Sempre que falo sobre a minha investigação é raro encontrar alguém que saiba sobre o que estou a falar. "Assexualidade? O que é isso?" é a pergunta que mais vezes ouço. Mesmo com tantos avanços no diálogo em torno de minorias sexuais, a assexualidade continua a ser uma identidade minoritária praticamente invisível e mal compreendida.
Apesar de nos últimos tempos o discurso sobre a sexualidade ter vindo a alargar-se e a incluir outros tipos de identidades sexuais, a assexualidade continua a ser esquecida. De facto, num mundo que coloca a sexualidade no seu centro, é fácil esquecer que também existem vivências fora desse círculo, que merecem ser reconhecidas e compreendidas.
A assexualidade é definida como a ausência de atracção sexual por outras pessoas. No entanto, essa definição é apenas um ponto de partida, uma vez que assexualidade ocorre num espectro — o espectro da assexualidade (ou a-spec) — que engloba diferentes experiências, incluindo experiências de atracção sexual e de atracção romântica.
Por exemplo, pessoas grey-assexuais sentem atracção sexual de forma rara ou ocasional, enquanto as pessoas demissexuais sentem atracção sexual após desenvolverem uma forte ligação emocional com outra pessoa. Da mesma forma, alguns indivíduos no espectro da assexualidade podem identificar-se como românticos e sentir atracção romântica e desejar relacionamentos românticos, enquanto outros, que se definem como arromânticos não sentem atracção romântica e preferem outras formas de ligação emocional. Este espectro sublinha a diversidade e a complexidade da assexualidade, que vai muito além de uma simples ausência de atracção sexual.
Mas porque é que se fala tão pouco sobre a assexualidade? A resposta não é simples. Vivemos numa cultura ocidental que valoriza a atracção sexual e a percebe como uma experiência universal. Para quem não se encaixa nesse padrão, as coisas complicam-se. A assexualidade é muitas vezes posta em causa, mal compreendida ou vista como algo temporário ou “anormal”. Isto só contribui para que as pessoas que se identificam como parte do espectro da assexualidade se sintam ainda mais invisíveis.
Por sua vez, esta invisibilidade tem consequências. Sem representação nos media, sem diálogo aberto e sem modelos com quem possam identificar-se, muitas pessoas do espectro da assexualidade acreditam que há algo de errado com elas e que as suas vivências não são válidas. E, pior ainda, falta-lhes apoio e compreensão – tanto por parte da sociedade em geral, como nas redes de apoio à diversidade sexual.
Quando a assexualidade é mencionada, é frequentemente recebida com comentários como “ainda não encontraste a pessoa certa” ou “isso é só uma fase”. Este tipo de respostas reflecti a dificuldade que a sociedade tem em aceitar a assexualidade como uma identidade legítima.
A assexualidade, como qualquer outra identidade sexual, é uma parte válida e rica da diversidade humana. No entanto, a sua invisibilidade dentro das discussões sobre sexualidade é uma barreira para a aceitação e compreensão plena das suas vivências.
À medida que a sociedade avança em direcção a uma maior aceitação da diversidade sexual e de género, é essencial que a assexualidade deixe de ser a minoria de que ninguém fala. Só assim poderemos construir um mundo verdadeiramente inclusivo, onde todas as identidades sejam reconhecidas e respeitadas.
É por isso que precisamos de falar mais sobre a assexualidade. Precisamos de ver personagens do espectro da assexualidade em filmes e séries, precisamos de mais conversas abertas e honestas sobre a assexualidade e de criar espaço para que estas pessoas se reconheçam e sejam reconhecidas. Apesar desta invisibilidade, as pessoas do espectro da assexualidade existem e podemos até conhecer alguma sem o saber ou até mesmo conhecer alguém que o é sem (ainda) o saber — está na hora de lhes darmos o reconhecimento e a liberdade que merecem