Descarbonização: que caminho para Portugal?
Transversal a todos os sectores-chave da economia, a descarbonização é um dos processos cruciais para mitigar as alterações climáticas e dar uma nova vida ao planeta.
Conceitos como alterações climáticas, gases de efeito de estufa, poluição, ou aquecimento global já estão no léxico diário de toda a população. No entanto, conceitos mais complexos, as medidas e os projectos desenvolvidos ou a forma como afectam todos os sectores da economia, não são tão comummente conhecidos.
Um dos grandes objectivos quando se fala de alterações climáticas - além da sua reversão - é o alcance da neutralidade carbónica até 2050, que se traduz na descarbonização. Mas o que é a neutralidade carbónica? Em que consiste? Damos-lhe a conhecer os conceitos básicos para compreender a importância deste processo para o futuro do planeta.
Afinal, do que falamos quando nos referimos à descarbonização?
A descarbonização é o processo de redução (ou até eliminação) da emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa na atmosfera. Emergiu como uma prioridade global, como forma de minimizar o efeito das alterações climáticas, bem como os impactos negativos para o meio ambiente e para a sociedade. O objectivo final deste processo é atingir a neutralidade carbónica e climática, com recurso a um processo de transição energética, o que exige uma mudança basilar na produção e consumo de energia.
Para descarbonizar, os países e as empresas mudam a forma como produzem e utilizam energia, substituindo combustíveis fósseis – como o carvão, o petróleo ou o gás – por fontes de energia alternativas limpas e renováveis como a energia solar, a eólica e o hidrogénio. Além disso, são ainda adoptadas práticas que ajudam a remover CO2 da atmosfera, como plantar mais árvores ou construir centrais de captura e armazenamento de carbono.
No entanto, é de referir que este processo não é viável de uma forma repentina: deve procurar-se a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a optimização do consumo energético, conduzindo à tão desejada redução significativa (ou até, definitiva) das emissões de CO2, sem que seja colocada em causa a estabilidade, a adaptabilidade e a eficiência das redes de energia, bem como os demais processos socioeconómicos que dependem do sector energético.
Contudo, não devemos perspectivar esta transição apenas como uma necessidade, ela é também uma oportunidade para inovar, para tornar as empresas mais eficientes e, essencialmente, aumentar a competitividade entre os vários sectores.
Quais os sectores em que a descarbonização incide?
A descarbonização é transversal a todos os sectores-chave da economia. Assim, falamos de sectores como a energia, os transportes e mobilidade, a indústria, o retalho, a agricultura e florestas, e a construção que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a adoptar medidas e a aderir a iniciativas para iniciar o seu processo de descarbonização.
Seja por empresas, pelos Governos de cada país, ou instituições europeias, muito se tem feito no sentido da descarbonização dos sectores mais poluentes e cruciais para as economias mundiais.
Em Portugal, os diversos governos em funções têm vindo a aplicar e a integrar iniciativas de descarbonização, que vão ao encontro do compromisso estabelecido, em 2016, de assegurar a neutralidade carbónica e de emissões poluentes até 2050. Para tal, foram criados o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) e o Plano Nacional Energia e Clima para 2021-2030 (PNEC 2030).
Além disso, também o encerramento das últimas duas centrais de carvão, em 2021 – a Central do Pego, em Abrantes, e a Central de Sines –, demonstraram o claro empenho de Portugal em atingir as metas de descarbonização, uma vez que as emissões de CO2 foram inequivocamente reduzidas no sector energético com o fim da produção de energia através do carvão.
A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que conta com mais de duas centenas de empresas associadas, criou o Roteiro para a Descarbonização do Sector da Distribuição, com o objectivo de “apoiar as empresas associadas na resposta aos desafios das Alterações Climáticas” e na sua adaptação, permitindo a criação de uma economia mais circular. O mote é “Colaborar+ Adaptar+ Transitar+”. Por outro lado - e também em Portugal - várias empresas do sector petroquímico apresentaram o seu próprio roteiro para cumprir com os objectivos de descarbonização.
A nível europeu, através da União Europeia e das suas instituições, as emissões zero de dióxido de carbono têm sido vistas como uma das grandes prioridades da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Através de projectos como o Pacto Ecológico Europeu, a Europa procura ser o primeiro continente a ter um impacto neutro no clima, até 2050. Ademais, o objectivo é também reduzir, pelo menos, 55% das emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2030. A floresta é igualmente vista como uma mais-valia e aliada neste processo. Até 2030, a União Europeia tem o objectivo de plantar 3 mil milhões de árvores adicionais nos 27 países que dela fazem pare.
Embora esta transição esteja, de acordo com especialistas, a decorrer com alguns percalços – há metas por atingir, há interesses a proteger, há rotinas que ainda precisam de ser alteradas –, a descarbonização torna-se um processo necessário para cuidar do planeta e das economias e sectores mundiais.
Este conteúdo está inserido no projecto "Descarbonização: que caminho para Portugal?", que inclui ainda case studies de empresas nacionais e uma conferência dedicada ao tema da descarbonização em Portugal.
Esta iniciativa é da responsabilidade do Estúdio P do jornal PÚBLICO e tem como parceiros a Associação Portuguesa de Energia; Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição; CIMPOR; Charge Guru; E-REDES; GALP; HyChem; SAP; SONAE; VEOLIA.