Hoje é dia de Círio de Nazaré em Belém do Pará

O Círio é uma das maiores procissões marianas do planeta. Durante dois dias, mais de três milhões de católicos ocupam as ruas da capital do Pará. Um grande rio de fiéis toma conta da cidade de Belém.

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Eu acho que das várias procissões que temos notícia, o Círio de Nazaré é a maior procissão mariana do planeta. São mais de três milhões de pessoas durante dois dias. Hoje, serão mais de 2,7 milhões de fiéis. Ontem, havia mais de um milhão durante o traslado, todos caminhando pelas ruas de Belém, como um grande rio que toma conta da cidade. Todas as águas se misturam. Esse é o milagre do Círio. Todos estão lá, todos abrem suas portas para receber os amigos e a família em casa. A mesa sempre posta, o dono da casa pode até ir dormir, mas a mesa é reposta o tempo todo.

Na casa de todo paraense é a mesma comida que está sobre a mesa. Pode mudar o serviço, a louça, os cristais e os talheres. Da família mais simples à mais abastada, a maniçoba é a rainha. O prato indígena é feito a partir do cozimento das folhas da maniva e dura sete dias. O seu preparo começa a ser feito muitos dias antes do Círio. Com a aproximação do segundo domingo de outubro, um cheiro forte dessa erva toma conta da cidade. Um cheiro acre e ácido de seiva da floresta. É dessa seiva que o povo do Pará é feito.

A folha da mandioca brava, que tem os talos roxos, é altamente venenosa quando crua. Essas folhas são trituradas e colocadas para o cozimento. A mandioca brava não é consumida como a batata, mas é toda usada para os temperos do norte. Dela se faz a farinha, a massa da tapioca e o tucupi. O panelão é colocado no fogão - ela nunca é cozinhada em panela pequena. Quem acorda primeiro liga o fogo. Quem vai passando pela cozinha acrescenta mais água. O último a dormir desliga o fogo.

No dia seguinte, o processo recomeça. O primeiro que acorda acende o fogo e acrescenta água, sempre mexendo para não grudar. A partir do sétimo dia de cozimento, se torna deliciosa. No sétimo dia, é o momento de colocar todas as carnes usadas na feijoada. Quanto mais cozinhar, melhor vai ficar. No Pará se diz que maniçoba boa é a maniçoba velha. É em torno dela que a família se reúne.

Durante o Círio, não há diferenças sociais. Todos somos iguais sob o manto de Nossa Senhora de Nazaré, magnânima, que carrega seu menino no colo. Nossa Senhora de Nazaré, que, para nós, paraenses, é Naza, Nazinha, Nazica, Nazoca, Nazarezinha. Nossa mãe e amiga. A ela pedimos o que não se pede na frente dos outros. O que temos de vergonha e não temos tamanho para alcançar. Ela é a nossa confidente das nossas angústias e dos nossos problemas mais agudos.

Nossa Senhora a tudo abraça e perdoa. De todos cuida. Por isso, já disse o nosso querido filósofo Leandro Karnal, que, se houvesse um dia de Círio no mundo, as guerras não se proliferariam. Seria um dia no mundo de absoluta paz, amor, felicidade, congraçamento, gratidão e fé.

Entre uma celebração e outra, tem a festa da Chiquita. Uma grande festa LGBTQIA+. Todos saem da Chiquita direto para a procissão. Esse é o milagre da fé. Um mundo ideal sem barreiras e preconceitos, onde a paz, a fraternidade e o respeito ao outro estão em todos os lugares. Esse é o momento que vivemos em Belém hoje. Portanto, feliz Círio. Paz, amor, luz e gratidão. Peça a Nossa Senhora, que ela vai atender.

Um beijo imenso da sua Fafazinha. Feliz Círio para você.

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