Alessandra Leão abre em Portugal turnê europeia do show Solo

Cantora, compositora e percussionista pernambucana vai se apresentar nesta terça no B.O.T.A. Anjos. Ela foi nomeada para um Grammy Latino em 2019, com o disco Macumbas e Catimbós.

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Alessandra Leão traz a música de Pernambuco para Lisboa José de Holanda
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Para Alessandra Leão, 45 anos, Portugal sempre foi um lugar especial. Tanto que, para começar a mais nova turnê pela Europa, ela resolveu que a primeira parada seria na capital portuguesa. É a terceira vez que a artista se apresenta no país — antes, tinha tocado em em 2008, e no ano passado. “Tinha marcado de ir para a França, mas gostei tanto de Portugal que antecipei a ida para fazer um show em Lisboa”, diz.

No espetáculo desta terça-feira (1/10), no B.O.T.A., como o nome Solo, a cantora apresentará cirandas, cocos, toré, jurema, umbanda, candomblé e chegança, além de composições próprias. “O nome do show é Solo, mas não estarei sozinha. Vou incluir vozes de outros artistas, como se estivéssemos em diálogo”, relata.

Entre as vozes que ela trará gravadas estão as de Odete de Pilar, Ana do Coco, Mestre Galo Preto e Bill Roque. Vão subir ao palco outros músicos, como Areia, no baixo, Nelly e a Banda Alyon. “É uma banda com músicos da Argentina, Brasil, Itália e Grécia. Nós nos conhecemos em São Paulo, no ano passado. Eles estavam dando um show e me convidaram para participar. Como eles estão em Portugal agora, eu os convidei para dar uma canja comigo”, afirma.

Alessandra tem uma musicalidade marcada pela força da percussão. Ela toca o ilu, uma espécie de tambor do maracatu do baque solto. “Existem dois tipos de maracatu. O maracatu do baque virado, que é mais do Recife, uma tradição negra, e o maracatu do baque solto, que é da Zona da Mata Norte, de origem cabocla, que mistura o negro e o índio”, explica.

"Enquanto no baque virado, o costume é usar o atabaque, no baque solto, a batida da percussão é marcada pelo ilu", reforça Alessandra, que toca ilu e dá aulas do instrumento — no domingo (29/9) deu uma oficina de percussão em que ensinou os presentes a tocarem.

Indicada ao Grammy

A cantora e compositora tornou-se mais conhecida em 2019, quando foi indicada para o Grammy Latino pelo disco Macumbas e Catimbós, na categoria de Melhor Álbum de Música de Raízes de Língua Portuguesa. O álbum também foi eleito um dos 25 melhores do primeiro semestre deste ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. “Quando estava gravando o Macumbas e Catimbós, brinquei dizendo que ganharia um Grammy. E quando veio a nomeação, fiquei estupefata, porque não é comum escolherem um disco com repertório em homenagem à macumba, à jurema e à umbanda”, lembra.

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A tradição dos cultos afro-brasileiros marca a música de Alessandra Leão José de Holanda

A música da Zona da Mata está ligada à própria decisão que teve de se tornar uma artista. “Quando era adolescente, ia muito para a Zona da Mata Norte com o pessoal do movimento Mangue Beat. O Mangue Beat estabeleceu um diálogo cultural com tudo o que vinha da Zona da Mata Norte. Essas viagens mudaram a minha vida. Foi quando comecei a querer tocar”, acrescenta.

A música de Alessandra está relacionada com os cultos afro-brasileiros. O candomblé e a umbanda têm elementos africanos misturados com outros da religião católica. Já a jurema sagrada é uma tradição religiosa do Nordeste do Brasil, ligada à pajelança indígena, a formas populares do catolicismo e religiões afro-brasileiras.

Compositora, cantora e percussionista há 25 anos, a artista começou a carreira a solo em 2006, com o disco Brinquedo de Tambor. Ela tem cinco álbuns gravados e já tocou, cantou e compôs com nomes como Chico César, Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Juliano Holanda.

Intolerância

Num momento em que aumenta a intolerância religiosa no Brasil, Alessandra, que se define como seguidora do candomblé, lembra as vezes em que foi vítima de intolerância religiosa. “Já teve casa de show que disse que não tocava macumba. Houve um edital público que tinha como condição não tocar música de cunho religioso, quando a música de candomblé e umbanda fazem parte da tradição cultural que forma o Brasil. Houve show em que gente se levantou e foi embora quando comecei a cantar para Exu”, recorda.

Mesmo assim, ela afirma que a sua situação não é a pior. “Eu sou branca. Tenho consciência de que o que passo não é nada diante do que pessoas negras ou indígenas enfrentam diariamente”, observa.

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