É altura do “cuffing”: eis a explicação para querermos assentar durante o Inverno

Procurar um parceiro para passar o Inverno pode ter sido mesmo uma questão de sobrevivência. Mas também há factores biológicos que podem explicar.

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Será que o esforço de investir na procura de um parceiro romântico se intensifica quando o Verão acaba? Durante os meses mais frios, mais escuros, as pessoas tendem a entrar na “cuffing season” (algo como "época das algemas", em português), que significa aproximar-se ou ter uma relação física com alguém só para os meses mais frios.

Tu sabes que não vai durar. “Cuffing” é uma metáfora para querer estar preso a alguém durante um período de tempo. No hemisfério Norte, este comportamento pode começar à volta de Outubro e acabar na altura do Dia dos Namorados. Aplicações de encontros, como o Bumble ou o Hinge, reportam que em Outubro e Novembro tende a haver um pico de novos perfis e envio de mensagens.

No nosso passado evolucionário, o “cuffing” pode ter sido necessário à sobrevivência. Os meses de Inverno são mais frios e escuros, e os nossos antepassados terem procurado companhia para se manterem quentes e seguros, durante um período em que poderiam morrer devido à exposição ou ataques de predadores, pode ter sido uma questão adaptativa. A companhia proporcionou-lhes calor e, possivelmente, alguém para os proteger.

Este comportamento também pode ser explicado, pelo menos em relação aos homens, por uma variação nos níveis de testosterona. Estes tendem a ser mais baixos nos meses com temperaturas mais altas e mais horas de sol, e mais altos nos meses de Inverno. O aumento nos níveis de testosterona dos homens durante os meses de Inverno podem levar a uma procura mais activa por um parceiro sexual.

Os investigadores polacos Buguslaw Pawlowski e Piotr Sorokowski notaram que os julgamentos masculinos sobre a atractividade feminina variam sazonalmente. No seu estudo de 2008, 114 homens heterossexuais foram convidados a avaliar a atractividade de fotografias de mulheres em diferentes estações. As fotografias mostravam ancas em fatos de banho, seios, e caras de mulheres. Os investigadores descobriram que as preferências dos homens em relação às formas do corpo e seios mudavam ao longo das estações, mas não houve alterações em relação aos rostos.

Os homens deram avaliações mais altas no Inverno, e mais baixas no Verão, o que significa que é mais provável que se sintam mais atraídos no frio. Os investigadores especularam que isto podia dever-se ao facto de, durante o Verão, os homens estarem mais habituados a ver corpos femininos mais despidos e, por isso, darem avaliações mais baixas nesta altura.

O “cuffing” também pode ser associado à necessidade de toque. Abraçar ou dar as mãos geralmente baixa os níveis de cortisol (associado à pressão arterial e irritabilidade) em ambos os sexos, e aumenta a libertação de ocitocina (a hormona associada ao amor). Quando o nosso corpo liberta ocitocina, sentimo-nos mais relaxados, felizes e, geralmente, com melhor humor.

Mais ainda, o “cuffing” pode ser explicado pelo facto de, durante os meses de Inverno, termos festas, convívios com amigos, o Dia de Acção de Graças (para quem vive nos EUA), o Natal e o Ano Novo. Estes eventos aumentam as interacções sociais e as oportunidades de conhecer novas pessoas.

Uma questão subliminar

As pessoas podem não estar cientes de que a sua procura por relacionamentos muda nos meses mais frios e, simplesmente, seguir o instinto. É possível que a popularidade das aplicações de encontros tenha fortalecido a época do “cuffing”. Um estudo de Julho de 2024 sugeriu que as pessoas tendem a “gamificar” as aplicações de encontros, que forçam os utilizadores a ter o maior número de matches, em vez de procurarem conexões significativas. Isto pode levar ao “cuffing”.

Lembra-te: se decidiste procurar um romance de Inverno, pensa no que acontece depois da “cuffing season”. Pretendes continuar com o teu parceiro depois disso? Sentiste uma espécie de urgência em estar com o teu parceiro de “cuffing”? Claro que não há qualquer motivo para que a relação com o teu parceiro não se transforme numa relação longa. Mas pode ser útil protegeres-te, ou ao teu parceiro, da frustração, se já sabes que é isto que queres.


Exclusivo P3/The Conversation
Martin Graff é professor de Psicologia das Relações na Universidade de South Wales

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