Com mais de 2 milhões de seguidores, brasileira é fenômeno no ramo imobiliário

A brasileira Suelita mudou-se para Portugal em 2021. Hoje, tem uma empresa com 200 imóveis à venda e cerca de 60 para aluguel. No Brasil, conseguiu botar dentes ao fazer propaganda de uma clínica.

Foto
Suelita Assis, que já vendeu cuecas em ônibus, tem hoje a própria empresa no mercado imobiliário em Portugal Arquivo pessoal
Ouça este artigo
00:00
04:58

Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Com mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, a ex-vendedora de cuecas e outros artigos do vestuário em ônibus no interior de Santa Catarina e de São Paulo, a cuiabana Suelita Assis, 34 anos, tornou-se um fenômeno do ramo imobiliário em Portugal. A empresa dela em Santarém tem, hoje, mais de 200 imóveis em carteira para venda e cerca de 60 casas e apartamentos para aluguel.

O que parecia ser um misto de ganha-pão e divertimento, a presença dela na internet a ensinou a empreender e a conquistar seus objetivos. Ela diz, de maneira descontraída, que, quando circulava “no busão” para vender seus produtos, comprados nas lojas da periferia da capital paulista, entendeu o que era empreender.

Inicialmente, Suelita, com o marido Lucas Assis, 37, abriu uma loja física em Criciúma, Santa Catarina, para aumentar os ganhos. Contudo, quando aprendeu a anunciar pelas redes sociais, a situação mudou rapidamente. Em pouco tempo, vendeu todo o estoque.

Esse caminho pela internet deu tão certo, que um famoso dentista resolveu contactá-la para lhe fazer uma proposta. Ele corrigiria a arcada dentária dela, que mostrava falta de dentes e, em troca, ela se tornaria garota propaganda da clínica dele. Um acordo foi selado entre os dois.

Enquanto os negócios tentavam engatar, a empresária buscou conciliar um curso de Letras, iniciado na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), com as vendas, mas a necessidade de trabalhar e ajudar a família a fez passar por várias dificuldades, o que a impediu de prosseguir com os estudos.

Força de amiga

Alguns anos se passaram até que, em 2021, Suelita decidiu dar uma grande guinada na vida dela: mudar com a família para Portugal. Vendeu o carro e uma moto que utilizava nos negócios, raspou o que tinha no banco e deu vazão ao desejo de viver em outro país, recomeçar a vida.

Com o marido, três filhos — Giovana, então com 3 anos, João Lucas, 4, João Vitor, 14, e esperando o quarto rebento —, a cuiabana atravessou o Atlântico. “Fomos para Santarém, conseguimos o aluguel de uma casa por 130 euros (R$ 780). A ideia inicial era abrir um café e meu marido trabalhar com obras ou na agricultura", lembra.

Suelita nem bem tinha pisado em solo português, quando percebeu que seu destino estava no ramo imobiliário. Começou no peito e na raça. “Na primeira semana de atividade, já tinha comercializado três casas”, conta. Foi o sinal que ela precisava para investir no novo negócio. "No primeiro mês, já tinha dinheiro para o aluguel e, no segundo, para as compras de mercado", acrescenta.

Incansável, a brasileira aproveitava cada oportunidade que se apresentava. E, para não deixar escapar nada, comprou um carro com o qual passou a rodar por Portugal. O propósito era o de “procurar casas para pessoas”.

Ao mesmo tempo em que era pautada pelo ímpeto empresarial, Suelita tinha uma grande trava: a empresa dela não estava legalizada, nem tinha conta bancária. "Mas uma mão amiga apareceu e me puxou para frente", ressalta. A consultora imobiliária Sónia Santos, oriunda de uma grande empresa do setor, deu-lhe a assistência necessária até organizar os negócios.

Proteção dos clientes

De tanto chamar a atenção nas redes sociais, a brasileira foi contratada por uma empresa de ônibus para uma campanha publicitária. Até recentemente, era a cara da companhia no terminal rodoviário de Sete Rios, em Lisboa, e em outros terminais espalhados pelo país. Mas o que ela queria mesmo era levar seu negócio adiante.

Focada na empresa que abriu, gaba-se ao dizer que tem mais clientes do que imóveis para vender e alugar, quadro que, segundo ela, tende a ficar ainda melhor. "Escolhi Santarém para ser a base da minha empresa. E só tenho a agradecer", assinala.

Mão amiga da brasileira, Sónia destaca a forma como Suelita gere os negócios, com dedicação e proteção dos clientes, o que é um diferencial no mercado. "Suelita é uma pessoa humilde, que teve uma vida difícil e age de forma espontânea. É uma pessoa de coração aberto, que correu atrás para resolver todas as exigências para que a empresa dela funcionasse legalmente. Eu só sugeri que fosse mais profissional, e ela conseguiu", afirma.

Com 16 anos na profissão, Sónia garante que nunca viu um consultor com as características da Suelita. "Ela busca as casas que as pessoas precisam e acompanha as etapas para que os clientes tenham todos os problemas resolvidos, assim como fez com ela própria, até legalizar-se na sua empresa", sublinha.

Para Sónia, a brasileira merece a visibilidade e o sucesso que tem, pois as imobiliárias tradicionais não fazem o que ela faz. "São muito egoístas", frisa. E acrescenta: "Ela não é assim, é um exemplo de profissional". Para a consultora, Suelita é o retrato claro dos brasileiros que escolheram Portugal para viver, trabalhar e estudar. "Ela está acrescentando valor ao nosso país", enfatiza.

Sugerir correcção
Comentar