Queres saber se o teu animal é feliz? Ele já to diz

Os cães e os gatos felizes têm as orelhas viradas para a frente e uma postura erecta. Deixá-los cheirar o que quiserem durante os passeios é uma das formas de acabar com a tristeza.

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Queres saber se o teu animal é feliz? Ele já to diz Rafaëlla Waasdorp/Unsplash
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Acontece pelo menos uma vez na vida de todos os donos de animais de companhia: olhamos para os olhos do nosso companheiro e perguntamo-nos o que é que ele não nos está a dizer.

Os animais são membros da nossa família, mas não podem falar connosco para dizer que estão bem-dispostos, que hoje lhes dói a barriga ou que se sentem sozinhos. Como podes saber o que o teu está a sentir e o que deves fazer se ele não estiver feliz?

“A maioria dos tutores consegue compreender a felicidade e a alegria dos seus animais de companhia”, afirma Melissa Bain, professora de comportamento animal clínico na University of California at Davis School of Veterinary Medicine.

“Quando falamos com os donos e lhes perguntamos sobre o comportamento dos cães em determinadas situações, é frequente não perceberem os sinais de medo e ansiedade”, completa.

Descobrir como é que o animal se está a sentir

Um sinal importante da felicidade do animal é a linguagem corporal. Muitas destas coisas podem ser de senso comum para os donos, mas um cão feliz provavelmente terá as orelhas viradas para a frente, uma postura erecta e a cauda a abanar. Um gato feliz também terá as orelhas apontadas na mesma direcção, a postura relaxada e a cauda erguida com uma ligeira curvatura.

Segundo Melissa Bain, é comum os tutores confundirem a excitação excessiva do animal com felicidade — alguns cães podem abanar a cauda como sinal de alerta e não de alegria. A par disto, tanto esta espécie como os gatos podem emitir sons quando estão felizes, mas outros fazem-no quando estão stressados ou quando experienciam estes dois estados de espírito.

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Paul Hanaoka/Unsplash

Um cão ansioso pode estar encolhido, ter as orelhas para trás, o nariz seco e a cauda apontada para baixo ou entre as pernas. Além disso, também costuma andar para a frente e para trás no mesmo espaço, lamber-se a si próprio ou a superfícies planas, ofegar e apresentar comportamentos agressivos, como rosnar, ladrar ou morder. Um gato infeliz vai ter as orelhas para trás e afastadas da cabeça, a cauda para baixo e o dorso arqueado ou baixo, e poderá sibilar, cuspir ou arranhar. Terem as pupilas dilatadas é outra resposta comum ao stress nestes dois animais.

Um animal de companhia feliz pode também ser social, apesar de isso variar consoante a espécie, a idade e o próprio animal. Alguns dos sociais podem querer sentar-se na sala com uma pessoa, mas não se aproximam. Outros podem brincar com os animais da vizinhança ou dormir perto do dono.

De acordo com Melissa Bain, à medida que se desenvolvem, os gatos tornam-se sociáveis às sete semanas e os cães entre as 14 e as 16 semanas. Este período de socialização dos animais vai enquadrar a forma como interagem com os seres humanos e outras espécies, mas o treino pode inverter quaisquer padrões de comportamento negativos e ajudar a remediar comportamentos agressivos ou aversivos em animais adultos.

Os animais podem ainda expressar felicidade quando estão muito activos ou através dos chamados zoomies, quando o tutor está em casa. Se o teu animal estiver estranhamente lento ou mostrar pouco interesse em brincar ou socializar, pode estar com dores ou infeliz. Esta situação pode ser desencadeada por mudanças súbitas no ambiente ou no estilo de vida, especialmente nos cães. Esta espécie deixa-se afectar com mudanças súbitas, incluindo mudanças de casa, novos membros da família ou mortes.

Segundo Stanley Coren, professor de Psicologia da University of British Columbia, pode levar semanas ou meses para se adaptarem. Contudo, destaca, a maioria dos donos está atenta ao nível de actividade ou comportamento habitual do seu animal. “Se houver uma grande mudança nesse aspecto, especialmente se parecerem menos interessados em coisas pelas quais costumavam interessar-se ou se parecerem menos interessados em comer, são sinais potenciais de que há algo errado”, acrescenta o docente.

O que fazer quando o animal está infeliz

Se pensas que o teu animal pode estar infeliz, contacta o veterinário o mais rapidamente possível. Muitos animais podem precisar de medicação para tratar a dor ou a ansiedade, enquanto outros podem precisar de treino para ajudar a aliviar os padrões de comportamento ansiosos.

“Um comportamento problemático num cão pode surgir através de experiências negativas ou falta de experiência com alguma coisa, e depois o cão está a tentar lidar com essa situação no seu mundo”, afirma Joyce Loebig, treinadora de cães do estado norte-americano de Maryland. “Por isso, adoptam alguns comportamentos que nós consideramos problemáticos. Do ponto de vista do cão, normalmente está apenas a tentar lidar com a situação.”

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Pasqualino Capobianco/Unsplash

Activares os sentidos do teu animal pode ajudá-lo a manter a calma ao mesmo tempo em que ele absorve o que está à sua volta. A par disto, destaca Amy Pike, especialista em comportamento animal, deixar o cão fazer um sniff-fari (junção entre as palavras “cheirar” e “safari”) nos passeios é fundamental para que se divirta e para a forma como absorve o ambiente que o rodeia.

“Por vezes, queremos fazer quilómetros, mas não é para isso que eles estão ali. O exercício é óptimo, mas é preciso deixá-los cheirar. Nós exploramos o nosso mundo visualmente, mas eles só querem saber dos cheiros. É assim que vão obter informações”, completa.

Nos gatos, realça, a caça é um instinto que os donos podem ajudar a satisfazer. Amy recomenda que os felinos brinquem com brinquedos de penas ou que os tutores deixem a comida deles pela casa para que a excitação de procurar o jantar os estimule.

Em última análise, o teu animal é um ser único, o que significa que não há dois que demonstrem angústia ou felicidade da mesma forma. Satisfazer as necessidades físicas dele e garantir que tem vários tipos de enriquecimento são as melhores formas de assegurar a redução dos níveis de stress que se podem correlacionar com uma maior esperança de vida, tal como acontece com os humanos.

“Eu defendo manter [o cão] na sua zona de conforto, não na zona de conforto que desejamos para ele. As necessidades dos cães são satisfeitas através de associações positivas. Devemos protegê-los, não os levar para locais que eles não conseguem suportar, e abordar o assunto com o treinador de reforço positivo quando precisa de ajuda”, recomenda Joyce Loebig.

Os donos vão ficar felizes por saberem que uma das formas de os fazermos felizes é simples: passar mais tempo com eles.

“Desde os anos 1980 que sabemos que os humanos demonstram um efeito de anti-stress quando estão perto de cães, mas só há cerca de dez, 15 anos é que as pessoas colocaram a questão oposta. Acontece que os efeitos são os mesmos no cão. Acham que a simples presença de pessoas de quem gostam é gratificante”, assegura o professor de Psicologia Stanley Coren.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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