Quase milhão e meio de pessoas está às escuras em São Paulo desde sexta-feira

A megalópole brasileira foi assolada por ventos de mais de 100 km/h. Sete pessoas morreram e mais de dois milhões ficaram sem electricidade. A maioria ainda não sabe quando a luz voltará.

Foto
A megalópole São Paulo sofreu o segundo apagão em menos de um ano Danny Lehman/DR
Ouça este artigo
00:00
04:11

Os ventos ciclónicos de mais de 100 km/h que atingiram a grande São Paulo (Brasil) na sexta-feira à hora do jantar derrubaram árvores e muros causando sete mortes, fizeram voar telhados e provocaram estragos graves na rede eléctrica, provocando um apagão que atingiu mais de dois milhões de pessoas. Na noite passada, mais de 1,350 milhões de pessoas continuavam sem energia eléctrica e sem saber quando voltaria.

A empresa concessionária do serviço, Enel, enviou mensagens aos utilizadores dizendo que a electricidade voltaria até segunda-feira de manhã, mas em declarações contraditórias, o presidente da Enel Distribuição São Paulo, Guilherme Lencastre, informou que a empresa não tem previsão da retoma total do fornecimento de energia na região. A informação contraditória terá sido “uma falha na programação da resposta automática do canal de atendimento pelo whatsapp, que já foi corrigida", segundo disse a empresa à Globo.

Em comunicado, a Enel diz que a demora se deve à necessidade de "reconstruir trechos inteiros da rede", mas afirma que está a trabalhar "dia e noite" para recuperar a ligação nas linhas afectadas e que "accionou imediatamente seu plano de emergência" quando detectou que muitos pontos de ligação de energia tinham sido afectados pela tempestade.

"A companhia está actuando com cerca de 1.600 técnicos em campo e trabalhando para mobilizar no total cerca de 2.500 profissionais" afirma a concessionária em nota, acrescentando que "esse contingente está sendo ampliado com a mobilização de equipas adicionais, além da chegada de técnicos do Rio e do Ceará."

Aos jornalistas, o presidente da empresa, Guilherme Lencastre,​ afirmou que a central telefónica da Enel recebeu mais de um milhão de chamadas desde a noite anterior e está a ampliar a capacidade de atendimento. Guilherme Lencastre não deu previsão para a retomada total do serviço na Grande São Paulo e disse que as áreas mais afectadas foram as Zonas Oeste e Sul de São Paulo, além dos municípios de Taboão da Serra, São Bernardo, Santo André e Diadema.

"Não é questão de não saber e não passar. E não quero colocar uma expectativa que seja frustrada. (...) A gente tem consciência do transtorno causado por eventos como esse e sabemos da nossa responsabilidade. Vamos trabalhar de forma incansável para reconectar todos os nossos clientes", declarou, citado pela Globo.

O presidente da Enel também afirmou que a empresa disponibilizou 500 geradores para atender hospitais e estabelecimentos com falta de luz na região de concessão, além de ter dois helicópteros da empresa a sobrevoar as linhas de transmissão para identificar eventuais problemas.

A falta de energia também já afecta o abastecimento de água em várias cidades da região, em particular a capital paulista, São Bernardo do Campo, São Caetano, Santo André e Cotia. No comunicado divulgado sábado, a empresa distribuidora de água pediu economia e uso racional de água até ao restabelecimento total da energia eléctrica, que afectou o funcionamento das estações elevatórias de tratamento e abastecimento nessas regiões.

Apagão com impacto político

O corte de energia acontece 11 meses depois de um outro apagão, também resultante de uma tempestade em Novembro de 2023, que deixou vários pontos da cidade sem electricidade durante seis dias. Nessa altura foi elaborado um plano de intervenção e investimentos para evitar repetição da situação, mas menos de um ano depois volta a acontecer.

Em plena campanha eleitoral para as eleições municipais, cuja segunda volta se realiza em Novembro, o apagão aumentou a pressão política sobre a concessionária: tanto o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto o prefeito Ricardo Nunes (MDB) – adversários na corrida à autarquia - pediram o fim do contrato com a Enel, noticia a Folha de S. Paulo. Também a Aneel, agência do governo Lula (PT) responsável por fiscalizar o sector, admitiu que poderá retirar os direitos de concessão da companhia.

A Enel, empresa com sede na Itália, actua em 24 municípios da Grande São Paulo, incluindo a capital. Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que, em casos extremos, a reguladora Aneel pode propor a caducidade de um contrato de distribuição de forma unilateral, mas lembram que as concessões de energia eléctrica são federais, ou seja, dependem do Governo central.

No sábado, a Aneel adoptou postura mais dura e afirmou em comunicado que iria intimar a Enel a "apresentar justificativas e proposta de adequação imediata do serviço diante das ocorrências registadas ontem e hoje, de falha na prestação do serviço de distribuição".

Sugerir correcção
Ler 3 comentários