Uma mulher ficou presa num incêndio em casa. A cadela salvou-lhe a vida

Maya, cruzada de pitbull, deitou-se em cima da dona e lambeu-lhe a cara até os bombeiros a levarem para o exterior. Melissa sofreu um AVC no início do ano que a impediu de andar.

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David Hoffman
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David Hoffman estava fora de casa a tratar de alguns recados quando recebeu uma chamada telefónica frenética da nora a avisar que a casa onde vivia estava a arder. A mulher, Melissa Hoffman, que vive com uma deficiência física, e os animais de companhia do casal estavam presos no interior da moradia.

Ingrid Hoffman, a nora, disse ainda que tinha tentado tirar Melissa do quarto, mas o calor e o fumo eram tão intensos que se viu forçada a fugir. David, 69 anos, correu para a casa situada na cidade de Citrus Heights, na Califórnia, nessa manhã do dia 15 de Agosto e viu o duplex em chamas. Correu para ir ter com a mulher.

“Estava tanto fumo e calor que me fez recuar”, recorda David, explicando que Melissa, 64 anos, teve um AVC no início deste ano e não consegue andar.

Quando entrou na casa, David não sabia que Melissa tinha pegado na cadeira de rodas e caído no chão, e que a cadela do casal, Maya, estava deitada em cima dela — o que, segundo as equipas de salvamento, ajudou a salvar-lhe a vida.

“Abri a janela das traseiras e comecei a deitar água da nossa mangueira de jardim. Durante o tempo todo gritava à Melissa para continuar a falar comigo e que a íamos tirar de lá”, conta.

As equipas de bombeiros chegaram rapidamente e correram para as traseiras da casa, procurando Melissa no meio do fumo cerrado.

“Uma das nossas equipas de salvamento viu um pouco de pelo no chão e encontrou a cadela em cima da mulher”, afirma Ryan McMahon, comandante do Distrito Metropolitano de Bombeiros da cidade de Sacramento. “Agarraram na mulher e na cadela e levaram-nos para junto dos socorristas na janela das traseiras.”

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Maya com os donos Melissa e David David Hoffman

Os socorristas pensaram que Maya, cadela cruzada de pitbull com 8 anos, já não estava viva quando foi retirada do duplex.

“Todos pensámos que a cadela não tinha sobrevivido. Não se mexia e não parecia estar a respirar", recorda Josh Leonard, comandante dos bombeiros.

Mas Maya não só estava viva, como, segundo os socorristas, foi uma heroína ao deitar-se no peito de Melissa e proteger o rosto da dona.

“A cadela estava inconsciente no peito [da mulher] a proteger as vias respiratórias e acabou por sofrer o impacto do calor”, explica Leonard. Salvou-lhe a vida e é uma heroína", acrescenta o bombeiro.

De acordo com o comandante Mark Nunez, porta-voz do Distrito Metropolitano de Bombeiros de Sacramento, a forma como a cadela se posicionou sobre Melissa foi o que a salvou até os bombeiros a conseguirem resgatar.

“Pensem nisto como alguém que está à nossa frente e bloqueia o vento que está a empurrar na nossa direcção”,afirma, acrescentando que já tinha visto este comportamento nos cães.

“Quando somos chamados para situações que envolvem cães, notamos que há uma ligação instintiva que o animal tem com o dono e que explica a necessidade de o proteger."

Melissa, que sofreu queimaduras de terceiro grau em 60% do corpo, foi levada de ambulância para um hospital. Leonard disse que foi nessa altura que ele e a sua equipa ficaram chocados ao ver Maya a respirar com dificuldade no relvado.

“Colocámos rapidamente uma máscara na cadela para lhe dar oxigénio e conseguimos reanimá-la. Sabíamos que tínhamos tirado Maya e a senhora da casa mesmo a tempo”, adianta.

A cadela precisou de receber oxigénio quando foi retirada do interior da casa Matthew Rust/Sacramento Metropolitan Fire Department
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A cadela precisou de receber oxigénio quando foi retirada do interior da casa Matthew Rust/Sacramento Metropolitan Fire Department

David diz que a mulher está agora a recuperar dos ferimentos num centro de queimados e que vai precisar de vários enxertos de pele e de meses de terapia de reabilitação. Segundo o marido, Melissa teve um AVC em Fevereiro e estava a recuperar bem até ao início do incêndio.

A causa do fogo ainda está a ser investigada. Os bombeiros conseguiram controlá-lo antes que este destruísse o outro lado do duplex, mas esta zona da casa também sofreu danos provocados pelo fumo.

“Perdemos tudo, incluindo um dos nossos gatos, mas estou muito grato pela [Melissa] e pela Maya terem sido salvas. Aquela cadela tem sido uma heroína desde que a acolhemos quando era cachorrinha. Sempre foi muito dedicada."

Dado o comportamento da cadela, David diz não ter ficado surpreendido ao saber que Maya ficou ao lado da mulher numa emergência.

“Ela é extremamente próxima da Maya e chama-lhe amorzinho (sweet pea, no original). A Maya dorme na cama com ela e está sempre ao seu lado”, revelou.

Segundo David, o Veterinary Specialty Hospital em Roseville, na Califórnia, tratou das queimaduras de Maya de forma gratuita depois de ter tomado conhecimento das perdas que a família sofreu. O dono de Maya está neste momento a viver numa casa arrendada pelo Airbnb.

Os familiares criaram uma conta GoFundMe para ajudar a pagar a parte das despesas médicas de Melissa que não estão cobertas pelo seguro. Angariaram mais de 9 mil dólares (8089 euros) até agora.

A par disto, revela David, uma pessoa deu-lhe recentemente uma nova gata para superar a perda da que morreu no incêndio.

“Ela tornou-se a melhor amiga de Maya e eu decidi chamar-lhe Miracle (milagre)."

Quanto a Maya, está agora em casa e a recuperar de queimaduras que sofreu num dos lados do corpo e na língua provocadas pelo fumo.

“Ela estava a lamber a Melissa enquanto estava deitada em cima dela. Sofreu algumas das queimaduras que Melissa teria sofrido.”

No dia 9 de Setembro, David regressou ao veterinário com Maya para uma reunião com os bombeiros que salvaram a vida da cadela. A KCRA Television cobriu o evento, que incluiu muitas festinhas na cabeça do animal e elogios à “boa menina” que Maya demonstrou ser.

“Todos queriam agradecer a Maya pela coragem e nós queríamos agradecer-lhes”, afirma o dono.

O comandante Ryan McMahon acrescentou que foi gratificante para os bombeiros verem a cadela a correr alegremente de uma pessoa para a outra.

“Muitas vezes, no serviço de bombeiros, não se sabe o que acontece com as pessoas e os animais depois das emergências. Nem sempre se consegue fechar esse ciclo. Foi muito bom fechar este.”


Exclusivo PÚBLICO / The Washington Post

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