Núcleo duro de Pedro Nuno Santos quer voto contra o Orçamento do Estado
Direcção do PS e bancada socialistas estão divididas sobre sentido de voto no Orçamento, mas todos os “históricos” apoiantes de Pedro Nuno defendem o chumbo do OE.
Os pedro-nunistas de sempre defenderam que o PS vote contra o Orçamento do Estado na reunião de deputados que decorreu na noite (e madrugada) de terça para quarta-feira.
Marina Gonçalves, João Torres, Tiago Barbosa Ribeiro, João Paulo Rebelo e Maria Begonha, entre outros, defenderam que o PS não deveria viabilizar o documento que o Governo vai aprovar nesta quarta-feira sem ter chegado a acordo com o PS. Manuel Pizarro, o antigo ministro da Saúde, também apoiou o voto contra.
A bancada do PS dividiu-se e a direcção do partido também. Mariana Vieira da Silva, que faz parte do secretariado de Pedro Nuno Santos, fez uma intervenção a defender que os socialistas deveriam viabilizar o orçamento de Montenegro. Marcos Perestrello, antigo vice-presidente da Câmara de Lisboa, que integra o secretariado, também se mostrou favorável à abstenção do PS.
O mais contundente defensor da abstenção foi Sérgio Sousa Pinto, que disse que o PS não deveria permitir que o Chega passasse a ter um papel central no regime, o que constituirá “uma derrota histórica para o PS e para todos os democratas”.
Fernando Medina manifestou a posição que já tornou pública: o PS deveria viabilizar o Orçamento do Estado e anunciar a sua posição de forma célere. José Luís Carneiro, o “challenger” de Pedro Nuno Santos nas recentes eleições directas do PS, também se manifestou a favor da viabilização, mas deixou clara a sua solidariedade com qualquer que fosse a posição do secretário-geral.
O presidente da Federação do PS/Algarve, Luís Graça, defendeu o voto contra – como já o tinha feito na reunião do secretário-geral com os presidentes das federações socialistas que decorreu na tarde de terça-feira no Largo do Rato. Nessa reunião, os representantes das bases do partido dividiram-se ao meio, embora todos tenham manifestado, desde já, apoio à decisão do secretário-geral, seja ela qual for.
Pedro Nuno Santos não anunciou nesta reunião a sua posição pessoal e preferiu ganhar tempo — só se vai pronunciar sobre o Orçamento depois de o ler. Confirmou aos deputados o que Luís Montenegro já tinha anunciado em entrevista à SIC-Notícias: PS e Governo não chegaram a acordo, apesar de, ainda durante a tarde de terça-feira, terem existido vários contactos entre António Leitão Amaro, ministro da Presidência, e António Mendonça Mendes, o vice-presidente da bancada socialista que tem sido o negociador por parte do PS.
A deputada Isabel Moreira e o ex-secretário de Estado João Paulo Rebelo foram outros que se pronunciaram em defesa do voto contra o Orçamento. O antigo secretário-geral adjunto João Torres afirmou que o PS tem sido “maltratado” pelo Governo e que a existência de uma diferenciação entre PS e PSD era importante para a democracia.
Esta foi genericamente a tónica das intervenções em defesa do voto contra. Tiago Barbosa Ribeiro, presidente da concelhia do Porto e vice-presidente da bancada parlamentar, invocou o último debate quinzenal como exemplo da forma como o Governo trata o PS e defendeu que os socialistas pediram apenas “duas medidas” e que essas duas medidas deveriam ser cumpridas.
Contra a opinião de Sérgio Sousa Pinto, Barbosa Ribeiro disse que a posição do PS face ao Orçamento não deveria ser tomada em função do Chega. E recordou que a relação entre o PSD e Chega já existe na Madeira e nos Açores, assim como pareceu existir — num primeiro momento — na eleição do presidente da Assembleia da República.
No dia em que o Chega abre a porta a viabilizar o Orçamento — afirmando que “tudo fará” para que não venha a existir uma crise política —, a balança do PS inclina-se para o voto contra.