Polícia da Nova Caledónia mata duas pessoas em operação ligada aos motins de Maio
Procurador afirma que os polícias foram “directamente ameaçados por um grupo de indivíduos armados”. Independentistas acusam Estado francês de “genocídio do povo Kanak”.
Dois homens morreram numa operação policial na Nova Caledónia relacionada com os motins, em Maio, contra a alteração aos cadernos de voto na província ultramarina de França no Pacífico.
O procurador regional Yves Dupas anunciou que os mortos tinham 29 e 30 anos e eram procurados por terem estado alegadamente envolvido em tiroteios com a polícia durante os motins. Ambos eram membros de uma tribo da localidade da ilha da Grande Caledónia de Saint-Louis, parte do povo nativo da região, os Kanak,
Segundo o procurador, citado pelo Le Monde, "os polícias em missão de observação tinham sido directamente ameaçados por um grupo de indivíduos armados", tendo disparado dois tiros na sequência.
O primeiro tiro disparado "atingiu um homem de 30 anos, que se apresentava como atirador solitário, no lado direito do abdómen", acrescenta o procurador, acrescentando que "o segundo tiro atingiu um homem, de 29 anos, no peito". Dois inquéritos a estas mortes foram abertos, disse ainda.
As mortes foram condenadas pela organização independentista Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista (FLNKS), cujos líderes, numa conferência de imprensa citada pelo órgão regional La 1ere Outremer, consideraram as acções da polícia "um uso desproporcional da força" e condenaram "os métodos bárbaros e humilhantes utilizados pelas forças da ordem".
A FLNKS, segundo o jornal local Les Nouvelles Calédoniennes, acusa o Estado francês de estar a fazer "um genocídio ao povo Kanak" ao agir desta forma e acusou os polícias de terem executado sumariamente os dois mortos.
Na manhã de quinta-feira, várias dezenas de pessoas manifestaram-se depois de terem conhecimento destas mortes, levando a confrontos com a polícia, noticia a La 1ere Outremer, acrescentando que a polícia utilizou gás lacrimógeneo para dispersar a multidão.
O número de mortes desde o início da violência na região aumentou assim para 13, dois deles guardas policiais da região. Vários edifícios e lojas foram danificados ou destruídos.
A violência começou no dia 13 de Maio devido à decisão do então governo central em funções liderado por Gabriel Attal de avançar com uma reforma eleitoral que descongelaria os cadernos eleitorais que se encontravam restritos àqueles que viviam na região nos dez anos antes dos Acordos de Noumea, que fundaram o actual regime autonómico na Nova Caledónia.
Os Acordos de Noumea, que se seguiram aos Acordos de Matignon, tinham como objectivo acomodar as pretensões dos independentistas, profundamente ligados aos Kanak, que partiram para a luta violenta pela independência da região durante a década de 1980, conhecida em em França como "Os Eventos".