Não é a aurora, é o STEVE: fenómeno visual raro apareceu nos céus do Reino Unido

Faixa de luz púrpura surgiu durante alguns minutos nos céus britânicos. O fenómeno costuma acompanhar as auroras boreais, mas é muito mais raro e praticamente impossível de prever.

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O fenómeno STEVE avistado nos céus britânicos Amy Geddes (X.com/@farmer_just)
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Os céus do Reino Unido foram palco esta segunda-feira de um fenómeno pouco comum, que costuma ocorrer em simultâneo com as auroras boreais, mas que é distinto destas.

O STEVE (sigla inglesa para Strong Thermal Emission Velocity Enhancement) apresenta-se, como explica a NASA, como um “raro, misterioso e brilhante arco púrpura que vai de leste a oeste", e que "ocorre mais perto do equador do que as auroras boreais [Hemisfério Norte] e austrais [Hemisfério Sul]”.

Como noticia a BBC, o fenómeno foi avistado na madrugada de domingo para segunda-feira em partes da Escócia e no nordeste de Inglaterra, em conjunto com auroras boreais. Difícil de prever, tende também a ter curta duração (entre 20 minutos a uma hora).

Um estudo publicado na revista científica Science Advances ajuda a explicar a distinção entre os dois fenómenos celestiais. As auroras boreais comuns são o resultado da interacção de poeiras solares com o campo magnético da Terra, gerando fortes correntes eléctricas que, por sua vez, “aceleram e precipitam partículas carregadas para o nível superior da atmosfera, onde colidem com os gases que a constituem”.

Este processo de colisão transfere energia para os átomos atmosféricos que, mais tarde, libertam a energia através de uma emissão fluorescente de fotões. As auroras boreais normalmente apresentam cores no espectro dos verdes, vermelhos e azuis, dependendo dos gases e da altitude em questão.

Já o STEVE distingue-se pelo seu aspecto púrpura, rosado e esbranquiçado, com alguns apontamentos em verde, e pelo facto de as suas emissões se localizarem a uma altitude menor na magnetoesfera terrestre.

A equipa de cientistas envolvida no estudo citado utilizou dados recolhidos pelos satélites Swarm, da Agência Espacial Europeia (ESA), para compreender melhor a formação deste fenómeno.

Segundo os dados recolhidos por um destes satélites durante uma ocorrência do STEVE no Canadá em 2016, a temperatura no interior destas faixas luminosas atinge os 6000 Kelvin (5727 graus celsius). Os parâmetros de velocidade e de densidade também registaram valores muito mais elevados no interior do raio de luz.

Esse aumento de velocidade e de temperatura está na origem da sigla STEVE, que designa o fenómeno, e que foi também inspirada por um diálogo de um filme de animação Pular a Cerca (Over the Edge, no original), em que as personagens chamam "Steve" a algo que as assusta, de modo a humanizá-la e a terem menos medo, conta a BBC.

O estudo científico não apresenta conclusões definitivas acerca da natureza deste fenómeno, mas sugere que possa resultar de uma corrente rápida de partículas extremamente quentes, designada por “deriva iónica sub-auroral”, ou SAID, na sigla em inglês, ainda que essa ocorrência não esteja normalmente associada a fenómenos ópticos. Quando está, estes são predominantemente vermelhos e duram mais de 24 horas, ao contrário da curta duração do STEVE e da sua cor púrpura.

No Reino Unido, o anterior avistamento do STEVE remonta a Novembro de 2023, indica a BBC. Para os próximos dias prevê-se a possibilidade de novos avistamentos de auroras boreais, devido à actividade solar bastante elevada e à consequente emissão de partículas em direcção à Terra. Quanto ao STEVE, prever o seu regresso é praticamente impossível.

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