Novo míssil intercontinental da Rússia sofre falha grave durante um teste
O Sarmat, que o Kremlin diz não ter comparação com qualquer arma dos inimigos, era para estar em utilização desde 2018, mas já teve vários atrasos.
A Rússia parece ter sofrido um “fracasso catastrófico” ao testar o seu míssil Sarmat, segundo especialistas em armamento que analisaram imagens de satélite do local de lançamento.
As imagens captadas pela Maxar a 21 de Setembro mostram uma cratera com cerca de 60 metros de largura no silo de lançamento do Cosmódromo de Plesetsk, no Norte do país. Essas imagens mostram danos significativos, que não eram visíveis em fotografias tiradas no início do mês.
O míssil balístico intercontinental RS-28 Sarmat foi concebido para lançar ogivas nucleares capazes de atingir alvos a milhares de quilómetros de distância, nos Estados Unidos ou na Europa, mas o seu desenvolvimento tem sido afectado por atrasos e contratempos nos testes.
“Segundo todos os dados, foi um teste falhado. É um grande buraco no chão”, disse Pavel Podvig, um analista que dirige o projecto Forças Nucleares Russas, em Genebra. “Houve um incidente grave com o míssil e o silo.”
Timothy Wright, investigador associado do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, disse que a destruição da área circundante ao silo do míssil sugeria uma falha logo após a ignição. “Uma das causas possíveis é que a primeira fase ou não se desenvolveu correctamente ou sofreu uma falha mecânica catastrófica, fazendo com que o míssil caísse na terra adjacente ao silo e explodisse”, disse à Reuters.
James Acton, especialista nuclear do Carnegie Endowment for International Peace, postou no X que as imagens do satélite antes e depois eram “muito convincentes de que houve uma grande explosão” e disse estar convencido de que um teste do Sarmat falhou.
O Kremlin remeteu as perguntas sobre o Sarmat para o Ministério da Defesa. O ministério não respondeu a um pedido de comentário da Reuters e não fez qualquer anúncio sobre os testes do Sarmat planeados para os últimos dias.
Os Estados Unidos e os seus aliados observam atentamente o desenvolvimento do arsenal nuclear da Rússia, numa altura em que a guerra na Ucrânia levou as tensões entre Moscovo e o Ocidente ao ponto mais perigoso dos últimos 60 anos. Desde o início do conflito, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou repetidamente que a Rússia possui o maior e mais avançado arsenal nuclear do mundo e advertiu o Ocidente para não ultrapassar um limiar que poderia levar a uma guerra nuclear.
Problemas repetidos
O RS-28 Sarmat, de 35 metros de comprimento, conhecido no Ocidente como “Satan 2”, tem um alcance de 18 mil quilómetros e um peso de lançamento de mais de 208 toneladas. Os meios de comunicação russos afirmam que pode transportar até 16 ogivas nucleares com alvos independentes, bem como veículos planadores hipersónicos Avangard, um novo sistema que Putin afirmou não ter rival entre os inimigos da Rússia.
A Rússia tinha dito a certa altura que o Sarmat estaria pronto em 2018, substituindo o SS-18 da era soviética, mas a data para a sua utilização tem sido repetidamente adiada.
Putin afirmou em Outubro de 2023 que a Rússia tinha quase concluídos os trabalhos relativos ao míssil. Na altura, o seu ministro da Defesa, Serguei Shoigu, afirmou que o míssil iria constituir “a base das forças nucleares estratégicas terrestres da Rússia”.
Wright, o analista do IISS, afirmou que o fracasso de um teste não significa necessariamente que o programa Sarmat esteja em perigo. “No entanto, este é o quarto fracasso sucessivo nos testes do Sarmat, o que, no mínimo, atrasará ainda mais a sua entrada em serviço, já atrasada, e, no máximo, poderá levantar questões sobre a viabilidade do programa”, afirmou.
Wright afirmou que os danos em Plesetsk — um local de testes rodeado por uma floresta na região de Arkhangelsk, cerca de 800 quilómetros a nrte de Moscovo — também teriam impacto no programa Sarmat.
Os atrasos exercerão pressão sobre a capacidade de serviço e a prontidão dos envelhecidos SS-18 que o Sarmat deverá substituir, uma vez que terão de permanecer em uso durante mais tempo do que o previsto, disse Wright.
Nikolai Sokov, um antigo funcionário russo e soviético responsável pelo controlo de armamento, disse esperar que Moscovo continue a utilizar o Sarmat, um produto do Makeyev Rocket Design Bureau.
Segundo ele, os militares russos mostraram-se interessados em preservar a concorrência entre projectistas rivais e, por conseguinte, estariam relutantes em depender do rival de Makeyev, o Instituto de Tecnologia Térmica de Moscovo, como fonte única de todos os mísseis.