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Como ser imigrante em Portugal, poupar e ter um futuro de tranquilidade
Educadores financeiros dizem que primeiro passo antes de se mudar de país é fazer um planejamento financeiro, guardando uma boa quantia para fazer frente às despesas iniciais. É trabalho de família.
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Não é de hoje que muitos brasileiros sonham em viver em Portugal. Esse desejo, por sinal, já foi realizado por mais de 500 mil cidadãos que, nos últimos anos, cruzaram o Atlântico certos de que o futuro lhes seria promissor. Mas, entre querer que tudo saia como o planejado e a realidade que se impõe, há uma grande distância. E, para tornar esse caminho menos tortuoso, é preciso se render a uma palavra básica: planejamento. “Sem isso, não há como ter um futuro de tranquilidade. E a dica é envolver toda a família nesse processo”, diz o professor e especialista em educação financeira Ricardo Rocha, da escola de negócios Insper.
Ele ressalta que a mudança de país traz novos desafios econômicos, portanto, é preciso estar bem preparado para enfrentá-los. O primeiro passo é poupar no Brasil por uns dois ou três anos antes da mudança definitiva para Portugal. A dica é economizar ao menos 30% do salário por mês, aproveitando-se das altas taxas de juros no país. A taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano, uma das maiores do mundo. Ao longo do tempo, o dinheiro poupado servirá de colchão para os primeiros meses em terras portuguesas, para garantir aluguel, plano de saúde, compras de supermercado e, claro, uma diversão de vez em quando.
Essa dica é compartilhada pelo professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios: “Ter essa reserva para os primeiros seis meses em Portugal é fundamental, até porque podem surgir emergências, como a necessidade de uma cirurgia ou a compra de um computador fundamental para o desempenho profissional”. Para ele, é preciso entender que emigrar não é uma panacéia, acreditando que tudo dará certo, que bastou chegar no outro país que já se terá emprego e casa certa para morar. Esse mundo em que tudo parece cair do céu só existe nas redes sociais, propagado por youtubers golpistas.
É fundamental, dentro do processo de planejamento visando à mudança de país, anotar quanto se ganha e o que se gasta todo mês. Desse modo, é possível cortar gastos supérfluos. “Para evitar surpresas desagradáveis e manter o controle das finanças, é essencial ter um orçamento bem estruturado. Utilizar uma planilha ou aplicativo para registrar todas as despesas e tudo o que entra de receita. Isso ajuda a visualizar melhor como se está gastando e como se pode economizar”, afirma Rocha.
Câmbio e supermercado
O roteiro do planejamento inclui a variação cambial. É preciso lembrar que um euro corresponde, atualmente, a cerca de R$ 6. “Há muitos brasileiros que emigram, mas continuam com obrigações financeiras no país, como pagamento de prestação de imóveis ou auxílio a familiares”, ressalta o professor do Insper. Nesses casos, se possível, deixe uma parte da poupança no Brasil para cobrir esses gastos. Outra parte deve ser transferida para Portugal, pois, ao se fazer a conversão da moeda, o risco da variação cambial estará praticamente zerado.
Na avaliação de Marcelo Sobreira, essa repartição de recursos entre Brasil e Portugal é importante quando se mantém os pés nos dois países. Contudo, quem optou por viver em outro país, ao longo do tempo, terá de concentrar a vida financeira onde são realizados os maiores gastos. “É uma proteção importante. Mas, sempre, com o dinheiro aplicado”, avisa. Em Portugal, as taxas médias de aplicações financeiras de renda fixa, como os certificados de depósito bancário (CDBs), pagam entre 2,5% e 3,5% ao ano. É pouco perto do histórico do Brasil, mas não se pode esquecer que os recursos investidos são euros, uma moeda forte, de pouquíssima oscilação.
Para os brasileiros que já estão vivendo em Portugal, o professor da HB Escola de Negócios dá um conselho importante: procure fazer as compras de casa nos finais de semana. É que várias redes de supermercados costumam devolver parte do valor da fatura em vouchers. É o famoso cashback. Esse benefício, no geral, vale para compras acima de 100 euros (R$ 600). “Normalmente, as redes de supermercado devolvem 20 euros (R$ 120) para ser gastos até às quintas-feira e outros 20 euros para o abastecimento do carro. Estamos falando de 40% de devolução numa fatura de 100 euros. É muita coisa”, enfatiza.
Tanto Ricardo Rocha quanto Marcelo Sobreira assinalam que o planejamento financeiro para a mudança de país deve estar associado à organização da documentação adequada. Não é recomendável, de forma alguma, viver em um local irregularmente. É sofrimento na certa. Sendo assim, cumprir as regras significa ter segurança. Há vários tipos de vistos para Portugal, como para trabalho, aposentados, investidores, nômades digitais. Obter a documentação exigida pode ser um tanto trabalhoso, mas, depois de tê-la em mãos e com a vida financeira arrumada, as chances de sucesso em qualquer país são bem maiores.