Colômbia: atentado do ELN contra militares “encerra com sangue” negociações de paz

Presidente Gustavo Petro tinha retomado processo de paz com ELN em 2022, mas o cessar-fogo então decretado foi suspenso em Agosto e desde então voltou a escalada de violência.

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A Força Aérea colombiana retirou os feridos no ataque, quatro dos quais se encontram em estado crítico Colombian Air Force / EPA
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Um ataque contra uma base militar em Arauca, no Nordeste da Colômbia, junto à fronteira com a Venezuela, acabou, na terça-feira, com o sonho de “paz total” do Presidente Gustavo Petro.

“Um camião carregado de explosivos que feriu 27 jovens e matou dois, colocado pelo ELN [Exército de Libertação Nacional] com quem estávamos a falar de paz (...) Bem, isso é praticamente uma acção que acaba com o processo de paz com sangue...", disse Petro durante um evento em Bogotá na terça-feira, horas depois do ataque.

O primeiro Presidente de esquerda na história da Colômbia eleito em 2022 tinha como uma das suas bandeiras o fim do conflito armado de seis décadas, através do diálogo com as guerrilhas e com alguns grupos criminosos influentes ligados ao narcotráfico. Mas o cessar-fogo assinado no início de 2023 fora suspenso em Agosto pelo ELN, e desde então começou uma escalada de violência que agora atingiu o clímax.

O ataque com “artefactos explosivos improvisados” contra uma base militar na localidade de Puerto Jordán, no departamento de Arauca, foi consumado com bombas cilíndricas lançadas de rampas artesanais, acondicionadas num camião basculante estacionado perto de uma escola rural onde estavam mais de 300 crianças, numa clara violação do direito internacional humanitário, segundo relatórios do próprio Exército.

“Rejeitamos categoricamente este tipo de actos que ameaçam a vida da população civil, especialmente das crianças e habitantes desta localidade de Arauca”, indica um comunicado militar citado pela agência Infobae. As bombas destruíram o telhado e as janelas de vários edifícios da guarnição e feriram 27 soldados, dois dos quais morreram e outros quatro se encontram em estado crítico.

Após o ataque, os militares conseguiram capturar dois homens que, aparentemente, escoltavam o carro de onde foi perpetrada a acção terrorista. O ataque foi atribuído à Frente de Guerra Domingo Laín Sáenz, que opera nesta área.

“Uma mesa de negociações não pode prosseguir no meio do sangue dos nossos soldados (…) O ELN não entendeu a mensagem e a política de paz do Presidente Petro”, afirmou o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo.

Desde a madrugada desta quarta-feira, as Forças Armadas lançaram uma intensa ofensiva contra a guerrilha do ELN. “Um dispositivo especial foi implantado na área do ataque para reforçar as operações destinadas a capturar os responsáveis ​​por esta acção cobarde, que ameaça a segurança e o bem-estar das comunidades do departamento de Arauca”, disse o comandante das Forças Militares, citado pelo El Colombiano.

Segundo a Infobae, as autoridades afirmam que os principais dirigentes da Frente de Guerra Oriental do ELN e os dissidentes de um grupo associado – supostamente envolvidos nos atentados recentes – estão refugiados na Venezuela, de onde planeiam acções terroristas que procuram desestabilizar o departamento de Arauca, ligado ao controle das rotas do tráfico de drogas e de outras economias ilícitas. Como parte da ofensiva militar, foi ordenado o envio de 300 homens ao departamento de Arauca para fortalecer o controlo territorial e as travessias informais de fronteira.

Este ataque foi o mais violento de uma escalada terrorista em Arauca e Norte de Santander verificada já este mês de Setembro, após a suspensão do cessar-fogo. No início de Agosto, a guerrilha decidiu não retomar as tréguas devido a discordâncias nas negociações de paz com o Governo de Petro. Em consequência, o ministro colombiano da Defesa, Iván Velásquez, anunciou o retomar da ofensiva militar contra o ELN. Desde então, pelo menos três atentados foram registados na região, dois deles mortais para militares colombianos e um contra um oleoduto.

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