Médicos indianos em greve retomam serviços essenciais
Médicos indianos estão em protesto desde Agosto após a violação e morte de uma colega em Calcutá. Serviços essenciais vão ser retomados por médicos em formação por causa das inundações no país.
Os médicos em greve no estado indiano de Bengala Ocidental concordaram em retomar os serviços essenciais, mas vão continuar a greve que iniciaram após uma colega de 31 anos ter sido violada e morta há mais de um mês.
O caso desencadeou uma onda de protestos de médicos que exigiam maior segurança no local de trabalho para as mulheres e justiça para a vítima mortal, levando o Supremo Tribunal da Índia a criar um grupo de trabalho sobre o tema. Agora, os médicos em formação retomarão as suas funções essenciais a partir de sábado, informou a Frente dos Médicos em Formação de Bengala Ocidental, que representa cerca de 7000 médicos naquele Estado, num comunicado divulgado na quinta-feira.
“O movimento pela justiça vai continuar em todos os hospitais estatais, mas decidimos retomar os serviços essenciais nos hospitais devido à situação de inundação em algumas partes do Estado”, disse Aniket Mahato, da Frente de Médicos Juniores de Bengala Ocidental. Ainda assim, as exigências dos médicos por melhor segurança, incluindo cobertura adicional de câmaras de vigilância, destacamento de pessoal de segurança do sexo feminino, iluminação adequada, casas de banho e espaços de descanso, vão continuar.
Um voluntário da polícia foi detido por suspeitas de estar envolvido na violação e morte de uma médica na Faculdade de Medicina e Hospital R.G. Kar, na cidade de Calcutá. O antigo director da faculdade foi detido por acusações de adulteração de provas e corrupção; e o chefe da polícia em Calcutá também foi substituído. Embora tenham sido introduzidas leis mais rigorosas após a violação em grupo e homicídio, em 2012, de uma estudante de 23 anos na capital nacional, Nova Deli, os activistas afirmam que o caso de Calcutá mostra como as mulheres continuam a ser vítimas de violência sexual no país.
A médica de 31 anos foi encontrada sem vida a 9 de Agosto, no Hospital Universitário R.G. Kar, após ter cumprido um turno de 36 horas e de ter saído de serviço para descansar numa sala de seminário. Os colegas encontraram-na seminua e com ferimentos graves. Cerca de uma semana depois, a 15 de Agosto — data em que a Índia celebra a sua independência —, milhares de médicas indianas saíram à rua para “reclamar a noite”, pedir justiça em nome da médica atacada e exigir mais segurança e melhores condições de trabalho.
Durante os protestos, um grupo de homens não identificados invadiu e assaltou o serviço de urgência do Hospital Universitário R.G. Kar, danificando também alguns veículos das autoridades presentes no local, mas a polícia dispersou-os com gás lacrimogéneo e o protesto pacífico prosseguiu. Dois dias depois, a 17 de Agosto, a Associação Médica Indiana (IMA) marcou então uma greve que paralisou os serviços médicos não essenciais em todo o país durante 24 horas. A greve juntou-se a paralisações que já tinham sido anunciadas por outras associações, nomeadamente a Federação das Associações de Médicos Residentes da Índia (FORDA)
Todos os hospitais do estado de Jharkhand, no Leste da Índia, aderiram à greve, e também houve forte adesão à paralisação em locais como Chennai, capital do estado de Tamil Nadu (Sul), ou no estado de Assam (Nordeste). Os protestos prolongaram-se ao longo das últimas semanas, mas os serviços essenciais vão ser retomados pelos médicos em formação para assegurar o socorro às vítimas das inundações que estão a atingir partes da Índia nos últimos dias.