Autarca de Gondomar na presidência da nova empresa de transportes. Porto não votou

O socialista Marco Martins foi votado para liderar a nova empresa que vai tomar conta da operação da Unir e diz querer recuperar a confiança dos utentes. Câmara do Porto diz que não foi envolvida.

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Eleito em 2013, Marco Martins está no último mandato à frente da Câmara Municipal de Gondomar Anna Costa
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Mesmo antes da reunião do Conselho Metropolitano do Porto desta sexta-feira, os nomes já estavam escolhidos. A distribuição e o preenchimento dos boletins foi expedita e o resultado unânime: Marco Martins será o presidente da administração da Transportes Metropolitanos do Porto, a empresa que vai tomar conta da operação da rede Unir e absorver a Transportes Intermodais do Porto, a empresa que gere o Andante e a bilhética da STCP, Metro do Porto e comboios urbanos da área.

Entre os 12 autarcas que votaram, houve 12 votos a favor da constituição da administração da nova empresa, que integra ainda como vogais Luís Osório, administrador da Casa da Música e ex-deputado municipal pelo PSD, e Carla Vale, delegada regional do Norte do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

No entanto, o vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, retirou-se da sala no momento da votação. Minutos depois, justificaria a decisão: "Nunca estivemos envolvidos neste processo da escolha dos órgãos nem da remuneração dos mesmos, daí a ausência do município das votações.”

Isto significa que o Porto prescindirá de nomear o presidente da mesa da assembleia geral, uma possibilidade que lhe estava reservada. De acordo com documentos citados pela agência Lusa, o Porto indicaria a presidência da mesa e a área metropolitana a vice-presidência.

A discordância não afectou o esperado desfecho desta sexta-feira, e o autarca socialista de Gondomar, que está no terceiro e último mandato no município, será mesmo o primeiro presidente da administração de uma empresa de transportes metropolitana que era esperada, pelo menos, desde 2020.

O autarca de Gaia, que lidera também o Conselho Metropolitano do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, sublinhou isso mesmo: a rede de autocarros metropolitanos Unir arrancou em Dezembro de 2023, mas “a empresa devia ter sido constituída antes da operação”.

“Recuperar a confiança”

Mesmo sem os quadros suficientes para uma operação desta escala, o lançamento da Unir acabaria por ser trabalhado pela Área Metropolitana do Porto, mas com inúmeras queixas sobre os níveis de serviços e falta de informação aos utilizadores.

É por aí que Marco Martins quer começar, disse o autarca aos jornalistas, no final da reunião. As prioridades são garantir “que os autocarros passam no horário previsto” e que “há informação ao público”. A comunicação, reconhece, “é uma das grandes falhas” e sublinha que os operadores estão obrigados a colocar os horários nas paragens. O grande objectivo, disse, logo após ser eleito, é “recuperar a operação e a confiança” da população.

Será também possível passar a controlar com georreferenciação o serviço dos operadores. Apesar de os veículos estarem equipados com tecnologia que permite este acompanhamento, isso não acontece “porque não há capacidade na AMP para fiscalizar”, diz Marco Martins. Não acontecerá de um dia para outro – é preciso adquirir hardware e software –, mas este trabalho entra igualmente no topo da lista de prioridades.

É também necessário “introduzir melhorias na rede”. As linhas que entraram ao serviço em 2023 foram desenhadas em 2019, quando foi lançado o concurso para atribuição dos lotes a operadores privados. Houve alguns ajustes em vários municípios, refere, mas, havendo contratos de mais seis anos de operação, é necessário ir revendo e ajustando a rede.

Terá de haver trabalho com autarcas para identificar problemas e dificuldades, mas também um trabalho com as operadoras privadas a quem foram concessionados os lotes da Unir. “Este será dos maiores incêndios que terei para apagar nos próximos tempos”, disse Marco Martins, bombeiro voluntário desde os 14 anos. O autarca de Gondomar não se comprometeu com a data de arranque da nova empresa que teve visto do Tribunal de Contas em Abril, embora Janeiro sirva como data indicativa.

Eduardo Vítor Rodrigues sublinhou que a empresa foi desenhada com o cuidado de que a Metro do Porto e a STCP não tenham de financiar um eventual défice de operação da Unir, mas que a Unir também não deve cobrir possíveis contas negativas destas empresas. “As verbas adstritas a cada uma das operações”, disse, “têm centros de custo autónomos” que são "devidamente claros e verificáveis por todos" para que as operações não se canibalizem.

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