Leo Middea comemora 10 anos de carreira com shows no Porto e em Lisboa

Depois de sete anos em Portugal, o cantor e compositor, que ganhou fama quando concorreu no Festiva da Canção, escolheu as duas cidades para fazer a celebração junto com o público.

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Leo Middea, no Mercado da Ribeira, em Lisboa: cidade está presente em suas canções Jair Rattner
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Aos 18 anos de idade, Leo Middea, 28, deixou o bairro da Taquara, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para ser músico na Argentina. Foi ainda nesse período que lançou seu primeiro disco, Dois. O retorno foi tão bom, que, dois anos depois, foi a vez de A Dança do Mundo, no Brasil.

As trajetória musical de Middea foi se desenhando de forma consistente, mas ele ansiava por novidades. Em 2017, embarcou para Portugal, onde começou tocando nas ruas e em bares. Já em território lusitano, foram mais três álbuns. Com o último deles, Gente, fez uma turnê por oito países, totalizando 65 shows. O disco atingiu um milhão de visualizações em apenas um mês.

Os álbuns anteriores do brasileiro, Vicentina — em homenagem à mulher que previu, quando ele tinha apenas quatro anos, que seria um músico — e Beleza Isolar, sobre sua vivência durante a pandemia, estão carregados de influência do país que o acolheu tão bem e lhe abriu tantas portas, como provam os títulos de músicas como Bairro da Graça, Freguesia de Arroios e Lisbon Lisbon.

Para o grande público, o cantor tornou-se conhecido com a música Doce Mistério, que ficou em segundo lugar no Festival da Canção de 2024. Boa parte dessa carreira construída passo a passo estará nas apresentações que Middea fará na Casa da Música, no Porto (10/10), e no Estúdio Time Out (12/10), no Mercado da Ribeira, em Lisboa.

Veja, seguir, trechos da entrevista que o cantor concedeu ao PÚBLICO Brasil.

O que as pessoas vão ouvir nos shows no Porto e em Lisboa?

Serão shows para celebrar meus 10 anos de carreira. Dos meus cinco discos, vou abraçar um pouquinho de cada repertório, e quero fazer uma mescla de tudo que eu vivi nesses anos todos. Será um apanhado de músicas para celebrar

Por que celebrar em Lisboa e no Porto?

Tenho feito muitos shows pela Europa, mas decidi por Lisboa e Porto como um momento principal para celebrar os 10 anos de carreira, porque sete desses anos foram morando em Portugal. É uma parte muito importante da minha carreira e de todo o meu projeto. Então, achei que era especial celebrar nesses dois lugares e, principalmente, no Estúdio Time Out, onde sempre quis tocar.

Está prevendo alguma música nova para esses espetáculos?

Talvez eu traga uma música nova para celebrar o antes, o agora e o depois.

Como define o caminho que está seguindo? Qual o balanço que faz?

Defino como um caminho muito desafiador, mas, também, corajoso, por seguir todo esse trajeto, mudar de país, onde estou muito feliz com o que tem acontecido na minha vida, realizando esse sonho de poder viver de música, tocando em tantos lugares diferentes, tantos países, tantas cidades, para tantos públicos diferentes. Creio que a persistência sempre acaba prevalecendo.

Falando em coragem, você foi para a Argentina com 18 anos e, para Portugal, com 21. Por quê?

Foi um experimento. A Argentina me trouxe a sensação de querer fazer música para o mundo, celebrar esse ato musical por diversas culturas. Atingir essa multiculturalidade da forma mais presente possível. E, quando vim para Portugal, foi um teste. Acabei ficando, as coisas acabaram rolando, se desenvolvendo e, quando tinha um desafio muito forte à minha frente, conseguia vislumbrar uma possível vitória. Sempre achava que conseguiria ultrapassar os desafios. Foi essa crença que me fez ficar em Portugal, embora, em muitos momentos, tenha pensado que o melhor seria voltar para o Brasil, porque não fazia sentido nenhum estar em outro país.

Quais foram as foram as maiores dificuldades que você enfrentou nesses 10 anos?

Foram muitas, começando pelo aspecto financeiro, porque vivemos a música e a arte em geral 24 horas por dia. É impossível dividir o tempo com a música. E, por querer fazer isso, a questão financeira complicava. Era um artista que estava começando e tinha muitos desafios, como tocar na rua, onde fosse possível. Não recebia muito dinheiro.

Você começou como músico de rua?

Sim. Mas, mesmo na rua ou em bares pequenos, sempre toquei música autoral. Isso porque eu queria que as pessoas me vissem como músico autoral. Foi um pouco confuso e complicado no início, mas acho que resultou bem no final das contas. Tem, ainda, o fato de eu ser um brasileiro que queria ter destaque em Portugal sem ter tido sucesso primeiro no Brasil. Essa dificuldade foi muito forte para mim, porque os espaços acabam sendo um pouco reduzidos.

Houve uma mudança este ano quando você tocou no Festival da Canção?

Com certeza, porque o Festival da Canção permitiu que pessoas de diferentes nichos pudessem ficar atentas ao meu trabalho. Saí de um só núcleo musical para uma abertura maior, com muito mais gente. Foi muito especial todo esse processo.

Em que países você gostaria de tocar que ainda não tocou?

No ano passado, fiz apresentações em oito países. Neste ano, foram uns 15, muitos onde eu queria me apresentar. Mas tem um lugar que eu quero muito ir, e acho que, em algum momento, vai chegar, que é o Japão.

Por que o Japão?

Tenho a sensação de que quando eu fizer um show lá será ser muito bom. Aho que o Japão abraça a música brasileira de uma forma muito interessante, e é uma cultura tão diferente, tão distinta, uma realidade diferente da minha. Acho que seria interessante sentir esse contraste cultural.

Você sofreu influência do Tropicalismo, especialmente de Caetano Veloso?

Pode ser. Comecei a compor por causa de um disco de 2011 chamado Canções de Apartamento, do Cícero. Eu tinha mais ou menos 16 anos quando a minha irmã me apresentou esse álbum, que me deu vontade de compor, de tão tão especial para mim que foi ouvi-lo. Minha vontade foi de passar para as pessoas um pouco daquela sensação. E aquele disco trazia muitas referências, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil. E, quando compunha, me vinha, de uma forma natural, artistas que minha mãe escutava em casa, como Chico Buarque, Caetano. Essas influências são muito fortes na minha vida.

Tem saudades do Brasil, de Jacarepaguá?

De Jacarepaguá, da Taquara. Tenho muita saudade da minha família. Estar distante é muito difícil, mas, agora, estou conseguindo, graças a Deus, ir para lá a cada seis meses, nem que seja para ficar duas semanas. Quero estar lá, ver minha mãe sempre que posso. É muito bom ir a cada seis meses, porque eu já fiquei dois anos sem ver minha mãe. Jacarepaguá está no meu sangue, está nas minhas referências, está no meu corpo, é impossível negar.

Onde se inspira mais para fazer música: Lisboa ou em Jacarepaguá?

Os dois, de uma forma muito balanceada. Lisboa é um lugar onde eu vivi sete anos, então, a cidade integra muito das minhas músicas. Há referências de bairro, de praia, de rua. Mas acho que tem um lugar da Taquara que também é muito presente em mim. E, quando vou compor, não tem como tirar o lugar de onde eu vim.

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