Tribunal japonês absolve homem que passou quase 50 anos no corredor da morte

Foram precisos quase 60 anos para que Iwao Hakamada fosse absolvido de quatro homicídios pelos quais foi condenado à morte injustamente no Japão.

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A irmão mais velha de Hakamato, de branco no centro, acompanhada de apoiantes à entrada do tribunal de Shizuoka JIJI PRESS / EPA
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Quase seis décadas depois, Iwao Hakamada viu ser-lhe feita justiça e o seu nome limpo. O japonês de 88 anos passou quase 50 anos no corredor da morte por um crime que um tribunal de recurso concluiu agora que não terá cometido.

Em 1968, Hakamada, um antigo pugilista profissional, foi acusado e condenado pela morte do patrão, da mulher e dos dois filhos adolescentes do casal. Pelos crimes foi condenado à pena de morte e passou 45 anos no corredor da morte à espera da execução.

Em 2014, emergiram dúvidas sobre as provas que levaram à sua condenação e Hakamada foi libertado e foi pedida uma repetição do julgamento. Desde então, o homem tem estado a viver com a irmã mais velha e, apesar de padecer de vários problemas de saúde, nunca desistiu da luta para limpar o seu nome.

No Japão, onde as repetições de julgamentos são extremamente raras, o veredicto era aguardado com enorme expectativa. Para assistir à última sessão do julgamento no tribunal Shizuoka estavam inscritas mais de 500 pessoas, de acordo com a BBC. Assim que a ilibação de Hakamada foi tornada pública, a multidão de apoiantes à porta festejou aos gritos de “banzai”.

Hakamada trabalhava numa fábrica de produtos alimentares em 1966, quando foram encontrados os corpos do dono da empresa, da mulher e dos dois filhos, esfaqueados até à morte. A casa da família tinha sido incendiada.

Dois anos depois, Hakamada foi condenado pelos homicídios, pelo incêndio e ainda pelo roubo de 200 mil ienes.

Inicialmente, o homem negou as acusações, mas acabou por confessar os crimes – mais tarde, disse ter sido vítima de espancamentos durante interrogatórios de 12 horas para que confessasse.

O aparecimento de roupas manchadas de sangue no local do crime, alegadamente com ADN de Hakamada, serviu como a prova principal para o incriminar.

Os advogados de defesa alegaram durante anos que o material genético recolhido não correspondia ao ADN de Hakamada e chegaram a sugerir que as provas foram forjadas pelos inspectores policiais para incriminar o seu cliente.

Ao fim de uma longa batalha judicial, em 2014, um juiz deu ordem para que Hakamada fosse libertado, reconhecendo pela primeira vez a possibilidade de ter havido um erro na avaliação das provas que levaram à sua condenação.

Seria preciso aguardar mais uma década para que um novo julgamento fosse marcado. Desta vez, as provas de ADN foram postas de lado e foi aceite a tese da defesa de que as manchas encontradas nas roupas não poderiam ser de sangue. Na sentença, o juiz concluiu que “os investigadores interferiram com as roupas” que serviram como prova central da condenação de Hakamada.

Mais de 50 anos depois, o antigo pugilista viu confirmada a sua inocência. À saída da sessão, Hideko Hakamada agradeceu a todos os que apoiaram ao longo dos anos a luta do seu irmão. “Quando escutei [a sentença], fiquei tão comovida e feliz, não consegui parar de chorar”, afirmou.

Os anos que passou preso injustamente deixaram Hakamada com a saúde muito fragilizada, sobretudo a nível mental, não tendo, por isso, estado presente nas sessões do julgamento.

A Amnistia Internacional aplaudiu a decisão do tribunal e elogiou a “luta inspiradora” de Hakamada, reforçando os pedidos para que o Japão acabe com a pena de morte. “Depois de suportar quase meio século de encarceramento injusto e mais dez anos à espera de um novo julgamento, este veredicto é um reconhecimento importante da profunda injustiça que suportou na maior parte da sua vida”, afirmou a organização.

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