“Brasileiros” entopem a fila e embaixada italiana não dá conta de fazer passaportes

Com cerca de 40% dos cidadãos italianos que moram em Portugal nascidos no Brasil, muitas pessoas tentam há meses, sem sucesso, obter o documento de viagem na embaixada da Itália em Lisboa.

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Embaixada da Itália em Lisboa: fila por passaporte não para de aumentar, com mais ítalo-brasileiros vivendo em Portugal Jair Rattner
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Para muitos italianos que vivem em Portugal, a rotina é a mesma. Quase que diariamente, eles entram na página de agendamento dos órgãos diplomáticos da Itália para renovar o passaporte italiano e a resposta é: tente outro dia.

Mariana Berutto, 51 anos, que tem nacionalidades italiana e brasileira, está nessa luta desde setembro do ano passado. " Como meu passaporte venceria em maio último, me antecipei e procurar fazer um agendamento, mas está impossível", diz ela, que escolheu Lisboa para fazer um doutorado em história.

Primeiro, Mariana teve dificuldade de se inscrever no consulado que usa um sistema de informática com o nome AIRE, um registro dos cidadãos italianos com todos os dados, incluindo nome, endereço, profissão, estado civil, gênero, filiação e localidade italiana a qual estão ligados, o que é obrigatório.

Feito o cadastramento, ela passou a tentar, quase todos os dias, agendar a ida ao consulado. A resposta era sempre negativa e não havia a possibilidade de entrar na fila de espera por uma data. "Está complicado", afirma Mariana.

Situação semelhante enfrentou a italiana Ella Sher, 45, que é agente literária. “Tentei durante três meses fazer um agendamento, mas não consegui”, relata. Ella, que se mudou para Lisboa por razões familiares, acreditava que precisaria de um passaporte mais novo para uma viagem de trabalho ao México. No final, depois de enviar um e-mail para a embaixada reclamando, recebeu a informação de que o documento dela ainda estava válido para a viagem.

Sotaque carioca

O cônsul da Itália em Lisboa, Simone Salvatore, reconhece a existência do problema. “Temos 30 mil cidadãos italianos residentes em Portugal, mas, até novembro do ano passado, quando assumi o posto, eram feitos apenas 150 passaportes por mês, o que dá 1.800 por ano. Como o passaporte italiano tem validade de 10 anos, seriam necessários três mil passaportes por ano”, afirma.

O diplomata ressalta, porém, que, diante da alta demanda, teve de dobrar a emissão de passaportes para tentar diminuir a fila de espera. Tanto que está fazendo 300 documentos mensais — o dobro do que estimava inicialmente —, mas houve um mês em que o número chegou a 350.

Salvatore diz que pretende modificar o sistema de informática para agendamentos, para que se possa ter uma fila de espera. “Na atual situação, como o sistema recusa as inscrições depois de esgotado o agendamento, nem sabemos quantas pessoas querem o passaporte e não conseguem”, relata.

Uma das preocupações que o diplomata tem é tentar atender os italianos apenas quando eles realmente precisarem do passaporte. Isso porque, caso todos os que estão em atraso conseguissem o documento num espaço de tempo muito curto, daqui a 10 anos, quando terminasse a validade dos documentos, o problema voltaria.

40% de brasileiros

Segundo o embaixador Claudio Miscia, o número de cidadãos italianos em Portugal tem crescido nos últimos cinco anos a uma média de 10% anual. “A cada ano, chegam mais 18% de cidadãos e cerca de 8% deixam o país. Há 20 anos eram apenas 3 mil morando em Portugal, e nenhum tinha nascido no Brasil”, observa.

Agora, esse quadro mudou. Miscia fez um levantamento por amostragem do número de italianos nascidos no Brasil que estão vivendo em Portugal, e o resultado foi expressivo: 40%.

Indagado se são os ítalos-brasileiros que têm contribuído para congestionar a fila de pedidos de passaporte, o embaixador afirma que não. “Nós não fazemos distinção de onde os cidadãos nasceram. São todos italianos”, diz Miscia, ele próprio filho de uma brasileira e com um pouco de sotaque carioca, apesar de ter nascido na Itália.

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