos fazer para pressionar Netanyahu. Podemos dizer: ‘É óbvio que respeitamos o vosso direito de autodefesa, mas queremos que actuem dentro da legalidade. Não, não vamos acabar com a venda de armas. Mas quando os ministros do seu Governo são extremistas e se comportam desta forma, estamos preparados para utilizar o nosso regime de sanções e para dizer que isto assim não pode ser e tem de acabar’”, defendeu.

Itamar Ben-Gvir é acusado de proferir declarações provocatórias para palestinianos e muçulmanos, por defender a possibilidade de judeus rezarem no Monte do Templo/Pátio das Mesquitas, o terceiro local sagrado do islão a seguir a Meca e Medina (Arábia Saudita).

Para além disso, há suspeitas de que a polícia israelita, que está sob tutela do ministro, tem chegado propositadamente atrasada a locais onde há denúncias de ataques de colonos a palestinianos na Cisjordânia.

Bezalel Smotrich, por sua vez, defende e tem apelado à “emigração voluntária” dos “árabes de Gaza para outros países do mundo”. O ministro das Finanças recusa uma Faixa de Gaza independente, nega a existência do povo palestiniano e foi apanhado a dizer numa gravação que queria “apropriar-se de até 15km² de território na Cisjordânia”, para “mudar o mapa de modo drástico”.

Em Agosto, Josep Borrell, alto representante para a Política Externa e Segurança da União Europeia, chegou a defender sanções contra “alguns ministros israelitas” por “incitamento a crimes de guerra”, referindo-se a Ben-Gvir e a Smotrich.

Na entrevista à BBC, David Cameron disse que continua a confiar em Israel para neutralizar o Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano.

“No dia 7 de Outubro [de 2023], Israel não foi apenas atacado no Sul, pelo Hamas; também foi [atacado] de forma continuada pelos rockets do Hezbollah, no Norte. Todos queremos que este conflito acabe, mas tem de acabar de uma forma sustentável, para que não volte a repetir-se. É por isso que é correcto apoiarmos o direito de autodefesa de Israel”, afirmou.

“Mas não se trata de um cheque em branco, não é incondicional”, acrescentou ainda assim. “Queremos que a ajuda chegue a Gaza e queremos que o papel da ONU no Líbano seja respeitado.”

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