Misericórdia de São Brás de Alportel afasta director do Museu do Trajo

O museólogo Emanuel Sancho foi suspenso, alvo de um processo disciplinar e uma queixa-crime por difamação. Denunciou uma alegada “ilegitimidade/ilegalidade” numa transacção de 50 mil euros.

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Emanuel Sancho tem sido o grande dinamizador da Casa da Cultura António Bentes - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio? Rui Gaudêncio
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A Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel suspendeu e mandou instaurar um processo disciplinar ao director do Museu do Trajo, no Algarve. O museólogo, Emanuel Sancho, denunciou uma alegada “ilegitimidade/ilegalidade” de uma operação bancária no valor de 50 mil euros por parte da Mesa Administrativa da Irmandade, a entidade gestora da instituição.

A câmara municipal, por seu turno, reconhece o trabalho “meritório” que o museu tem prestado à comunidade, razão pela qual atribui um subsídio anual de 20 mil euros, mas recusa-se a intervir no conflito.

Na última nota informativa do director do museu, dirigida ao provedor da Santa da Casa da Misericórdia, Emanuel Sancho - distinguido em 2021 com o prémio museólogo do ano, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia - referiu ter detectado um levantamento de 50 mil euros da conta bancária do museu.

“Uma profunda falta de conhecimento e uma interpretação errónea de um extracto bancário”, defendeu-se a Santa Casa da Misericórdia, adiantando que o dinheiro foi colocado num depósito a prazo para maior rentabilidade. Entretanto, foi decidido mandar instaurar o processo disciplinar e apresentar uma queixa-crime por difamação contra o director.

O responsável pelo museu classificou este incidente como uma “apropriação ilegítima de fundos que já é recorrente”. Situação semelhante, em igual montante, escreveu, ocorreu no passado dia 5 de Janeiro. A falta de autonomia e de liberdade, disse ainda o director, tem sido o principal ponto de discórdia entre a direcção do museu e a entidade proprietária, a Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel.

​Emanuel Sancho, em declarações ao PÚBLICO, afirmou: “Pedimos explicações sobre o dinheiro que foi tirado da conta no dia 12 de Agosto, não tivemos explicação”. Um mês depois, sublinha, foi elaborada a nota informativa, relatando um “alegado uso indevido de dinheiro do museu”. Por fim, rematou: "A minha luta é pela dignificação do museu, para que não seja um museu só para turistas, mas principalmente virado para a terra e para as pessoas”.

O provedor da Santa Casa, Júlio Pereira, eleito pela primeira vez em 2016, é bancário de profissão. Além das funções nesta instituição de solidariedade social, é também vogal da junta de freguesia de São Brás de Alportel, eleito pelo PS, exercendo o cargo a meio tempo.

Por seu lado, Emanuel Sancho tem sido o grande dinamizador do projecto cultural desde 1992, ano em que o padre Cunha Duarte lhe conferiu a direcção da Casa da Cultura António Bentes - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio​.

O presidente da Câmara, Vítor Guerreiro, disse ao PÚBLICO que a “gestão do museu compete à Misericórdia e o que se está a passar são assuntos internos”, sobre os quais não se pronunciava. A autarquia, no protocolo que celebrou para o ano de 2024, comparticipa com 20.745 mil euros/ano, pago mensalmente em tranches iguais. Porém, existe uma associação dos Amigos do Museu, com cerca de 400 membros - a maioria pertencente à comunidade de estrangeiros residentes - que desenvolveu várias iniciativas culturais e angaria fundos.

Os membros da Rede de Museus do Algarve, reunidos na segunda-feira, em Loulé, manifestaram “apreensão” pelo que se está a passar e que envolve um dos seus destacados membros.

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