Uma estreia auspiciosa para a Quinta S. José de Barrilário

Este Quinta São José do Barrilário Reserva Tinto 2020, tem, desde logo, um nariz fabuloso, que espelha bem o seu berço. Na boca, tem fruta e frescura. É gastronómico e polivalente. Venham mais destes.

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Vista aérea da Quinta São José do Barrilário, em São Joaninho, Vacalar, concelho de Armamar Direitos Reservados
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Quando, em 2017, um dos sócios da Terras & Terroir lhe pediu para o acompanhar numa visita a uma quinta ali perto da Pacheca, onde o grupo se preparava para investir, Hugo Fonseca pensou: mas aquilo está abandonado, não é um bom investimento. Pensou e tentou demover os patrões de levar adiante o negócio.

Sem sucesso. E ainda recaiu sobre os seus ombros — não só, mas também — o trabalho de recuperar a vinha da propriedade de 28 hectares em Vacalar, Armamar, encaixada junto ao rio Temilobos e muito mais resguardada do bulício do Douro do que a Pacheca e outras quintas à beira daquele rio plantadas. Desta feita, com sucesso.

“Hoje podemos dizer que temos aqui uma vinha”, partilhou há dias, no lançamento dos primeiros dois vinhos da Quinta S. José de Barrilário, o director de produção da Terras & Terroir. Concretamente, 15 hectares de vinha, que encanta à volta do recém-inagurado hotel de cinco estrelas.

Foram recuperados embardamentos, feitas alterações à poda e plantada vinha nova nas cotas mais baixas — tintos, Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão. Nos dois reservas agora lançados, impressionam a pureza aromática, o elogioso trabalho de barrica e a frescura. O branco, feito com uvas de outro lugar, Parambos, Carrazeda de Ansiães, é denso e gordo, concentrado e fresco, belíssimo. E este tinto, de 2020, tem, desde logo, um nariz fabuloso, que espelha bem o seu berço, com fruta vermelha e silvestre e um lado floral à mistura.

A boca confirma o que o cheiro fazia adivinhar. Fruta, muita frescura — chove menos neste terroir de transição entre o Baixo e o Cima Corgo — e um tanino bem presente, mas aveludado, alguma especiaria. Um vinho gastronómico e polivalente à mesa. Boa química com o carré de borrego do chef Luís Filipe Guedes, também se aguentou bem quando o provámos com o bacalhau à lagareiro. É um vinho muito jovem ainda, que será interessante acompanhar ao longo dos próximos anos.

O Barrilário tem vinhas entre os 70 e os 300 metros de altitude, maioritariamente voltadas a nascente e que não sofrem com o calor excessivo de outros Douros. Beneficiam das primeiras horas de sol da manhã e dão origem, asseveram os enólogos Maria Serpa Pimentel e João Silva e Sousa, a mostos equilibrados, sem uma concentração excessiva, e boa acidez“este troço aqui é frescura, frescura, frescura; fruta, fruta, fruta”. A julgar por esta estreia, assim é.

Duas notas finais para a sustentabilidade deste e de outros projectos da Terras & Terroir. Foi com agrado que percebemos que reduziram em 100 gramas o peso da garrafa que mais usam — há uns meses largos surpreendeu-nos uma garrafa bem pesada, cujo vidro dava para fazer duas; esse modelo tem vindo a desaparecer do portefólio e já só vai para certos mercados (casmurros) — e que, com a poupança daí decorrente, instalaram dez colmeias na quinta a pensar nas oliveiras. Segundo Hugo Fonseca, as abelhas ajudam a aumentar a percentagem de flor que vinga (que dá fruto). E é tal o entusiasmo que está previsto instalar mais 20 colmeias. O olival também vai crescer. Agora são 450 as oliveiras, de bordadura, mas nos terraços voltados ao Temilobos surgirão em breve mais oliveiras, macieiras, laranjeiras e amendoeiras.

No plano social, esta foi a maior vindima de sempre da Pacheca, pura e simplesmente porque o produtor não conseguiu dizer que não a quem lhe bateu à porta, desesperado para vender a uva que de outra forma ficaria na vinha. E comprou “a valores acima da média”. O aumento da produção será de 15% a 23%. Sem o viticultor não há vinho e sem vinho não há negócio, nem mesmo o do enoturismo.

Nome Quinta São José do Barrilário Reserva Tinto 2020

Produtor Terras & Terroir

Castas Touriga Francesa (60%), Sousão (15%), Touriga Nacional (15%) e Tinta Roriz (10%)

Região Douro

Grau alcoólico 14%

Preço (euros) 35 (PVP recomendado)

Pontuação 93

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Um tinto que cheira ao lugar onde nasce, a Quinta São José do Barrilário, num Douro mais resguardado do calor das cotas baixas junto ao rio, na aldeia de São Joaninho, freguesia de Vacalar, Armamar. Fruta vermelha e silvestre no nariz, com algum floral à mistura. Na boca, confirma a fruta, é muito fresco e tem um tanino bem presente, mas aveludado. Sujeitos os mostos a uma extracção suave, a maloláctica aconteceu em simultâneo com a fermentação alcoólica. E o vinho esteve 18 meses em tonel de 5000 litros e barricas de 300 litros, carvalho francês usado. Uma estreia auspiciosa, em 6600 garrafas.

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