Saúde mental: médicos entre 25 e 35 anos são quem mais pede ajuda ao gabinete de apoio

Clínicos mais jovens recorrem ao gabinete por questões relacionados com o assédio, burnout, depressão, ansiedade, falta de realização pessoal.

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Bastonário diz que os números oficiais de violência estão “muito abaixo” da realidade e pede tolerância zero Manuel Roberto
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Os médicos dos 25 aos 35 anos, que representam um terço dos clínicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), são quem mais procura o Gabinete de Apoio ao Médico (GNAM) da Ordem dos Médicos, que dá resposta a situações de violência e problemas de saúde mental. O coordenador deste gabinete, João Redondo, defendeu nesta terça-feira, em Lisboa, que “estes médicos são o futuro do SNS”, razão pela qual “merecem ser bem tratados”.

Segundo os dados divulgados por João Redondo, os médicos desta faixa etária (dos 25 aos 35 anos) totalizam 16.738, seguidos dos médicos com 65 anos ou mais (16.426). O responsável falava à agência Lusa à margem do debate sobre Saúde mental e bem-estar dos médicos no local de trabalho, promovida pela Ordem dos Médicos (OM), em Lisboa, a propósito do Dia Mundial da Saúde de Mental, que se assinala na próxima quinta-feira.

João Redondo adiantou que são os médicos no grupo etário referido quem mais pede ajuda ao GNAM por questões relacionados com o assédio, burnout, depressão, ansiedade, falta de realização pessoal.

Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, que também marcou presença na sessão, afirmou que os números oficiais de violência estão “muito abaixo” da realidade porque muitos profissionais não denunciam estas situações de violência, que, disse, merecem “tolerância zero”.

“Não podemos permitir que pessoas que estão permanentemente a dedicar-se a melhorar a vida dos outros sejam vítimas de qualquer tipo de violência”, disse, considerando inadmissível que um agressor possa continuar a ameaçar e a estar no local onde agrediu o profissional de saúde.

Na sua intervenção, João Redondo apresentou um estudo sobre assédio sexual da British Medical Association, de 2021, que envolve 2458 médicos. De acordo com o também psiquiatra, o estudo revela que 31% das mulheres e 23% dos homens estiveram expostos a conduta física indesejada no local de trabalho, e 56% das mulheres e 28% dos homens a conduta verbal indesejada.

O responsável lembrou que no caso do assédio sexual, é mais complexo criar prova do que no caso do assédio moral, enquanto os casos de violência física são, geralmente, mais visíveis, mais objectiváveis.

Mais de metade dos internos em risco de burnout

O coordenador não deixou de recordar, a propósito do burnout, um estudo do Conselho Nacional do Médico Interno da OM, de 2023, segundo o qual um em cada quatro médicos internos apresentava sintomas graves de burnout e 55,3% estava em risco de desenvolver a síndrome.

O mesmo estudo indica que 64,7% dos internos se encontrava num nível de exaustão emocional grave, 45,8% apresentava um nível elevado de despersonalização, 48,1% reportava elevada redução da realização profissional e 35,5% iniciou algum tipo de apoio psicológico ou psiquiátrico durante o internato.

As questões pessoais, vivenciais e estruturais relacionadas com as dinâmicas dos serviços também levam os médicos ao GNAM, disse João Redondo, que partilhou ainda já ter tido uma situação ligada a questões de violência na intimidade, porque estas problemáticas acabam por ir para o local de trabalho.

O psiquiatra explicou que o GNAM é uma porta de entrada e de encaminhamento” para as pessoas que recorrem a este serviço, um número que tem vindo a aumentar gradualmente, mas que precisa de aumentar mais já que existe ainda nos profissionais o receio de pedir apoio e de denunciar situações com medo de represálias.

João Redondo ilustrou as questões de violência contra profissionais de saúde com os dados do inquérito do Gabinete Segurança do Ministério da Saúde, realizado em 2023. De acordo com os resultados obtidos, dos 16.292 profissionais de saúde inquiridos, 23% relataram ter sofrido um episódio de violência e, no caso dos médicos, dos 2532 que participaram no inquérito, 24% sofreram violência.

Foram relatados no inquérito 2359 episódios de violência (mais 29,6% que em 2022 e mais 56,6% que em 2021), dos quais 23% por violência física, 11% por assédio moral, 62% violência psicológica, 3% violência patrimonial e 1% por violência sexual.

O coordenador do GNAM alertou ainda para as condições adversas de trabalho, que tornam mais difícil atrair novos médicos e reter especialistas, exacerbando a escassez de profissionais.